Ela questiona o papel e o espaço da mulher
no mundo. Questionadora, crítica e interessada por política. Assim é a pequena
Mafalda, criação do cartunista argentino Quino (1932-2020). A menina nunca se
conformou que a mãe desperdiçasse a vida cuidando da casa. Em 2018, o selo
argentino Ediciones de la Flor publicou Mafalda: feminino singular,
reunião de tirinhas nas quais a personagem questiona os espaços ocupados e os
papéis desempenhados pela mulher no mundo. A edição brasileira, preparada pela
WMF Martins Fontes, chegou às livrarias em dezembro passado. A menina é uma
heroína contestadora, revolucionária, inquieta, que se recusa a aceitar o mundo
como ele é, procurando sempre formas de questionar e de mudar a sociedade.
Mafalda levantou temáticas importantes e
difíceis como o capitalismo, o feminismo e a desigualdade social, mas sempre
com humor e de modo acessível. Apesar de trazer a tona assuntos complexos, a
história em quadrinhos protagonizada pela menina alcançou todo o tipo de
público, de adultos a crianças
O discurso politizado de Mafalda sobre
temas pertinentes à época, não só na Argentina como em todo mundo, fizeram de
Quino um dos mais importantes humoristas gráficos do país e uma das dez
personalidades argentinas mais conhecidas em todo mundo no século 20. O
reconhecimento da relevância social e cultural da tira fez com que ela ganhasse
sobrevida mesmo após a falência do jornal que a publicava
A fã incondicional de Beatles sempre se preocupou
em combater as desigualdades e a sopa no jantar. Em várias de suas histórias,
aparece em embates com a mãe, cujo sacrifício ao lar é visto por ela como
covardia e até burrice.
Mafalda foi apresentada aos brasileiros na
publicação infanto-juvenil "Patota", em 1973, quando Quino já havia
decidido parar de desenhá-la. Nos dez anos que passou com a personagem, Quino
produziu quase 2 mil tirinhas de Mafalda. Seus livros foram traduzidos para
mais de 30 idiomas. Ela também ganhou um filme, lançado em 1982.
"Até parece que a Mafalda não falaria
das mulheres!", escreve escritora Patricia Kolesnicov no prefácio.
"Como passaria despercebido que ela não pode ser presidenta (e o Manolito,
sim, pode); que sua mãe não tem vida própria – o famoso 'o que você queria ser
se estivesse viva?' – porque casa e trabalho são a mesma coisa; que o futuro
que ela vê, olhando no fundo de bobes de cabelo, começa com o amor romântico e
termina na cozinha? Como ela não perceberia isso, se ela é uma garota dos anos
60 e, à sua volta, estão os Beatles e o Vietnã e, de repente, a 'tendência' é a
metralhadora?"
Essa antologia com as tirinhas da
personagem é de encher os olhos, a mente e a reflexão.
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