Cartunista, animador e músico Caó
Cruz Alves iniciou profissionalmente como cartunista nos anos 70. Começa a
publicar em 1977 a tira O Porco com Cauda de Pavão. No ano seguinte reúne em
coletânea. Realizou exposições individuais e coletivas, publicou na revista Pau
de Sebo e editou durante muito tempo o fanzine La Tanajura. Seus desenhos têm
participado de exposições e festivais pelo Brasil e exterior. Começou a
carreira de animação com o filme Coisinha, que venceu o prêmio do Juri Popular
no Festival 5 Minutos em 97, no ano seguinte venceu o primeiro prêmio do
festival com a animação “Ouviram Alonzanfan” e ainda produziu “Voto
Roberfino” e “Dançando na Europa”.
Formou-se através de oficinas de
cinema e animação no Brasil. Durante oito na os morou em Paris onde aprimorou
seus conhecimentos no campo da animação e quadrinhos na escola vinculada ao
National Board of Canadá. Como cartunista seus trabalhos têm sido publicados em
livros, jornais, revistas de circulação regional, nacional e internacional e em
exposições individuais e coletivas. Ganhou vários prêmios com seus filmes de
animações em diversos festivais no Brasil, em como tidas exibições de seus
filmes no exterior. Em seu trabalho, Caó explora os efeitos estéticos do
social. Seu humor é refinado, usando e abusando da sutileza de jogos de ideias.
Vamos conhecer a sua trajetoria e o que pensa a respeito das artes gráficas:
Para
começar, conte como entrou no mundo dos quadrinhos, como leitor e profissional?
Quais os sentimentos pessoais e decisões profissionais que te levaram a essa
escolha?
CAÓ
- Desenho desde
pequeno influenciado por minha mãe que era costureira e prendada nas artes.
Ajudava a fazer os moldes em papel de embrulho, então adquiri habilidades em
usar o lápis, a régua e a tesoura. Nas sobras do papel pintava e bordava, ou
seja desenhava. Na escola continuava desenhando, mas nunca me considerei
um bom desenhista apesar das professoras e colegas elogiarem bastante. Algo era
diferente, apesar dos elogios as pessoas riam. Eu desconfiava que o motivo era
por ser mal feito. No final dos anos 1960 meus irmãos me apresentaram o jornal
o Pasquim, nesse momento caiu a ficha e a partir daí comecei a considerar que
meu desenho era de cartunista. A pergunta era: como me tornar um profissional?
No ginásio meus desenhos chamou atenção do professor de francês que me
contratou para reproduzir as ilustrações das páginas do livro em cartaz/painel
para ilustrar as aulas de francês. Através desses desenhos, comecei a ser
conhecido em outras turmas do colégio e ganhar dinheiro. Desde cedo aprendi a
gostar de ler e devorar tudo que aparecia em casa, desde os quadrinhos, às
revistas de fotonovela, Manchete, Cruzeiro, Fatos e Fotos, os cordéis e
os Almanaques anuais distribuídos nas farmácias. Na adolescência, entedi que
para ser desenhista e criador era uma obrigação ler todos os livros publicados
no planeta. Como isso era impossível optei pelos clássicos, então ia para as
bibliotecas e devorava Tostoy, Dostoiévski, Proust, Machado de Assis, Guimarães
Rosa, Fernando Pessoa, entre outros da literatura nacional e universal. A
prática da leitura é um fator importante para a formação de cartunista.
Há
algum desenhista, roteirista ou qualquer outro artista que lhe inspira ou inspirou?
CC - Sim vários: Luis Sá, Millor
Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Lage, Siné, Wolinski, Spielberg, Walt Disney,
Claire Bretecher, Avoine, Sampé, Reiser, B. KLIBAN, Quino, Charles Schuz, entre
outros.
Qual a conduta que um profissional de
quadrinhos deva seguir?
CC
- Após as
influências, respeitar o seu próprio estilo.
Uma
das qualidades que mais chama a atenção no seu trabalho é o seu traço
cartunistico, humor e lirismo poético. Como você desenvolveu sua técnica de
desenho? Você cursou alguma escola de desenho ou é autodidata mesmo?
CC - Autodidata mesmo.
Um
de seus primeiros trabalhos foi o Porco com cauda de pavão. Fale um pouco dele
CC - O Porco com Cauda de Pavão foi
criado em 1977, em forma de tiras de quadrinho nas páginas do jornal A Tarde.
Dois anos depois saiu em forma de livro apresentado pelo jornalista e critico
de quadrinhos Gutemberg Cruz. O personagem com seu universo de personagens
fantásticos “grosseiros e elegantes” foi um sucesso na época. O livro é
considerado pioneiro em publicação no gênero quadrinhos na Bahia. Atualmente, O
Porco com Cauda de Pavão e os personagens que convivem com ele foram adaptados
para o mundo do circo e serão apresentados ao publico em forma de série animada
e musical. Não posso falar mais detalhes sobre isso.
Você
ficou conhecido por produzir desenhos animados. Como começou essa atividade?
CC - Assistir seus próprios desenhos
se movimentando é um sonho de todos desenhistas. Desde pequeno venho fazendo experiências
em caixa de papelão e papel celofane, lâmpada e lente. Era uma tentativa de
fazer um projetor de cinema. Os resultados nunca foram satisfatórios, mas
serviram para quando adquiri uma câmera e projetor super-8 nos meados da década
1970. Inspirado também nas experiências do animador escocês radicado no Canadá,
Mac Laren, aproveitava os filmes mal revelados para desenhar na própria
película. Os resultados eram cheios de surpresas e psicodélicos. Alguns anos
depois fui trabalhar na equipe de Chico Liberato no filme Eram Opostos. Nos
anos 1980, morando em Paris, fiz alguns cursos de animação onde pude realizar
várias experiências. Em 1997 fiz meu primeiro filme de animação chamado
Coisinha. Em 1998 fiz Ouviram Alonzanfan que acabou ganhando o primeiro lugar
no festival A Imagem em Cinco Minutos. A partir daí comecei a montar meu
estúdio de animação, ampliando meus conhecimentos nessa área e investindo em
equipamentos. Já fiz cerca de 40 filmes curtas e muitos prêmios nos festivais e
mostras pelo Brasil. Recentemente concluí uma serie de 26 episódios em animação
chamada Natureza do Homem. Essa série é patrocinada pela Ancine e TVE.
Na
sua opinião, qual a razão de os quadrinhos nacionais, fora os infantis e alguns
outros não conseguirem vingar comercialmente no nosso mercado?
CC - Acho que isso se deve a falta
de investimentos das editoras e distribuidoras nacionais em quadrinhos
nacionais.
Para
o artista nacional, qual o caminho para arranjar trabalho nas editoras
estrangeiras?
CC - Primeiramente ter uma boa ideia.
Transformar a ideia em projeto, em seguida apresentar nos eventos, festivais,
salões e mostras internacionais do gênero. É necessário fazer um investimento,
desde ao conteúdo apresentado, ao deslocamento, hospedagem, falar outra língua,
etc. A internet pode facilitar bastante alguns passos preliminares para chegar
ao conhecimento nas editoras.
Como
você vê o mercado nacional hoje? Tem futuro?
CC
- Ainda
caminhando em passos lentos, mas tem futuro, sim.
Como
foi a experiência de morar por um período de tempo na Europa (durante oito anos
morou em Paris). Teve contato com os artistas de lá?
CC - Foi uma experiência muito
enriquecedora, apesar do frio, deu para aprimorar meu estilo de desenhar sem
tremer. Participei de varias exposições, festivais, mostras de quadrinhos e
animações a exemplo de Angouleme, Epinal, Saint Just-Le-Martel, Annecy, Lilly,
etc. Isso me permitiu conhecer muitos artistas consagrados.
Seus
trabalhos foram publicados em diversos países...
CC - Tenho trabalhos espalhados por
aí...
Já
ganhou vários prêmios...quantos?
CC - Vários prêmios... quantos?
Perdi a conta. O mais importante para mim foi o de Tókyo (Japão) organizado
pelo jornal YiomiuryShimbun, em 1983.
O
que você tem lido nos últimos tempos?
CC - Tenho lido muitos livros,
principalmente bibiografias... A História de Vincent Van, de Barbara
Stok, as Cartas de Van Gogh a Seu irmão Théo, Lampião o Mata Sete, de
Pedro Morais, Diário de um Louco, de Salvador Dali, Felini par Felini, de
Federico Felini, entre outros.
Tem
algum título ou personagem favorito?
CC - Charles Chaplin
Quais
seus desenhistas prediletos (cartunistas, chargistas, caricaturistas e
quadrinistas) ?
CC - Jaguar, Sampé, David levine,
Steinberg, Millor Fernandes, Ziraldo, Copy, Juarez Machado, André Fraçois,
TomiUngerer, Charles schulz, Desclozeaux, Quino, entre outros.
Como
está seu trabalho em animação com o avanço da tecnologia computadorizada?
CC - Sem nenhuma dúvidas, a
tecnologia digital de informática tem facilitado imensamente a produção de meu
trabalho em animacão. O grande desafio é ficar atento para não se deixar cair
nas "armadilhas" dos recursos que o programa oferece e
descaracterizar seu trabalho de forma pasteurizada.
Que
conselhos você dá pra quem quer trabalhar com cartuns ou HQs?
CC - Ler e desenhar bastante
Quais
os projetos em que você está trabalhando atualmente e quais seus planos para o
futuro?
CC - Além da série de animação, Natureza
do Homem, tenho ilustradoe criado projeto gráfico para muitos livros infantis e
para adulto. Acabei de fazer um livro de cartuns intitulado Almofadas com Pelos de Gatos, com 64
páginas de desenhos inéditos. O livro é dirigido a um publico de todas as
idades e cidadão do mundo, será lançado em breve de forma alternativa como
sempre caracterizou meu trabalho.
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