Poetas, seresteiros, namorados, correi, é chegada a hora de se deleitar com a obra de Gilberto Passos Gil Moreira, o conhecido Gilberto Gil. Neste especial (que produzi para a Rádio Educadora da Bahia na época) vamos conhecer a trajetória do artista em cinco fases, no período de 1967 a 1987.
A
preocupação política sempre foi uma constante na obra do cantor e
compositor Gilberto Gil. Mas a sensibilidade do artista, aguçada por
ricas experiências pessoais e por uma rara sintonia com o mundo a
seu redor, levou-o a alargar e a aprofundar essa postura,
entrelaçando-a ao próprio cotidiano. Já em seu primeiro disco,
“Louvação”, ele pulava fora do convencional. Assim ele define
sua Procissão: “Olha, lá vai passando a procissão/se arrastando
que nem cobra pelo chão”. Afinal, comparar uma procissão à cobra
que se arrasta pelo chão anunciava a chegada de um poeta da MPB.
“Olha
lá vai passando a procissão/se arrastando que nem cobra pelo
chão/as pessoas que nela vão passando/acreditam nas coisas lá do
céu/as mulheres cantando tiram versos/os homens escutando tiram o
chapéu/eles vivem penando aqui na terra/esperando o que Jesus
prometeu//E Jesus prometeu vida melhor/pra quem vive nesse mundo sem
amor/só depois de entregar o corpo ao chão/só depois de morrer
neste sertão/eu também tô do lado de Jesus/só que acho que ele se
esqueceu/de dizer que na terra a gente tem/de arranjar um jeitinho
pra viver//Muita gente se arvora a ser Deus/e promete tanta coisa pro
sertão/que vai dar um vestido pra Maria/e promete um roçado pro
João/entra ano, sai ano, e nada vem/meu sertão continua ao
deus-dará/mas se existe Jesus no firmamento/cá na terra isto tem
que se acabar” (Procissão)
Desde seu
elepê de estreia, Gil mostrou que não ia se contentar com o
convencional. Tanto que já nesse disco ele surpreendia com “Lunik
9”, uma canção dividida em diversas partes, sem se fixar num
único andamento. Gil canta um tema da era tecnológica, contrapondo
a lua da lírica tradicional à lua desmistificadora pelos voos
especiais. Outra música que refletia o clima de contestação da
época, “Ensaio Geral”.
Também
desta primeira fase estão as canções “Roda”, de Gil e Torquato
Neto, e “Ele Falava Nisso Todo o Dia”. Esta última sobre um
personagem preocupado com o seguro de vida. É pelo protesto que Gil
se identifica com o despertar de uma geração. Uma canção que
causou impacto pela complexidade construtiva: “Domingo no Parque”.
O forte da música é o arranjo que Gil e Rogério Duprat realizaram,
segundo uma concepção cinematográfica, assim como a interpretação
contraponteada de Gil. Letra, música, sons, ruídos, palavras e
gritos são sincronizados, interpenetrando-se como vozes em rotação
para narrar uma tragédia amorosa, vivida em ambiente popular.
“Domingo no Parque” ficou em segundo lugar no 3º Festival da
Record, em São Paulo.
“O
rei da brincadeira (ê, José)/o rei da confusão (ê, João)/um
trabalhava na feira (ê, José)/outro na construção (ê, João)//A
semana passada, no fim da semana/João resolveu não brigar/no
domingo de tarde saiu apressado/e não foi pra Ribeira jogar
capoeira/não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar/o José como
sempre no fim da semana/guardou a barraca e sumiu/foi fazer no
domingo um passeio no parque/lá perto da Boca do Rio/foi no parque
que ele avistou Juliana/foi que ele viu/foi que ele viu Juliana na
roda com João/uma rosa e um sorvete na mão/Juliana seu sonho, uma
ilusão/Juliana e o amigo João/o espinho da rosa feriu Zé/e o
sorvete gelou seu coração/o sorvete e a rosa (ô, José)/a rosa e o
sorvete (ô, José)/foi dançando no peito (ô, José)/do José
brincalhão (ô, José)//O sorvete e a rosa (ô, José)/a rosa e o
sorvete (ô, José)/oi, girando na mente (ô, José)/do José
brincalhão (ô, José) Juliana
girando (oi, girando)/oi, na roda gigante (oi, girando)/oi, na roda
gigante (oi, girando)/o amigo João (João)/o sorvete é morango (é
vermelho)/oi girando e a rosa (é vermelha)/oi, girando, girando (é
vermelha)/oi, girando, girando...//Olha a faca! (olha a faca!)/olha o
sangue na mão (ê, José)/Juliana no chão (ê, José)/outro corpo
caído (ê, José)/seu amigo João (ê, José)/amanhã não tem feira
(ê, José)/não tem mais construção (ê, João)/não tem mais
brincadeira (ê, José)/não tem mais confusão (ê João)...(Domingo
no Parque)
Em 1967,
com o som dos Beatles na cuca e toda a ebulição da época,
contracultura e psicodelismo, Gil começa a procurar novos caminhos.
Junto a Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, o maestro Rogério
Duprat, os poetas Torquato Neto e Capinam, o artista plástico
Rogério Duarte e o empresário Guilherme Araújo, Gil é um dos
expoentes do Tropicalismo, um movimento que iria modificar
profundamente a música brasileira.
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2 comentários:
Que bom que exista a net para vc passar seus inumeros e vastos conhecimentos para todos. Parabens meu amigo e lembraças sempre ficam guardadas no coração.
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Foi o Coordenador da SEDEC SF Conde e o pude ter a oportunidade de trazer diversas turmas de formação profissional para a cidade. Trabalhei sempre com DEUS me ajudando vencendo todas as etapas de dificuldades que me eram oferecidas. Nunca desisti. Forma mais de 1000 certificados de diversas profissões como:
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FERNANDO DOS CURSOS.
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