Em 1989
lança Dançarino, mas o disco não aconteceu porque o ex presidente
Fernando Collor de Mello tomou o dinheiro de todo mundo no banco
(poupança) e as gravadoras ficaram sem condições de investir no
artista. Em 1992 ele decretou a união entre o sagrado e o profano na
Bahia – gravou a oração do Pai Nosso em samba reggae. “Ser Tão
Forte”, título com o qual Gerônimo batizou sua obra, baseada na
oração mais conhecida da Igreja Católica, marca o passo no ritmo
cadenciado do sincretismo religioso baiano.
A ideia
surgiu num momento de crise pessoal do cantor logo após o último
carnaval, depois de uma briga desgastante com o coordenador do
carnaval de Salvador, Alberto Tripodi. Em um teatro vazio ele começou
a dedilhar o violão, improvisando com sua banda. Gerônimo
acrescentou o refrão “ser tão forte”, entre os versos de oração
e retirou um dos pedidos do Pai Nosso, “Não nos deixai cair em
tentação”. A frase, segundo o cantor revelado ao jornalista
Biaggio Talento (O Estado de S.Paulo) não é melódica para o samba
reggae e, na sua opinião, é muito restritiva. “Acho esse trecho a
única falha do meu parceiro”, brincou, referindo-se a Jesus
Cristo, mas garantindo que em nenhum momento teve a intenção de
descaracterizar a oração e ofender a Igreja. Ele gravou Ser Tão
Forte num pequeno estúdio de Salvador, mas não lançou em disco.
Tirou uma cópia da fita original e a cedeu para veiculação da FM
Itapoan, emissora que dedicou a maior parte de sua programação à
música baiana.
Tem
composições gravadas por A Cor do Som (Dentro da minha cabeça),
Diana Pequeno (Mensageiro da Alegria) entre outros artistas, além
disso, Dança das Águas, de seu primeiro disco, está incluído no
LP Brazil Today vol.2, uma compilação de canções brasileiras
editada exclusivamente na Europa. Ele já passou uma temporada na
Europa (Espanha, França, Hungria e Portugal) e já trabalhou na área
de publicidade, criando jingles para diversas firmas e instituições.
Em abril
de 1991 em depoimento ao jornalista Eduardo Bastos ao Correio das
Bahia, o cantor e compositor detonou o esquema mafioso das rádios, a
vulgarização dos trios elétricos, o corporativismo dos blocos
carnavalescos, o anti profissionalismo de colegas e o jogo escuso das
gravadoras, entre outros componentes deste sistema vicioso,
desgastante e semi emperrado que se compactua sob o carimbo de música
baiana. “A maioria da música que se faz na Bahia é rica em
monossílabos em que medíocres competentes exploram a mediocridade”,
endureceu. “Sou um guerrilheiro que vai endurecer sempre, mas com
minha ternura, dizendo que prefiro ser cidadão do mundo, falando de
minha aldeia”, revelou.
Nessa
época ele rescindiu um contrato com a EMI-Odeon (pelo qual lançou o
LP O Dançarino, com release de Jorge Amado) por haver se recusado a
gravar o obrigatório disco anual.
Independente
e alternativo, irônico e sem meias palavras nas críticas à
indústria musical baiana: “Espero que, algum dia, minha escolha
vira uma opção musical para o povão. Quero ser sempre uma
alternativa, um colírio para os olhos de quem está com cisco e um
alívio para que, anda com dor de cabeça”, ironiza, referindo-se
ao velho império da repetição que reina no repertório
carnavalesco da Bahia (no início do ano 2000).
Dentre
suas músicas, É d'Oxum está incluída na trilha sonora da
minissérie Tenda dos Milagres. E a composição Mameto Kalunga é
uma composição feita para ajudar aos desabrigados das inundações
de Salvador e que contou com uma gravação da qual participaram
Batatinha, Riachão, Luís Caldas, Sara Jane, Chocolate da Bahia,
Lazzo, Chico Evangelista, Silvio Ricarti, Ricardo Amado e Coleta de
Omolum.
Em 1992
ele teve oito discos gravados, sendo dois na França, além do EP Eu
Sou Negão, de 1985 que vendeu 150 mil cópias. Em 1997, depois de
anos sem gravar discos, ele lançou o CD Eu Te Amarei (Continental
Warner) com apoio do governo estadual. Em 2001 lançou o independente
Rei do Lambadão, e em 2005, É do Mar.
Em 2011
lançou o DVD Maré de Lançamento. Trata-se de um registro do show
que o cantor apresentou com a banda Mont'Serrat em 2011 no Teatro
Castro Alves pelo projeto Domingo no TCA e com a participação
especial de Bira Marques com a Orquestra Afro Sinfônica. Há nove
anos ele vem se apresentando show na Escadaria do Paço, no Centro
Histórico.
Bibliografia
consultada:
BASTOS,
Eduardo. Um não aos medíocres. Salvador: Correio da Bahia. Arte &
Lazer, 08 de abril de 1991, página 1.
CRUZ,
Gutemberg. Gente da Bahia. Salvador/ Editora P&A, 1997. Página
47.
GARCIA,
Lauro Lisboa. Gerônimo cria cordel acústico neotropicalista. São
Paulo: O Estado de S.Paulo. Caderno 2, 15 de novembro de 1988. Página
4.
JUNIOR,
Lago. Gerônimo: Querendo gozar em você. Salvador: Tribuna da Bahia.
16 de novembro de 1987. Página 6.
TALENTO,
Biaggio. Pai nosso cai no samba reggae. São Paulo: O Estado de
S.Paulo. Caderno 2, 30 de agosto de 1992. Página 1.
UZEL,
Marcos. “Faço parte da resistência!. Salvador: Correio da Bahia.
Folha da Bahia, 04 de fevereiro de 1998. Página 1.
O Faraó
da Cultura. Salvador: Tribuna da Bahia. Cultura. 12 de maio de 1989.
Página 1.
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