A
socióloga e Mestre em Geografia, Antônia dos Santos Garcia realizou
uma pesquisa em 34 bairros populares de Salvador. Esses movimentos de
bairro são, predominantemente de mulheres, que buscam melhores
condições de vida não só junto ao poder público, mas agindo
diretamente em creches, escolas e outras experiências comunitárias.
Ao analisar a distribuição dos serviços públicos da cidade, vê-se
claramente a sua perversidade ao privilegiar as regiões abastadas e
brancas.
Este seu
trabalho lançado pela Edufba em 2006, intitulado Mulheres da
Cidade d´Oxum busca, sobretudo, compreender a pratica desigual
de apropriação do espaço urbano entre homens e mulheres, fazendo
uma releitura sobre a cidade a partir das relações raciais, de
gênero e de classe no espaço soteropolitano.
Antonia
Garcia analisa as mulheres das classes populares como sujeitos
sociais, buscando o resgate dos múltiplos significados de suas
práticas coletivas. Mostra ainda que a base deste movimento é
amplamente negra, como as próprias militantes, sujeitos de sua
pesquisa, se autodefinem. E foi inspirada em Oxum (orixá das águas
doces, da beleza e da vaidade feminina) que Garcia reflete sobre os
problemas apontados pelos homens, especialmente, pelas mulheres,
sujeitos de sua pesquisa, traçando um panorama atual e pertinente
sobre as relações de poder na cidade do Salvador.
As
mulheres, apesar de maioria da população, em quase todas as cidades
continuam quase sempre invisíveis. Em Salvador, por exemplo, são
53% (IBGE, 2000) de população e também maioria do eleitorado
(51%), segundo o TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Esta mesma
tendência se manifesta no Estado, onde as mulheres baianas já são
4.155.743 eleitores, com predominância nas faixas etárias que
variam de 25 a 69 anos, e um total de 4.063.500 eleitores, nos 417
municípios.
Além da
invisibilidade, permanece o tratamento desigual baseado no sexo, que
continua em todo o mundo, em todas as cidades. Os direitos civis e
políticos das mulheres são violentados. Os direitos econômicos e
sociais são afrontados. Salvador, por exemplo, se inscreve entre s
lugares mais desiguais do sistema. A pobreza crônica atinge mais de
1,4 milhão de moradores (cerca de 73% da população – IBGE 1996).
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (2001) confirma o grau de
pobreza da capital, que apresenta as menores rendas familiar e per
capita entre as 12 maiores capitais brasileiras.
ESCOLHIDA
- No século XVI, Salvador foi escolhida como sede de governo devido
à excelente localização geográfica e estratégica posição
econômica, como principal porto de carga e descarga de mercadorias
de todo o Nordeste. Localizado entre o mar e as colinas da Baia de
Todos os Santos, a capital baiana prosperou, inicialmente, com a
exportação do açúcar e depois com o comércio entre a Colônia e
Portugal.
A partir
do final do século XIX a influência de Salvador como metrópole
colonial regional diminuiu progressivamente, sobretudo na terceira
década do século XX. Entrou em declínio, ficando estagnada desde o
início do século XIX até por volta de 1950. Com a instalação da
Petrobras, na década de 1950, o Centro Industrial de Aratu na década
de 1960, e o Polo Petroquímico de Camaçari na década de 1970, a
economia da Região Metropolitana de Salvador tomou outro rumo.
Assim, o
período de 1960 a 1980 houve a politica industrial incentivada e que
foi abortada na década de 80. Com a derrocada da Sudene, o Nordeste
perdeu sua capacidade de desenvolvimento industrial. Salvador herdou
o desemprego em toda a década de 1990. O setor terciário é o mais
significativo da cidade.
Ao
concluir sua obra, Antonia dos Santos Garcia informa: “Infelizmente,
a Cidade d´Oum é sexista, racista, e classista, como todas as
cidades organizadas sob a ótica das classes dominantes. Contudo, as
mulheres de Salvador têm no símbolo de Oxum a inspiração para
torná-la a cidade das mulheres, dos homens, enfim, das pessoas
felizes e libertas das amarras da dominação de qualquer natureza”
(p.210)
Com suas
formas curvilíneas repleta de contornos, enseadas, ladeiras, curvas
sensuais, Salvador ganhou a roupagem da terra feminina, de mulheres
bonitas e atraentes, regida pelas divindades femininas mais fortes do
candomblé, Oxum e Iemanjá. “Nessa cidade todo mundo é de Oxum,
homem, menino, menina, mulher...”, diria o cantor Gerônimo. E
Gilberto Gil escreveu que “toda menina baiana tem um santo que Deus
dá. Toda menina baiana tem encanto que Deus dá. Toda menina baiana
tem defeito também que Deus dá”.
A
regência de orixás como Oxum e Iemanjá é uma característica que
fortalece bastante Salvador como cidade feminina. Elas são lembradas
com muita fé. A festa de Iemanjá é um dos maiores ritos do mundo.
A forte presença das mulheres negras em Salvador, as famosas
mulheres do partido-alto que conseguiram muito progresso, também
intensificou a ideia de Salvador terra das mulheres. Elas foram e são
símbolos de força, mulheres do povo. A maior autoridade religiosa
na Bahia foi mãe Menininha do Gantois. Toda essa história da cidade
feminina tem muito das origens e cultura da terra.
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