Ele é
um homem de riscos e de traços. Desenha desde criança, quando copiava os heróis
de quadrinhos da época. Em 1973 sofreu um acidente automobilístico que lhe
deixou imobilizado por longos períodos. Sobrava tempo. Daí começou a ler muito
e desenhar. No Rio de Janeiro, onde se encontrava em tratamento, publicou n´O
Pasquim e em alguns jornais e revistas por aí a fora. No início de 1989, com
Lage e Setúbal, começou a fazer caricaturas ao vivo pelas praias de Salvador,
incentivados por Cárcamo. Foram muitas caricaturas nessas quatro décadas,
exercícios, esforços mentais e físicos, caricaturando no traço e em cerâmica
inúmeras caras conhecidas ou desconhecidas. As esculturas em barro são feitas
com toques de muito bom humor. O vendedor ambulante, o gari, o garoto, a moça,
a amiga, o pintor, o escritor, o bêbado e todos os personagens da vida
transmitem o olhar atento e humaníssimo desse caricaturista e cartunista,
simbolizando “a apreensão do instante”
como escreveu o poeta Antonio Bandeira. Em sua galeria desfila tipos
cheios de vida e de intenções. Em 2006 ele lançou pela sua Galeria do Humor o
livro Caricaturas ao Vivo com 132 páginas da mais fina elegância do fazer
artístico, quando criador e criaturas parecem que estão olho no olho, em troca
das mais sinceras. Valtério foi um dos criadores da revista Pau de Sebo. Nessa
entrevista ele revela que além de desenhar, esculpir em barro, cuida de uma
reserva de mata atlântica onde conserta diversos objetos, pinta e borda.
Com
quantos anos você começou a trabalhar com cartum e caricatura?
VS
-
Comecei a trabalhar com cartum e caricatura aos 23 anos de idade. Quando era
menino desenhava os heróis de quadrinhos, Mandrake, Zorro, Capitão Marvel,
Super Homem, Fantasma... Na adolescência trabalhava em Banco e farreava, não
tinha tempo pra mais nada.
Como
você realiza seu trabalho na caricatura no papel?
VS - Realizo meu
trabalho à mão, sem auxílio de computador, coisa que não consigo dominar, nem
quero mais.
E na
caricatura no barro? É verdade que você é o único na Bahia que faz esse tipo de
trabalho?
VS
- A
caricatura no barro está meio de lado; ocupa muito espaço e a galeria está
repleta. Não sou o único a fazer esse tipo de trabalho na Bahia. Existem
outros. Em Lençóis tem o Dinho Sales, mas como não há mercado, ele vende quase
a preço de banana. Mas é um bom ceramista.
Fale
sobre sua relação com a arte, seu trajeto acadêmico ou sua carreira
profissional
VS
- Sempre
fui voltado para a arte da caricatura, embora aprecie e acompanhe praticamente
toda forma de arte, claro. Sou autodidata. Aprendi técnicas num curso de
desenho publicitário, no Rio, com Guidacci.
Você
morou, por um tempo, fora da Bahia, depois, fora do Brasil. Fale sobre essa
experiência
VS
- Nunca
saí do Brasil, nem pretendo. Morei 3 anos no Rio de Janeiro, de 1973 a 1976,
mais ou menos, foi quando tive oportunidade de publicar os primeiros trabalhos.
Quais
os desenhistas que você considera os mais importantes de sua geração?
VS
- São
muitos os desenhistas que considero importantes. Vou citar só três para não ser
injusto com os outros que também admiro: Ziraldo, Henfil e Laerte.
Você
acha que uma composição ser considerada caricatura tem que ser exagerada e
grotesca?
VS - Caricatura,
pra mim, é exagero: se o cabra tem o narigão, passa por cima da boca; se tem a
orelha pequena, arranca-se a orelha.. A caricatura não precisa ser grotesca ( a
menos que se trata de um político grotesco, desses aí...)
Qual
foi o seu primeiro trabalho publicado?
VS - Meu primeiro
trabalho foi publicado n’O PASQUIM, em 17-12-74. Trata do péssimo atendimento
médico nos hospitais públicos: “Os pais chegam com o bebê doente, desmaiado,
nos braços e o médico friamente pergunta:
-Trouxe as guias?”
É
possível para um artista sobreviver trabalhando apenas com artes graficas?
VS
- Estou
fora do mercado, mas acho que é possível, sim, sobreviver trabalhando apenas
com artes gráficas. Pra comer queijo tem que ser bom. Eu como meu feijão com
arroz graças à aposentadoria do Banco do Brasil, onde trabalhei.
Fale
um pouco da origem da Galeria do Humor e suas atividades
VS
-
A Galeria de Humor foi criada em 1987
com a parceria do saudoso Lage. O
objetivo principal era reagrupar os desenhistas de humo da Bahia.
Realizamos cursos de cerâmica e de desenho, várias exposições e havia sempre
mostra de trabalhos dos baianos. Agora a Galeria funciona com hora marcada pra
visita, mas ninguém visita. O povo perdeu a graça...
Quais
são suas principais influências?
VS
- Minha
principal influência foi de Ziraldo. Cheguei a copiar o livro “Jeremias o Bom”
(de cabo a rabo) para começar a fazer cartuns.
Qual a sua opinião sobre o mercado das
artes gráficas hoje? Há realmente uma crise?
Você
utiliza a Internet como ferramenta de trabalho?
VS
-
Utilizo a internet somente pra ver as bobagens do face-book e pra postar umas
coisinhas...
Quais
os projetos que você está trabalhando atualmente e quais são seus planos para o
futuro?
VS
-
No momento faço caricaturas ao vivo pelos bares e em eventos como:
aniversários, casamentos, congressos... Além disso, cuido de uma reserva de
mata atlântica pros lados de Itacimirim, conserto cadeira, assento porta, janela, conserto torneira, pinto e bordo. Meu plano para o futuro é não morrer, mas
Deus é que sabe...
3 comentários:
O meu plano também é esse. Espero lograr êxito e, quem sabe, um dia visitar a Doce Vida.
Conheço essa pessoa maravilhosa que é Valterio desde a época que éramos vizinhos na Bica do Rio em Salvador. Faz trabalhos belíssimos e é também um grande humorista. Grande abraço amigo
Valterio meu grande abraço amigo!!
Ainda irei voltar na Doce Vida em Itacimirim Bahia. Abraços
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