25 junho 2012

Gilberto Gil: 70 anos de vida (1)


Amanhã, dia 26 de junho o cantor e compositor Gilberto Passos Gil Moreira comemora 70 anos de vida. Sua arte meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra e multirracional, pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão polítoca quanto metafísica, e, portanto, arte no mais alto sentido. “Gil é o receptivo. Luz onde as sombras se assentam, e que lhes dá contorno. Clareza que abraça o mistério sem temor. O maleável. `Transcorrendo, transformando, tempo e espaço navegando todos os sentidos´. A natureza, o princípio feminino (´a porção melhor que trago em mim agora´), o que recebe. É assim que as palavras se articulam nos encadeamentos rítmicos, melódicos, semânticos de suas canções”, disse o cantor e compositor Arnaldo Antunes.

“Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo” é o título da turnê comemorativa dos seus 70 aos. Começou no Teatro Castro Alves, em Salvador (18 e 19/05), depois Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo que celebra cinco décadas de carreira, o artista feste 70 anos de vida. Na data do aniversário, 26 de junho, Gil vai comemorar com um almoço em família, no Rio. No dia seguinte, embarca para uma turnê na Europa. A primeira apresentação do concerto no exterior, na capital inglesa, Gil será acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Londres. Depois, ele e seu quarteto passam por cidades como Bruxelas (Bélgica), Montreux (Suíça), Nice e Lyon (França), Milão, Roma e Florença (Itália). Arranjos originais, o repertório inclui músicas como Domingo no Parque, Estrela, Oriente, Expresso 2222, Máquina de Ritmo, Eu não Tenho Medo da Morte, Quatro Coisas e Saudade da Bahia.

O registro ao vivo do show Concerto de Cordas & Maquinas de Ritmo vai ser editado pela gravadora Biscoito Fino em CD, DVD e Blu-ray no segundo semestre. No repertório, somente uma inédita – a balada Eu Descobri, feita originalmente para o grupo Mutantes, mas não gravada pela banda.

Gilberto Gil é uma das singulares estrelas da música popular brasileira que transcende a rótulos. Compositor, cantor, músico, intelectual, polêmico, político, místico, enfim, uma figura complexa e, por vezes, paradoxal. Esse nordestino negro, nascido na Bahia, teve papel fundamental em um dos movimentos mais marcantes da música brasileira, a Tropicália.

Gilberto Gil tem um papel fundamental no processo constante de modernização da Musica Popular Brasileira. Na cena há 50 anos, ele tem desenvolvido uma das mais relevantes e reconhecidas carreiras como cantor, compositor e guitarrista. Seus álbuns lançados mundo a fora, desde 1978, o ano do sucesso de sua performance no “Montreux Jazz Festival”, na Suíça , gravado ao vivo, até o mais recente servem de guia para muitos artistas.

Ritmos do nordeste do Brasil como o baião, samba e bossa-nova foram fundamentais na sua formação. Usando essas influências como um ponto inicial, Gil formulou sua própria música, incorporando rock, reggae, funk e ritmos da Bahia, como o afoxé. A obra musical de Gilberto Gil abrange uma ampla dimensão e variedade de ritmos e questões em suas composições, pertinentes a realidade e a modernidade; da desigualdade social às questões raciais, da cultura Africana à Oriental, da ciência à religião, entre muitos outros temas. A abrangência e profundidade nos diferentes temas de sua obra musical, são qualidades específicas deste artista, fazendo de Gilberto Gil, um dos melhores e mais importantes compositores musicais brasileiros.

A importância de Gilberto Gil na cultura do Brasil vem desde os anos 60, quando ele e Caetano Veloso criaram o Tropicalismo. Radicalmente inovativo no cenário musical, o movimento assimilou a cultura pop aos gêneros nacionais; profundamente crítica nos níveis políticos e morais, o tropicalismo finalizou sendo reprimido pelo regime autoritário militar. Ele e Caetano foram exilados de seu país, indo para Londres.

Quando ele retornou ao Brasil, ele começou a series de discos antológicos nos anos setenta: "Expresso 2222", "Gil e Jorge"(com Jorge Ben Jor), " Os Doces Bárbaros" (com os baianos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia) e a trilogia conceitual: "Refazenda" (sobre a extração de campo), "Refavela" (com ritmos da Jamaica, Nigeria, Rio de Janeiro e Bahia), e "Realce" – este último gravado em Los Angeles, firmando sua opção pela música pop, que direcionaria o desenvolvimento de sua trajetória nos anos 80. Nos anos 90, vieram: "Parabolicamará", "Tropicalia2" ( com Caetano Veloso, celebrando os 25 anos do movimento Tropicalista) e "Unplugged" ( a coletânea de sucessos gravado ao vivo pelo canal MTV). In 1997, Ele lançou o album duplo "Quanta" e em 1998, lançou "Quanta gente veio ver", em album duplo ao vivo, comemorando o enorme sucesso de uma tounee mundial e que ganhou o "Grammy Award" de melhor musica mundial. Em 2000, lançou o CD "Eu, Tu, Eles" e o CD "Gil & Milton" (com Milton Nascimento). Em 2001, lança o CD "São João Vivo".

Em 2002, lança o CD e DVD "Kaya n´Gan Daya", que depois de uma tournée mundial, tornou-se em CD ao vivo. Em 2004, lançou ao vivo o CD e DVD "Eletracústico". Eletracustico foi o resultado do concerto que realizou na ONU em N.Y. "Eletracústico" veio para atender a imensa demanda do público, depois do intervalo de três anos sem gravar, desde que assumiu o cargo de Ministro da Cultura do Brasil. Alguns dos seus sucessos estão mais intensivamente marcados pelo diálogo entre a percussão acústica e eletrônica, cantando um repertório histórico de sucessos dos anos 60 até os dias de hoje, com a alegria e entusiasmo marcantes da sua voz.

Em 2006, a gravadora Biscoito Fino relança o disco com o título de “Gil Luminoso – voz e violão”, cd que foi gravado em 1999 para ser encartado no Livro “Giluminoso – A Po.Ética do Ser”, de Bené Fonteles. O livro foi uma homenagem a Gil com mais de 50 letras do compositor, fotos e um longo depoimento de Gilberto Gil. A tournée Gil Luminoso, uma das mais belas de sua carreira, passou pela Europa e Estados Unidos.

Nesses anos de estrada, Gil tornou-se não apenas um músico brilhante, mas um compositor capaz de inspirar-se em praticamente todos os estilos de música brasileira, muitas vezes estabelecendo cruzamentos originais entre esses estilos e os ritmos africanos ou o rock. Sua música é sempre moderna e, embora sintonizada com os ritmos internacionais, jamais perde um agudo senso de brasilidade que é uma de suas características mais marcantes. As diferentes fases da carreia de Gil expressam as experiências mais típicas de sua geração. A pluralidade, a diversidade, a receptividade, a flexibilidade e o colorido de cada momento caracterizam essa trajetória artística. Sua arte meditativa e esfuziante, brasileira e internacional, negra e multirracional., pura e comprometida, é hoje, sem intenções, sem cálculo, tão política quanto metafísica, e, portanto, arte, no mais alto sentido.

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