Luiz Gonzaga, o
eterno rei do baião
“Eu vou
mostrá pra vocês como se dança um baião e quem quiser aprender é
favor prestar atenção. Morena chegue pra cá bem junto ao meu
coração. Agora é só me seguir, pois eu vou dançar o baião. Eu
já dancei balanceio, chamego, samba e xerém. Mas o baião tem um
quê que as outras danças não tem...” (Luiz Gonzaga, Baião). O
Baião nasceu na verdade, de uma dança cantada, uma criação
nordestina, resultante da fusão da dança africana com as danças
dos índios e dos portugueses.
Registrado
anteriormente como baiano nas toadas do bumba-meu-boi, o baião,
segundo o historiador Pereira da Costa, é um misto de dança, poesia
e música, cujas toadas são acompanhadas à viola e pandeiro. Dança
rasgada, lasciva, movimentada, ao som de canto próprio, com letras e
acompanhamento à viola e pandeiro, originária dos africanos, mais
uma transformação das suas danças nacionais como o maracatu e o
batuque. O primeiro registro da palavra baião na discografia
brasileira foi feito na década de 1920, por Jararaca (José Luiz
Rodrigues Calazans), quando gravou o “Samba nortista”, de Luperce
Miranda.
O baião
é um gênero musical, agente agregador entre Nordeste e Sudeste do
país. Isso porque, a partir de sua modernização por Gonzagão, na
primeira metade do século 20, o baião levou o homem do sertão ao
estrelato, no rádio e no cinema.
Esse
gênero musical foi transformado em musica popular urbana no início
da década de 1940 através do cantor e compositor Luiz Gonzaga,
tido, não por acaso, como o "Rei do Baião". O baião
teria nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem o lundu na
zona rural do Nordeste, estruturando-se em seguida como música de
dança. Há também um parentesco do “arrasta-pé” do baião com
as danças indígenas, sendo uma cena folclórica a dança do
sertanejo com as mãos atrás das costas e dançando com uma perna a
frente da outra. O que se chama hoje de forró remete-se, na
verdade, a diversos ritmos nordestinos, dentre eles o baião.
SANFONA,
ZABUMBA & TRIÂNGULO - O Baião, anteriormente conhecido como
Baiano, por influência do verbo “baiar”, forma popular de
bailar, baiar, baio (baile), na opinião de estudiosos do gênero,
sempre foi apreciado e praticado no Nordeste, depois foi se
difundindo por outros estados e por fim atravessou com sucesso as
fronteiras do País. O Baião é formado dos seguintes passos:
balanceios, passos de calcanhar, passo de ajoelhar, rodopio. Como
outros gêneros, o baião designou inicialmente um tipo de reunião
festeira dominada pela dança. O folclorista Câmara Cascudo o
associa aos termos “baiano” e “rojão”.
O ritmo
binário do baião, vestido por melodias dolentes, muitas delas em
modo menor, foi devidamente estilizado, amaciado para o paladar
urbano pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga. A síntese instrumental
imaginada por Gonzaga para acompanhar o ritmo: sanfona, zabumba e
triângulo, virou epidemia. O sucesso do baião nas mãos e voz de
Gonzaga foi tão grande que ele desequilibrou o eixo da Música
Popular Brasileira (MPB) do meio para o fim dos anos 1940 até meados
dos 1950. Músicas do cantor como Baião, Asa Branca, Juazeiro,
Paraíba, Qui nem Giló, Respeita Januário, Sabiá, Vem Morena,
Baião de Dois, Imbalança, Noites Brasileiras e inúmeras outras
colocaram o Nordeste no mapa da MPB.
Para
Câmara Cascudo, o baião é a fiel expressão da música nordestina
do sertão, que nasceu sob a influência do cantochão (canto
litúrgico da Igreja Católica) dos missionários, brotando das
violas, das sanfonas de oito baixos, das zabumbas, dos pífanos dos
homens rústicos. A coreografia consiste basicamente na improvisação
de movimentos. A quantidade de músicos pode variar, mas predominam
três que tocam a sanfona, o triângulo e a zabumba. Podem fazer
parte também outros instrumentos como a rabeca, o pandeiro e o
agogô.
GÊNERO
MAIS INFLUENTE - Depois de fazer sucesso, o baião passou a ser
gravado por diversos artistas famosos como Emilinha Borba, Marlene,
Ivon Curi, Carmem Miranda, Isaurinha Garcia, Ademilde Fonseca,
Dircinha Batista, Jamelão, entre outros. As cantoras Carmélia Alves
e Claudete Soares foram aclamadas como a Rainha e Princesa do Baião,
respectivamente, e o cantor Luiz Vieira como Príncipe. Em 1950,
tornou-se o gênero musical brasileiro mais influente no exterior até
a década de 1960, quando começou a perder prestígio para a bossa
nova e o rock and roll. O baião Delicado do compositor Valdir
Azevedo recebeu diversos arranjos de maestros americanos. Mesmo com o
seu relativo esquecimento, o baião continuou sendo cultivado por
inúmeros artistas e músicos nacionais, como Dominguinhos, Zito
Borborema, João do Vale, Quinteto Violado, Jorge de Altinho. O baião
foi e é matriz de intervenções modernizadoras de Hermeto Pascoal,
Edu Lobo, Egberto Gismonti, Guinga e inúmeros outros
instrumentistas.
O baião
influenciou também gerações mais novas de artistas como o baiano
Raul Seixas, que realizou uma fusão do rock com o baião, criando o
baioque. Nos anos 90 Chico César, Lenine, Zeca Baleiro e Rita
Ribeiro dão novo fôlego ao gênero. E a perenidade do baião foi
definida por Gilberto Gil em 1976 com a composição “De Onde Vem O
Baião” cuja letra diz: “Debaixo/Do barro do chão/Da pista onde
se dança/Suspira uma assustança/Sustentada por um sopro divino/Que
sobe pelos pés da gente/E de repente se lança/Pela sanfona
afora/Pega o coração do menino//Debaixo/Do barro do chão/Da pista
onde se dança/É como se Deus/Irradiasse uma forte energia/Que sobe
pelo chão/E se transforma/Em ondas de baião/Xaxado e xote/E balança
a trança/Do cabelo da menina/E quanta alegria//De onde é que vem o
baião?/Vem debaixo/Do barro do chão/De onde é que vem/O xote e o
xaxado?/Vem debaixo/Do barro do chão/De onde vem a
esperança/Assustança espalhando/O verde dos teus olhos/Pela
plantação?/Ô, ô/Vem debaixo/Do barro do chão”.
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Um comentário:
Maravilloso artículo, gracias por tanta información sobre el "baión" (en español lo nombramos así).
Llegúe a este blog después de recordar el "Baión de Anna" una película del año 1951 con Silvana Magnano (una mujer sexy y hermosa que se puede disfrutar en youtube).
Abrazo desde Buenos Aires
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