15 janeiro 2021

Mafalda: Feminino singular

 

Ela questiona o papel e o espaço da mulher no mundo. Questionadora, crítica e interessada por política. Assim é a pequena Mafalda, criação do cartunista argentino Quino (1932-2020). A menina nunca se conformou que a mãe desperdiçasse a vida cuidando da casa. Em 2018, o selo argentino Ediciones de la Flor publicou Mafalda: feminino singular, reunião de tirinhas nas quais a personagem questiona os espaços ocupados e os papéis desempenhados pela mulher no mundo. A edição brasileira, preparada pela WMF Martins Fontes, chegou às livrarias em dezembro passado. A menina é uma heroína contestadora, revolucionária, inquieta, que se recusa a aceitar o mundo como ele é, procurando sempre formas de questionar e de mudar a sociedade.

 


Mafalda levantou temáticas importantes e difíceis como o capitalismo, o feminismo e a desigualdade social, mas sempre com humor e de modo acessível. Apesar de trazer a tona assuntos complexos, a história em quadrinhos protagonizada pela menina alcançou todo o tipo de público, de adultos a crianças

 


O discurso politizado de Mafalda sobre temas pertinentes à época, não só na Argentina como em todo mundo, fizeram de Quino um dos mais importantes humoristas gráficos do país e uma das dez personalidades argentinas mais conhecidas em todo mundo no século 20. O reconhecimento da relevância social e cultural da tira fez com que ela ganhasse sobrevida mesmo após a falência do jornal que a publicava

 


A fã incondicional de Beatles sempre se preocupou em combater as desigualdades e a sopa no jantar. Em várias de suas histórias, aparece em embates com a mãe, cujo sacrifício ao lar é visto por ela como covardia e até burrice.

 

Mafalda foi apresentada aos brasileiros na publicação infanto-juvenil "Patota", em 1973, quando Quino já havia decidido parar de desenhá-la. Nos dez anos que passou com a personagem, Quino produziu quase 2 mil tirinhas de Mafalda. Seus livros foram traduzidos para mais de 30 idiomas. Ela também ganhou um filme, lançado em 1982.

 


"Até parece que a Mafalda não falaria das mulheres!", escreve escritora Patricia Kolesnicov no prefácio. "Como passaria despercebido que ela não pode ser presidenta (e o Manolito, sim, pode); que sua mãe não tem vida própria – o famoso 'o que você queria ser se estivesse viva?' – porque casa e trabalho são a mesma coisa; que o futuro que ela vê, olhando no fundo de bobes de cabelo, começa com o amor romântico e termina na cozinha? Como ela não perceberia isso, se ela é uma garota dos anos 60 e, à sua volta, estão os Beatles e o Vietnã e, de repente, a 'tendência' é a metralhadora?"

 

Essa antologia com as tirinhas da personagem é de encher os olhos, a mente e a reflexão.

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