11 junho 2012

Quadrinhos da vida real (09)


FOTO NA HISTORIETA

Diferentemente do artista maltês Joe Sacco, o francês Didier Lefèvre não desenha, fotografa, mas assim como ele, decidiu ir ao front fazer uma espécie de reportagem em quadrinhos. Com o auxílio de Emmanuel Guibert no texto e na arte; e de Frédéric Lemercier nas cores e diagramação, Lefèvre fez de "O fotógrafo" (Conrad editora) um livro de leitura obrigatória devido à sua ousada narrativa, em que mescla texto, ilustrações e fotografias para contar a guerra no Afeganistão na década de 80. Ele mostra ao mundo a história e a cultura de um país arrasado pela pobreza e pela guerra durante a invasão soviética em 1986. Na época, o país era dominado por soviéticos, e revolucionários comandavam uma guerrilha financiada pelos Estados Unidos. No primeiro álbum mostra o fotógrafo Lefèvre acompanhando uma expedição da Médico Sem Fronteiras em território afegão em plena guerra do país contra a União Soviética em 1986. Compartilhamos com ele as dificuldades de relacionamento entre os integrantes da equipe, o esforço da caminhada em terreno árido e os perigos da travessia, podendo ser alvejado pelos soviéticos.

Uma mescla das linguagens do fotojornalismo e da história em quadrinhos está nesse álbum. Trata-se do retrato de um país destroçado por uma guerra civil que não dá sinais de querer acabar. Lefévre enfrentou cordilheiras tortuosas, bombardeios soviéticos, etnias diversas e a morte sempre iminente – para eles, em missão de paz, também. O relato realista e muito ágil funciona como um diário repleto de impressões pessoais. O leitor acompanha o autor e vai se embrenhando nos pequenos detalhes da cultura árabe como se tivesse viajando na mesmo caravana que Lefévre. Conhece desde as roupas típicas até a saudação obrigatória (salaam aleikum, algo como “que a paz esteja convosco”), usadas até em situações ofensivas. Didier nos mostra um Afeganistão muito diferente do que vemos hoje nos noticiários, pois onde havia beleza e um mínimo de gentileza no coração do homem, apesar da harmonia quase impossível. Sem ter experiência prévia, o fotógrafo expõe ao leitor a metodologia de uma cobertura de guerra e também a dinâmica das ONG que prestam ajuda humanitária (MIRANDA, 2007, p.1).

O Fotógrafo é uma das principais provas de que o jornalismo em quadrinhos associado à obra de Joe Sacco já está virando um gênero. O livro lança mão das possibilidades estilísticas das fotos em preto e branco e da versatilidade dos quadrinhos para produzir um trabalho novo e relevante. O livro conta a história do fotógrafo francês Didier Lefèvre, que em julho de 1986 partiu para o Afeganistão acompanhando uma equipe dos Médicos Sem Fronteiras. Naquela época, o país estava em guerra, com tropas da União Soviética lutando contra os guerrilheiros mujahedin (que mais tarde instalaria o Talibã no poder). Lefèvre achou a experiência tão marcante que resolveu transformá-la em livro. Dividida em três volumes, a obra traz o relato pessoal da experiência de Lefévre no país, com as dificuldades e perigos enfrentados pelo profissional e pela equipe de Médicos Sem Fronteiras. A história é contada através da mistura de fotos em preto e branco do autor e quadrinhos assinados por Emmanuel Guibert, com diagramação e cores de Frédéric Lemercier. No segundo volume, a caravana finalmente chega a seu objetivo: Zaragandara, no coração do Afeganistão. Ali, em um hospital improvisado, tem início o verdadeiro trabalho da equipe médica, não apenas no atendimento aos feridos de guerra, mas principalmente na prática da medicina cotidiana em condições precárias.


No segundo volume (2008), o francês registra as atrocidades da guerra com imagens de crianças com pés queimados, homens com globos oculares destruídos por acidentes com fuzis e soldados com mandíbulas estraçalhadas por estilha

Com a publicação do terceiro e último volume, a série termina por mostrar de forma realista e única a prática da medicina em condições precárias em plena guerra fria. E mesmo sem recursos como higiene, privacidade e aparelhos de última geração, a equipe dos Médicos Sem Fronteira dá tudo de si. Neste terceiro e último volume da série O Fotógrafo, é iniciada a viagem de volta ao Paquistão. Decidido a fazê-la sem a companhia dos MSF, Lefèvre se depara com vários obstáculos: desde a incompreensão da língua local até a sua manutenção em cárcere privado por um policial paquistanês corrupto. Quase à beira da morte, Lefèvre vê sua serena Paris como um destino ainda mais longínquo.

Como nos dois volumes anteriores, O Fotógrafo 3 (112 páginas) conta essa história real por meio da mistura de fotos em preto e branco do autor e quadrinhos assinados por Emmanuel Guibert, com diagramação e cores de Frédéric Lemercier.

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