A pandemia está mudando a nossa vida. Tudo está sendo afetado. Uma grade mudança está ocorrendo. Se é bom ou ruim só o tempo dirá. Mas esse isolamento social forçado abriu uma porta para descobertas. Mais tempo de solidão, de leitura, de reflexão. Mais “possibilidade de significar e (re) significar o cotidiano e os desafios presentes no dia a dia. Falar de si, das vivências diárias, das faltas, medos, desejos e alegrias pode nos permitir, em particular, tem me permitido transbordar e ao mesmo tempo cuidar da vida. É o grito escondido, a face não revelada, o olhar lacrimeja, os passos impedidos de desbravar o mundo. Permanecer em casa para cuidar da vida. Permanecer em casa para cuidar dos nossos. Permanecer em casa para cuidar de quantas vidas forem possíveis”.
E foi o que fez a doutoranda em Educação e
Contemporaneidade, Fernanda Priscila Alves da Silva, mestra em Educação e
Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia. Ela encontrou na poesia
a palavra para desvincular-se de seus significados habituais e alcançar
diferentes acepções, em um jogo inusitado entre significante e significado,
apresentando elementos que subvertem as funções da linguagem e a ela conferem
aspectos metafísicos que transcendem o universo das coisas palpáveis (ou
explicáveis).
Lançou o livro Poemas de Quarentena
pela editora curitibana CRV. São 44 poemas que mostram a cabeça rodopiando com “a
dor do mundo lá fora”, e espia, “o mundo visto em si, sem frestas e sem
`bichinhos´, as crianças “querendo botar a cara na rua”, “mas, ainda, hoje, de
novo vocês sorriram e brincaram, coloriram um pouco, esse nosso mundo opaco e
cinzento”, os pesadelos, o crescimento (“Quando
eu crescer, se é que ainda há tempo/Quero ser criança de novo/como estas
nascidas de mim/E como esta que habita meu ser”), o brilho da lua, o despertar da
vida, a chuva “encharca nossa vida de esperança”.
E nesse cotidiano tem o acordar o corpo,
pavores, quarentena, todos os dias, “respirar no meio do caos”, ser negra “é
silêncio e resistência”, observar a noite, solidão, noticias, janelas, luto, “a
poesia que me resgata”, vida normal, um dia de cada vez, samba, canto, palavras
(“As palavras têm dias que não vem/Esquecem-se de nos visitar/Passam ao largo”),
olhar (“Olhar para dentro/É resgatar a força que nos habita”), pausas (“O
coração também precisa de tempo”), cotidiano, quarentena,, dor, medos, máscaras
(“são sutilezas a nos recordar a humanidade perdida em nós), madrugada, por
vezes, saudade (“do mundo se restabelecendo”), licença (“Pedi licença pra tentar/E
de novo esperançar”), poesia de criança, silêncio, escrita (“Escrevo porque
desejo viver....”), esperança.
E com esperança sua poesia pode nos salvar
de nós mesmos e dos abismos que a realidade nos coloca. A poeta que se
apaixonou pela escrita ainda na adolescência e desde então não parou mais de
escrever, se divide entre o trabalho como educadora tem atuado na formação e
acompanhamento de grupos populares e na luta pelos direitos das mulheres,
especialmente como ativista e militante das trabalhadoras sexuais. Em meio à
pandemia de coronavírus, pela qual o mundo tem passado, Fernanda colocou nos
versos o sentimento de medo e angústia que todos têm vivido. Ela acredita na
arte como um instrumento para alcançar o afeto e a mobilização das pessoas em
prol da vida. Vale a pena conferir Poemas de Quarentena! Sua poesia pensa e
reflete o mundo. Feito um fenômeno da natureza, seu poema desliza feito um rio
silencioso dentro da noite.
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