No verão
seguinte lança um mix que trazia duas composições, “Eu Sou
Negão( Macuxi Muita Onda)” e “Jubiabá”. Além disso, ele
teve “Dança das Águas” editada no exterior através de um LP
internacional editado em 1983 por Alfred Victory, então diretor da
Polygram. A antológica Eu Sou Negão, uma declaração de orgulho
negro é citação fundamental na história da música baiana,
principalmente por ter conseguido, nos anos 1980, abrir caminhos para
que o samba reggae dos blocos afros de Salvador chegasse aos meios de
comunicação e se transformasse em um fenômeno de popularidade. Foi
uma mistura de samba reggae com roquenrol e rap. A música foi
sucesso no carnaval baiano de 1986 e sacudiu as paradas de sucesso.
Verbalizou porém um sentimento universal no refrão “meu coração
é a liberdade” que a cantora Marisa Monte aproveitou no seu
segundo disco.
Em 1987,
a Continental lançou seu terceiro elepê, Dandá, uma mistura de
ritmos e alegorias. O título é um aglomerado de significações que
vão do dialeto africano, a expressão utilizada pelas crianças em
fase de aprendizado da verbalização. É também uma raiz trazida
pelos escravos africanos transfigurada numa “mágica benéfica para
iluminar os caminhos das pessoas”. No disco, Gerônimo utiliza a
expressão com todos os sentidos possíveis, mas sobretudo para
questionar a ambição humana: “Dandá também significa questionar
quem tem para ganhar deseja mais do que tem”, explica,
correlacionando a expressão ao antigo dito popular “Dandá pra
ganhar tentem” (vintem).
“Dandá”
é um ijexá de batida lenta e estilizada, assim como “Abecedário”,
uma homenagem ao advogado dos pobres, Cosme de Farias. “Jubiabá”,
uma soca, resumo da história de Antonio Balduíno, do livro de Jorge
Amado. “Lambada da Delícia” foi outro sucesso. E “Abafabanca”
é uma música urbana do Nordeste. Para quem não se lembra,
abafabanca é um sorvete caseiro, vendido nos cubinhos de gelo e
extraído da própria fruta. Só quem podia fazer abafabanca, na
época, era os petroleiros, porque também podiam ter geladeira. O
poder aquisitivo da população era muito baixo e Gerônimo soube
captar como ninguém esta fase nessa canção.
Em 1988
lançou Gerônimo, elepê apresentando ritmos afro baianos e
caribenhos em músicas feitas juntamente com outros compositores
baianos como Dito, Batatinha, Vevé Calazans e Ildasio Tavares. O
crítico Lauro Lisboa Garcia, do jornal O Estado de S.Paulo (1988)
comentou:
“Intermediário
da intelectualidade de um Gilberto Gil ou Caetano Veloso com a
popularidade dos blocos carnavalescos de Salvador, Gerônimo se
firma como o representante da nova síntese musical baiana. Poeta e
músico por excelência ele é considerado no circuito artístico de
lá uma autoridade nos assuntos de música e cultura de conexão
'Africaribahia', muito antes de esse papo bater nos pára-lamas. A
despeito da fúria dos xenófobos contra a invasão do reggae no
carnaval, a música neobaiana não dobrou os joelhos. Comeu mais
rock, reggae, merengue, salsa e com seus derivados temperou mais
samba, forró, afoxé. O disco de Gerônimo – acentuado mas
radicalmente na latinidad que no baianismo – injeta
misso tudo em composições significativas (…) Gerônimo conta uma
de muitas histórias possíveis até na épica - “com mil imagens
glauberianas, exóticas” - Surpresas Tem o
Pelô, Fino cordel. Do bloco Muzenza, a versão mais
requintada de Brilho e Beleza
- um tributo a Bob Marley, como não poderia deixar de ter. (…) O
álbum vale por inteiro. A música neotropicalista gerada no mormaço
baiano já perdeu a vergonha da própria cara. Falta a 'modernidade'
paulista-carioca tomar a sua e desfazer o equívoco da segregação
que destina aos 'regionalistas'. Gerônimo dá o lance em Porto
dos Sonhos: 'Meu horizonte tem algo mais/eu
tenho capa e espada em qualquer sonho aportarei”.
Em 1989
foi diretor da Fundação Gregório de Mattos, na administração do
prefeito Fernando José.
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