20 setembro 2011

Limitações simbólicas aos quadrinhos (7)

Com um traço e um texto bem característicos, recheados de personagens inusitados, situações insólitas, metalinguagem e surrealismo, o trabalho de Herriman foi a base para o surgimento do Gato Félix e para todo o zoológico Disney. Seu talento era tão singular, que quando ele morreu em 1944, o distribuidor que controlava os direitos do personagem não colocou ninguém para substituí-lo, preferindo parar de publicar o personagem, “por julgar impossível prosseguir uma obra tão pessoal”, como comenta Moya (1970). Algo assim nunca ocorreu nos quadrinhos, afinal os syndicates queriam lucrar o máximo possível com seus personagens, o que gerou vários atritos com os autores que eram substituídos, uma vez que as criaturas pertenciam às empresas.

Publicado sem interrupção até a morte de Herriman, em 1944, Krazy Kat foi originalíssimo por dez anos, até o aparecimento de outro gato muito louco, Felix, the Cat 1921, de Pat Sullivan. Entre os desenhistas que, na mesma época, faziam experiências semelhantes aquelas de Herriman é necessário colocar Milt Gross e Rube Goldberg. Esses dois artistas possuem muitas coisas em comum: um estilo paródico e exagerado e uma imaginação cômica que eles devem a Frederick Opper; uma inclinação marcada por situações absurdas cujo efeito é precipitar uma reação em cadeia; e uma tendência para utilizar a linguagem com fins agressivos. Até mesmo suas carreiras apresentam curiosas semelhanças pelo número dos empregos, às vezes simultâneos, dos quais só consagraram uma pequena parte à história em quadrinhos. Sua contribuição, apesar disso, não deve ser negligenciada.


Contudo, a história em quadrinhos mais marcante desta época é Bringing Up Father, nascida em 1913 da pena genial e prolífica do desenhista George McManus e conhecido entre nós como Pafúncio. As confusões que envolvem este velho pedreiro, que ficou milionário na loteria, e sua esposa, a ex-lavadeira Marocas, monstro de feiura, de esnobismo e de egoísmo, sonha só em esquecer suas origens sociais e frequentar a alta roda, Pafúncio só tem um desejo; reencontrar seus velhos amigos no bar para uma partida de cartas e um bom ensopado de repolho.


A riqueza de invenção de McManus é inesgotável. Durante 40 anos, até a sua morte em 1954, McManus dissecou os ridículos, as manias e os defeitos da sociedade americana com um ritmo alegre e um humor jovial que fazem lembrar Eugène Labiche, ao passo que o ritmo irresistível e os rebuliços ridículos de enredo fazem pensar em George Feydeau. Levado ao teatro e ao cinema, traduzido em todas as línguas, Pafúncio foi a primeira entre as histórias em quadrinhos a conhecer a glória internacional.


Em 1916, com a Primeira Guerra Mundial em andamento, dá-se o surgimento do dadaísmo, pura radicalidade antiartística, com suas implicações políticas libertárias. No ano seguinte, a revolução russa detona todo um processo de agitação artística e proletária. De 1920 a 1930, década do pós-guerra, o quadrinho faz sucesso devido à organização dos Syndicates que distribuem para o mundo as tirinhas para serem publicadas nos jornais. E nas tiras de jornais surge a palavra mágica: continua. É a serialização das histórias obrigando ao leitor a continuar lendo todos os dias. De 1910 a 1928 (período de adaptação) existem duas correntes entre os desenhistas: a dos humoristas que vêem nos quadrinhos apenas um entretenimento e a dos estudiosos que pretendem intelectualizar os quadrinhos, explorando-os formal e narrativamente. É nesse período que surgem as aventuras de Krazy Kat (George Harriman), Pafuncio e Marocas (George McManus), Gasoline Alley (Frank King), Pieds Nickelés (Forton), Gato Felix (Pat Sullivan), Annie a pequena órfã (Harold Gray), Mickey Mouse (Disney).

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