15 setembro 2011

Limitações simbólicas aos quadrinhos (4)

Diante do sucesso de Yellow Kid e Buster Bown, surgiram outras séries como Os Sobrinhos do Capitão (Rudolph Dirks), as revolucionárias historinhas de Wilson McCay com O Pequeno Nemo, entre outras. A briga entre os dois famosos magnatas da imprensa norte americana (Joseph Pulitzer – 1847-1911 e William Randolph Hearst – 1863-1951), guardadas as devidas proporções, prenunciou a travada no Brasil entre Adolfo Aizen (1908-1991) e Roberto Marinho (1904-2003). Em dezembro de 1897 nas páginas do suplemento dominical do New York Morning Journal de Hearst surge Katzenjammer Kids (à semelhança de Max and Moritz, do alemão Willelm Busch). Os Sobrinhos do Capitão, de Rudolph Dirks (1897) mostravam as aventuras de Fritz e Hans. Eles vivem em alguma colônia alemã da África, em companhia da mãe e do Capitão (seu pai adotivo). Eles representam a guerra contra qualquer tipo de autoridade – paterna, escolar, administrativa.


A principal ocupação dos dois é praticar travessuras, que têm como alvos principais a Mama, o Capitão (que vive na pensão da Mama) e o Coronel, um, inspetor escolar da ilha, amigo do Capitão. Muitas das aventuras envolviam as famosas tortas preparadas pela Mama e roubadas por Hans e Fritz (e às vezes pelo próprio Capitão) enquanto esfriavam na janela. A dupla de arteiros é inspirada em um par de travessos alemães ainda mais antigo (Max e Moritz), criado por Wilhelm Bush, em 1860. Rebatizados como Juca e Chico, Max e Moritz tiveram suas aventuras traduzidas no Brasil por Olavo Bilac, em 1915. Durante a Primeira Guerra, quando um sentimento anti germânico se apoderou de boa parte do mundo, os personagens tiveram sua nacionalidade mudada. Passaram a ser holandeses. Mas, em 1920, voltaram a ser alemães.


Ainda não existiam histórias desenhadas para o público adulto (...) Os editores visavam apenas os mais jovens. Daí narrativas de fadas, príncipes e princesas, bichos e crianças é que vicejavam à época. Contos educativos, de fundo moral, com meninos bonzinhos estavam na moda. No contexto reinante, porém, haveria também lugar para os peraltas, fazedores de artespor que não? -, pois as histórias resultavam engraçadas, essa a fórmula, simples, direta, sem maiores segredos. Fácil e chamativa de popularidade e de maior venda dos jornais, sem embargo. (...) A Die Mama/Mamãe/Dona Chucruts, conquanto chamasse os filhos a todo momento demeus anjinhos”, depois das peças que pregavam em todos, enchia-os de sovascostume educativo usual àqueles tempos severos. Os irmãozinhos sacaneavam todo mundo, sem limites, empregando astúcia, malícia, maldade e até mesmo sadismo. De nada adiantavam as surras, os guris não se deixavam torcer de forma alguma e os leitores, em número sempre crescente, adoravam as manifestações de rebeldia à ordem estabelecida pelos adultos, consubstanciadas em safadezas as mais diversas e inimagináveis. As crianças da belle époque muito se divertiam com as peralties da maquiavélica dupla. E quem rais ria, lógico, era William Hearst”. (SANTANA, 2006, p. 7).


Little Nemo in Slumberland (O Pequeno Nemo no país dos sonhos) fez as delícias dos leitores do suplemento dominical ilustrado do New York Herald do dia 15 de outubro de 1905 até 1911. Depois foi publicado no jornal de William Randolph Hearst, New York World sob o novo nome de The Land of Wonderful Dreams, publicado de 03 de abril de 1911 até 26 de julho de 1914. Após dez anos de ausência, ressurgiu no Herald, de 1924 até 1927. O trabalho de Winsor McCay era apresentado numa página inteira, com magníficas cores, todos os domingos. Os sonhos deslumbrantes do garoto eram mostrados em paisagens barrocas e arquitetura art nouveau. Nemo era um menino de cerca de seis anos. Os habitantes dos sonhos querem levá-lo à presença da apaixonada princesa Slumberland, filha de Morfeu. Apesar das instruções do paciente Morfeu, entretanto, Nemo acaba sempre se distraindo, atraído por sua curiosidade infantil para os mais imprevisíveis perigos.



Suas aventuras duram a exata extensão de uma página. E terminam sempre com ele despertando, na maioria das vezes, após um belo tombo. Winsor McCay antecipou o surrealismo e o psicodelismo numa época em que os quadrinhos nem sequer haviam estabelecido seus próprios códigos. Visualmente rico, criativo, jamais repetitivo, sempre inovando na distribuição dos quadros, verticais ou horizontais, usando amplamente as cores, antevendo o futuro cinemascope, as lentes 70mm, as grandes angulares, captando a vista do leitor com grandes quadros dominantes com um impacto de imagens, cores sem paralelo nos outros meios de comunicação. (CRUZ, 1990, p.2).

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