22 janeiro 2021

80 anos de nascimento de João Ubaldo

 

 

Há 80 anos nascia o escritor, cronista, roteirista, jornalista João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro. Ele nasceu em 23 de janeiro de 1941 na Ilha de Itaparica. Contava apenas um mês e meio de idade quando a família se mudou para Aparatuba, em Sergipe, onde foi batizado e viveu, até os 11 anos. Aos 17 anos ele foi selecionado, com outros três colegas da Faculdade de Direito, para fazer uma viagem a Nova Iorque, devido à boa colocação na turma e aos sólidos conhecimento de inglês, sendo que viajou para aquela cidade antes mesmo de visitar o Rio de Janeiro ou São Paulo. Formado em Direito, nunca advogou. Fez mestrado em Ciência Política na Universidade da Carolina do Norte.

 

O primeiro romance (Setembro não tem se sentido) nasceu quando ele tinha 21 anos e acumulava experiências de repórter e redator nas redações do Jornal da Bahia e Tribuna da Bahia. Aluno aplicado do Colégio Estadual da Bahia, João se revelava inquieto e erudito com os livros de William Shakespeare embaixo dos braços. Participou da revista Ângulos, da Faculdade de Direito da Bahia. Foi a um Glauber Rocha já morto que ele dedicou o seu maior sucesso literário, o romance Viva o povo brasileiro, que sete anos depois, de seu lançamento vendeu mais de 50 mil exemplares. As idas e vindas ao exterior foram para João Ubaldo mais do que viajar de mergulho cultural na literatura e nos hábitos estrangeiros. No discurso em que saudou a posse de Dias Gomes na ABL, Jorge Amado sugeriu que João Ubaldo fosse candidato à próxima vaga. Em 1994 ele ocupou uma cadeira de imortal na Academia Brasileira de Letras. Ele recebeu dois prêmios Jabuti (1971 e 1984, respectivamente, revelação como autor e melhor novela do ano). Ganhou o Prêmio Camões de 2008.

 


Dono de um estilo literário personalíssimo, em que consegue ser regionalista ao extremo e chegando sem atalhos à universalidade, Ubaldo alcançou notoriedade nacional a partir de Sargento Getúlio, publicado em 1971 e que mais tarde virou filme sob a direção de Hermano Penna. Nos outros romances que escreveu - Setembro não tem sentido (romance, 1962), Sargento Getúlio (romance, 1971), Vila Real (romance, 1979), Já podeis da pátria filhos (crônicas, 1981), Política (ensaio, 1981), Vencecavalo e o outro povo (contos, 1984), Viva o povo brasileiro (romance, 1984), Sempre aos domingos (crônicas, 1988), O sorriso do lagarto (romance, 1989), Um brasileiro em Berlim (crônicas, 1995) e O feitiço da ilha do Pavão (romance, 1997) - João não se afasta da baianidade, da brasilidade, logo, da universalidade, A Casa dos Budas Ditosos (1999).

 


O autor também fez incursões na literatura infanto juvenil, com A Vingança de Charles Tibourne (1990) e Vida e Paixão de Pandonar, o Cruel (1983). Fez o roteiro do filme Tieta, dirigido por Cacá Diegues. Escreveu junto com Geraldo Carneiro, um caso especial para a TV, baseado no seu conto O santo que não acreditava em Deus. O sorriso do lagarto foi transformado em minissérie e Viva o povo brasileiro foi levado ao teatro. Suas crônicas semanais são publicadas na revista Manchete e nos jornais O Globo (RJ), O Estado de São Paulo (SP) e A Tarde (BA). Testemunha do povo brasileiro e de suas agruras, João Ubaldo tem um conhecido perfil de boêmio - trocam os bares da Ilha de Itaparica pelos do Leblon, mas mantendo, sempre, a cordialidade do intelectual, do homem erudito, que apesar disso, não ostenta poses e está sempre perto das figuras simples. Sua intimidade com a boemia lhe rendeu homenagens como a da livraria Letras e Expressões, de Ipanema, Rio. O bar da casa foi batizado de Café Ubaldo.

 


A faceta da obra de João Ubaldo que mais se conhece, e que faz par com a imagem unifacetada que geralmente se tem dele, está ligada a um universo pitoresco, caricato, de deboche. Tal característica faz de seus livros autênticos herdeiros, se não os únicos, de um dos elementos essenciais do Modernismo, o eixo propriamente dito do herói modernista, Macunaíma, qual seja, a capacidade de rir de si mesmo. Faleceu no dia 18 de julho de 2014. No Rio de Janeiro, aos 73 anos. (Texto publicado no meu livro Gente da Bahia 2, Editora P&A, 1998)

Nenhum comentário: