Inicialmente, o personagem não tinha falas, apenas observava as ações de outras crianças igualmente sujas e rotas. Aos poucos, o espaço da camisola amarela passou a ser ocupado por palavras. A partir de março de 1896 os pensamentos e sentimentos do personagem – batizado pelos leitores Yellow Kid – eram expressos na parte da frente da camisola. O Menino Amarelo se manifestava pelos dizeres impressos nas suas vestes. De acordo com John e Selma Appel (1994, p.71), “toda minoria tem sido representada por algum estereótipo, tanto na imprensa como no palco”. Nos EUA do final do século XIX, tanto negros como imigrantes europeus (irlandeses, judeus de várias nacionalidades, italianos, entre outras etnias) disputavam espaço e oportunidades. As publicações de humor extraiam situações cômicas e geravam o riso em seus leitores a partir de estereótipos raciais que beiravam o preconceito e, em muitos casos, denegriam os caricaturados.
No sétimo volume da coleção Gts da INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) o professor Antonio Luiz Cagnin escreveu:
“Mas o último elemento, essencial para produzir o tão desejado impacto visual nos leitores, a cor, ainda não tinha encontrado o seu lugar. Enquanto, de um lado, em princípios de 1895, os problemas de impressão a cores já tinham sido resolvidos, de outro, o amarelo não secava bem e teimava em deixar manchas. O sucesso só aconteceu depois e acidentalmente. Foi quando, Charles Saalberg, chefe do setor de impressão a cores, optou por uma tinta amarela graxa, de secagem rápida; pegou um desenho qualquer de Outcault e, a esmo, escolheu para teste a camisola do moleque orelhudo. Naquele domingo, uma mancha de puro, vivo amarelo atraiu os olhares de todo mundo para o cartum de Outcault” (CAGNIN, 1997, p. 21).
A abordagem que Outcault fazia em suas histórias da realidade das ruas era muito criticada entre os conservadores de “boas famílias”, em função dos constantes ataques à vulgaridade de seus personagens. Essas críticas incomodavam o autor. Posteriormente, ele descobriu que muitas críticas às suas histórias estavam relacionadas à origem social de seu personagem (dos becos pobres norte-americanos) e à sua condição social. Em 1902, o autor lançou seu novo personagem, Buster Brown (no Brasil, Chiquinho), garoto de família burguesa, vestido de terno de marinheiro, acompanhado pelo cão Tige, era tão terrível como todos os outros garotos do gênero. Terminava sempre sendo punido com palmadas. Por se tratar de pequeno-burguês de classe média e ter conclusões moralistas, foi aceito pelos leitores dos jornais.
No Brasil, foi publicado em O Tico Tico desde 1905, decalcado como Chiquinho. Buster parou em 1910 e Chiquinho (desenhado por artistas nacionais) durou até a década de 50. Os personagens conheceram o sucesso através do merchanding de roupa e sapatos tipo Buster Brown. Buster Brown popularizou um sapato preto com uma tira e coleirinha com presilhas. A demanda foi tão grande que foi criado a firma Brown Shoes Company. Logo, as escolas do mundo todo adotaram o prático sapato que servia tanto para meninas como para meninos, aumentando ainda mais as vendas do produto. Buster Brown aprontava tanto quanto Yellow Kid e tinha um temperamento terrível, mas, independentemente disso, já que agora seu personagem era de uma família rica e de tradições, foi muito bem aceito, gerando lucros para o autor com os quadrinhos, roupas e brinquedos.
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