“Pedra pisada de preto/luso, bantú,
sudanesa/precipício de beleza/reconvexa alegria/ímã de toda utopia/rima de toda
riqueza/tudo isso com certeza/só se vê na Bahia//Gente que tira alegria da
dor/no batecum do batente/todas as cores de gente/contas de todos os guias/uma
nação diferente/toda prosa e poesia/tudo isso finalmente/só se vê nas Bahia”
(Só Se Vê na Bahia, de Roberto Mendes e Jorge Portugal)
A Bahia revela os encantos das suas
manifestações folclóricas e a cultura popular para seus visitantes. Seja nas
festas de reis, no samba de roda, na marujada, festa do divino, levada do
mastro ou cavalgada. Essa variedade de atrativos faz da Bahia uma atração
mundial. Visitantes do mundo inteiro fazem uma viagem ao estado baiano para
conhecer as manifestações culturais. A Bahia tem um rico acervo folclórico,
desde o bumba meu boi, a chula, os festejos juninos, as famosas micaretas, além
das festas da padroeira de cada cidade, emancipação e do enterro do ano (ou
reveillon).
Há uma cultura dos pequenos mundos com aspectos míticos e ritualísticos presentes n as festas, folguedos e rituais religiosos populares que precisam de uma maior valorização e divulgação. A TV Educativa com a série Bahia Singular e Plural fez esse registro e difusão audiovisual revelando um conjunto de expressões culturais. O Governo do Estado com o projeto Domingueiras valorizou e divulgou as autênticas manifestações culturais populares da Bahia. Iniciado em 2003, o projeto visitou municípios baianos, onde reuniu, sempre no último final de semana de cada mês, todas as manifestações culturais e o artesanato produzido e os expõem feiras de artesanato e apresentações em praça pública. A musica local, as filarmônicas, as fanfarras e as mais diversas manifestações da cultura tradicional são evidenciadas pelo Domingueiras, que também oferece palco livre e oficinas de arte com especialistas nas áreas de teatro, música, dança e canto coral.
IDENTIDADE - Os folguedos, festas e rituais
religiosos populares funcionam como elementos de afirmação de identidades
locais. Enquanto o sertão da Bahia tem nos penitentes da semana santa um dos
elementos mais visíveis, com a religiosidade sertaneja organizada em torno da
morte e marcado por rituais para a expiação de culpas e pela sobrevalorização
da cruz em detrimento de imagens de santos, a disseminação de folguedos em
torno da devoção a São Sebastião (incluindo ternos de Reis, puxadas de mastros
e as embaixadas dramáticas conhecidas como Lutas de Cristão e Mouros) se
destaca na região do sul. Já a cultura popular do Recôncavo é coreográfica
(como mostrou a pesquisa de Nélson de Araújo), onde o povo tem um “gingado no
corpo” que vem da pisada no massapé, terra argilosa onde se desenvolveu o plantio
da cana de açúcar. Vários cantos religiosos, católicos, foram reelaborados com
as músicas profanas de letras picantes, uma forma de satirizar a corte européia
e os senhores do engenho.
Marujada é o nome de um folguedo também
conhecido como Chegança de Marujos. No litoral extremo sul (Prado) e Chapada
(Jacobina) são apresentados grupos de marujos e oficiais em uma embarcação
imaginária fazendo um cortejo pelas ruas da cidade, batendo pandeiros e tocando
violas. Enquanto nas cidades de Saubara (Recôncavo) e Paratinga (Vale do São
Francisco) são as Marujadas que apresentam as danças dramáticas quando os
marujos encerram episódios cômicos e trágicos relacionados à vida marítima.
REISADO - As festas de Reis (também
conhecidas como Reisado ou simplesmente Reis) figuram entre os folguedos
tradicionais mais difundidos no interior da Bahia e podem ser encontrados em
quase todos os municípios do estado, durante o chamado Ciclo do Natal, entre o
dia 25 de dezembro e 06 de janeiro, o dia dos Santos Reis Magos. Esse baile
pastoril é comemorado em Lençóis, Andaraí, Mucugê, Palmeiras, Barra do Mendes,
Morro do Chapéu, Piatã, Seabra, Conceição do Coité, Valente, São Francisco do
Conde, entre outras cidades. O Bumba meu Boi é um folguedo popular considerado
símbolo do folclore brasileiro e está presente no Recôncavo, no Litoral Norte,
Sertão, Chapada e Vale do São Francisco.
As Burrinhas da Bahia vão para as ruas em
diferentes épocas do ano (Reis, Carnaval, São João etc) ao som de pandeiros,
violões, instrumentos de sopro, sanfona e arrastando um animado grupo de
foliões. Podem ser vistas no Recôncavo (Jaguaripe, Santo Amaro, Saubara),
Sertão (Amargosa, Araci e Irará), Vale do São Francisco (Carinhanha e
Paratinga) e Litoral do baixo sul (Taperoá). Já o Nego Fugido é exclusivo do
povoado de Acupe, distrito de Santo Amaro. Trata-se de um teatro de rua formado
por adolescentes, filhos de pescadores. Eles encenam a luta pela libertação dos
escravos.
A Chegança de Mouros é uma manifestação
inspirada na saga marítima portuguesa e nas lutas medievais travadas pelos
europeus contra árabes, turcos e mouros. São encenadas, principalmente por
pescadores que representam marujos e oficiais de um navio. O ponto alto do
espetáculo são as lutas contra os mouros. É apresentado nas cidades de Saubara,
Camaçari (Arembepe), Cairu entre outras. Tem ainda as lutas de Cristãos e
Mouros no litoral do extremo sul (Caravelas, Nova Viçosa), folguedo estruturado
em torno dos embates dos europeus contra os árabes. As narrativas, ao contrário
das Cheganças, não são cantadas. Há um verdadeiro duelo verbal. (Texto do livro
Bahia, um estado d´alma que lancei em 2009)
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