Um dos principais livros do alemão Sigmund Freud, A Interpretação dos Sonhos, foi publicado em 1900, e as ideias do psicanalista – o sonho como imagens do inconsciente reprimidas, que afloram duramente o sono – logo se popularizaram. O desenhista Winsor McCay incorporou essa premissa e a tornou a base fundamental de suas narrativas seqüenciais. McCay não teve o reconhecimento dos críticos de seu tempo, tendo sua arte completamente ignorada por eles. Depois da morte de McCay, o Museu de Arte Moderna, de New York, solicitou originais à sua viúva, para compensar o silêncio da crítica de arte à sua época. McCay está para os quadrinhos como Griffith está para o cinema – com ele, define-se uma nova linguagem no universo da indústria cultural. Ele também foi o primeiro do cinema de animação.
Outro artista a incorporar os sonhos em suas narrativas foi Lyonek Fleininger. Em 1906 ele criou para o jornal Chicago Tribune as histórias em quadrinhos Wee Willie Winkie´s World e The Kin-der-kids. A primeira acompanhava as andanças do garoto Willie em um ambiente surrealista, em que as casas têm rostos e espirram, as escarpas das montanhas exibem feições humanas e as nuvens flutuam pelos céus como se fossem fantasmas. Já The Kin-der-kids mostravam as aventuras de três meninos – o intelectual Daniel, o comilão Pie e o atleta levantador de pesos Strenous -, sempre acompanhados por Sherlock Bones, um cão “salsicha”, e por Little Japansky, uma espécie de autômato. Apesar da aceitação do público por seu trabalho, a passagem de Feininger pelos quadrinhos foi rápida e terminou em 1907, quando resolveu se dedicar à pintura (SANTOS, 2006, p.31).
Pafúncio e Marocas (no original "Bringing Up Father") contam a história de um casal classe operária que da noite para o dia se tornam multi-milionários, ganhando sua fortuna em corridas de cavalos. A maior parte do humor contido nessas histórias do início do século, se atém às tentativas da dupla de atingir uma posição na alta sociedade. Além do contexto e das histórias, as tiras de Pafúncio e Marocas são um exemplo do período da arte moderna na ilustração. As clássicas tiras do autor, George McManus, foram inspiradas na peça teatral de William Gill - "The Rising Generation" (algo como Geração Emergente) de 1893.
Pafúncio e Marocas foi a primeira história em quadrinhos a atingir repercussão mundial, só tendo sido ultrapassada em longevidade pelos "Sobrinhos do Capitão". Foi adaptada às telas, aos palcos e aos desenhos animados por seis vezes, inclusive teve a imagem de seus personagens eternizada em selos comemorativos nos Estados Unidos. Pafúncio era o melhor dos melhores, descendente de irlandeses, que sempre tentava agradar sua sarcástica esposa Marocas, usando fraque e cartola e esforçando-se para viver de acordo com a sua nova condição social. Ele tinha olhos voltados sempre para as belas mulheres e adorava programas de "baixo nível" tais como sair à noite com os amigos, frequentar "pubs" e cassinos. Os seus hábitos sempre o colocavam em conflito com a escalada social de Marocas. A filha do casal, Nora, era belíssima, porém insípida, uma verdadeira "patricinha" do início do século, muito popular entre os rapazes.
Assim, o imigrante que vai para os EUA em busca da “terra das oportunidades”, torna-se rico, mas não o livra do fardo familiar que lhe impõem uma esposa feiosa, uma filha dondoca, um cunhado preguiçoso e um filho desocupado. A figura autoritária e dominante da esposa é mostrada como um traço típico do matriarcado norte-americano, também retratado pelo cinema hollywoodiano. Os leitores de Pafúncio e Marocas deparam-se, na maioria dos episódios, com um homem que, apesar de rico, trabalha para manter o status que deu à sua família e cujos únicos defeitos são gostas de um bom charuto e, eventualmente, tentar dar uma escapadela com a secretária bonitona.
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