28 setembro 2011

Fachadas de Salvador a partir da década de 70:a arte dirigida às coletividades(3)

Para o pensador indo-americano Homi Bhabha todas as formas de cultura estão de algum modo relacionadas umas com as outras, porque cultura é uma atividade significante ou simbólica. A articulação de culturas é possível não por causa da familiaridade ou similaridade de conteúdos, mas porque todas as culturas são formadoras de símbolos e constituidoras de temas. Portanto, são práticas interpelantes. Nenhuma cultura é completa em si mesma, nenhuma cultura se encontra a rigor em plenitude, não porque outras que contradizem sua autoridade, mas também porque sua própria atividade formadora de símbolos, sua própria interpelação no processo de representação, linguagem, significação e constituição de sentido, sempre sublinha a pretensão a uma identidade originária, holística e orgânica.


Sobre a relação entre cultura e gestão pública das cidades, o sítio Cultura e Mercado publicou um artigo do arquiteto, poeta e artista plástico baiano Almandrade intitulado A Cultura e o Planejamento da Cidade: “A cidade moderna, administrada pela economia e por legislações que nos são impostas, é um supermercado com um estoque de produtos e tecnologias que precisa ser comercializado para gerar emprego, renda e desenvolvimento econômico. Não é mais o espaço da solidariedade, mas um campo de concentração de empregados e desempregados, de guetos, de proprietários isolados, com mínimas possibilidades de trocas de experiências entre indivíduos de grupos diferentes. É a cultura dos condomínios fechados, das praças privatizadas, do paraíso dos shoppings. Até a arte deixou de ser umexercício de liberdadecomo imaginava o crítico Mário Pedrosa e passou a ser julgada como um produto ou espetáculo do mercado cultural”.


O artista escreve mais: “A obra de arte é muitas vezes, uma superfície para o olhar pretensioso do observador arremessar inquietações e localizar fantasmas. Se quem olha inventa realidades, quem escreve imagina no texto verdades suspeitas, que apenas aproximam ou interrogam o trabalho do outro. Recomenda-se ficar em silêncio, para se escutar o diálogo dos personagens que desenham a paisagem do objeto de arte. Eles fazem parte da memória da arte. Escutar o som que vem das cores, das formas e das linhas e os acordes de um movimento brusco de um pincel, que deixa rastros que marcam a certeza e a incerteza da mão”.


No final dos anos 60, os estudantes descobriram as propriedades do muro como meio eficiente de comunicação visual. Entretanto, foram os anos 70 que iniciaram a tatuagem de cada centímetro das paredes cinzas e, dessa arte transitória, superposta, anônimamesmo quando executada por mestrese de propriedade de todos, surgiu uma nova realidade. O símbolo da vontade blindada passou a ser símbolo da possibilidade de reação. Os anos 80 consagraram uma estética própria da arte do muro, feita de desenhos com giz, máscaras, estêncil, pinturas com pincel, broxa, rolo ou spray; trabalhos em relevo ou mosaico. As exposições se sucederam tendo como tema uma imensa variedade de assuntos, principalmente relacionados com o próprio muro, seu significado e função. A base e o capitel desta estranha construção, que se segue os princípios das colunas gregas, serviram em geral como molduras para os grafites libertários. O topo, de difícil acesso, foi reservado para mensagens, títulos e assinaturas. Ao longo dos anos, milhares de viajantes, turistas, jovens inscreveram, naquelas paredes, reflexões em poesias, protestos, diários e fatos marcantes.


Os sinais rabiscados ao longo dos caminhos do interior ou nos muros das grandes cidades europeias foram estudados por especialistas em semiologia. O escritor Norman Mailer escreveu longamente sobre os grafites de Nova Iorque. Na França, após a eclosão de maio de 68, inúmeros livros trataram de estudar a linguagem da contestação, expressa através de pichações pelos muros de Paris ou Nanterre.


Para se ter uma ideia da importância do grafito como catalisador das aspirações públicas ou de conscientização de massas, a Frente Nacional de Libertação Sandinista somente conseguiu agregar simpatizantes para a causa de libertação da Nicarágua depois que, a partir de 1974, começou a pichar os muros de Manágua e Manilla, denunciando o que a imprensa estava impedida de fazer. Os chamados poetas do spray proliferaram com uma força cada vez maior a partir de 1968, na França, quando o líder estudantil Daniel Cohn-Bendit foi preso pichando paredes das universidades, na pré-revolução inspirada em Herbet Marcuse, que por sinal achava positivo o grafito. O escritor russo Maiakovski, antes da revolução em seu país, utilizava largamente a técnica de pichação. Justamente por saber da força que têm as mensagens escritas nas paredes dos lugares públicos é que existe uma rua em Beijin (antiga Pequim), onde centenas de cartazes foram colocados pelo governo para que o próprio povo se manifeste política ou literariamente, a depender do gosto de cada um, sem repressão. Em Nova Iorque, na entrada dos metrôs, o governo mandou instalar painéis gigantescos em fins dos anos 70, onde se liaPode pichar”.


Entre nós, o fenômeno do grafite, rabisco ou inscrição em paredes serviu de plataforma para vários movimentos. Na Praça da , por exemplo, local histórico, o tempo apagou as redondilhas ao longo das paredes antigas do local. A chuva carregou o luto/luta que vestia de poema concreto os tapumes menos numerosos das construções civis e/ou reformas prediais. E como suprema especialização, Salvador chegou ao requinte de abrigar um tipo popular que escrevia versos a giz nas paredes ao longo das calçadas, em incessante produção em série.


Basta olhar com mais atenção em nossas paredes para descobrir a existência quase artesanal desses recados individuais que se transfiguram em coletivos e insistem em gritar nos muros e paredes, embora abafados pelo tumulto do trânsito, sufocados pela massificação das mensagens programadas, escondidos pela concorrência colorida da publicidade em outdoors. E nesse grafite do escritor e/ou artista anônimo o protesto político, o suspiro lírico ou o grito da solidão. Na crítica humorística e gozadora ou nas pretensões filosóficas de explicar o mundo. E quem passa de ônibus, da janela observa o poeta de rua, do muro que incorpora no desenho até mesmo a palavra, enquanto elemento visual (sem esquecer o sentido). Não como simples registro do real, mas como uma recriação que isola, privilegia, transforma, instaura uma ordem nova: também um poema.


Os pichadores criaram códigos próprios de comunicação e adotaram técnicas de segurança. Afinal, aqueles que forem autuados em flagrante terão de pagar uma multa por desrespeito à propriedade alheia, segundo a Lei Municipal de Salvador. As pichações são feitas à noite, geralmente em grupos que se revejam na vigilância. E muitos levam junto ao tubo de spray um frasco com removedor para limpar as mãos após cada inscrição. Existe ainda o pichador eventual, que anda com um spray de tinta nos bolsos ou no porta-luvas do carro e, encontrando um muro propício, deixa o recadocomoo desejo voa sobre as asas da históriano bairro do Campo Grande ouo tatuar (equivalente a erotizar) a boca do mundo com o batom das palavras”, ou mesmote amei com balas nos olhose o sério é cômicosão alguns dos exemplos grafitados.


Herdeiros diretos das filosofias dos pára-choques de caminhões e dos banheiros e carteiras escolares, o pichador é também um produto das experiências estéticas da contracultura hippie. Nos Estados Unidos, na década de 60. Nos anos 70 na América Latina surgiu o projetoArte nas Ruas”, criado pelos artistas plásticos chilenos, nos muros de Santiago, durante o governo de Salvador Allende. Os artistas chilenos se exilaram em Portugal, na época da Revolução, e a experiência foi refeita no bairro de Alcântara, perto do cais de Lisboa. Nesse projeto, os muros eram pintados livremente por artistas e outros interessados, criando um painel de autoria coletiva.

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Exposição de cartum, tira e charge diverte público no Salvador Shopping

Mostra do 1º Salão de Humor da Bahia estará disponível para apreciação a partir desta quinta

A partir desta quinta-feira (22), o público poderá conferir de perto no Salvador Shopping as 45 obras, entre cartuns, charges e tiras, selecionadas para participar do 1º Salão de Humor da Bahia. Cinco baianos estão entre os selecionados, disputando os prêmios de R$3 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil para a primeira, segunda e terceira colocações, e para a obra mais votada pelo público.

Realizado pela Multi Planejamento Cultural e Fala Menino Produções, e viabilizado através do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, o 1º Salão de Humor da Bahia recebeu 141 inscrições de cartunistas profissionais e amadores de todo o Brasil.

As obras já estão disponíveis para votação no site. Os vencedores serão anunciados e premiados na abertura do I Festival Anual de Quadrinhos, que acontecerá entre os dias 6 e 9 de outubro, na capital baiana. A exposição do 1º Salão de Humor da Bahia ficará disponível para apreciação até o dia 9 de outubro, em frente à Livraria Cultura do Salvador Shopping. (Fonte: Fundação Cultural do Estado)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929). Na Galeria do Livro, em outubro: Oficinas do Mês das Crianças.

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