Ele canta sua aldeia e mostra ao mundo.
Flávio Luiz é muito conhecido pelas tirinhas em quadrinhos de Jab, um lutador, ,
um cão dálmata, atrapalhado com seus próprios limites; Rotta 66, um cacto e uma caveira de bisão em
algum lugar da estrada mais americana: a cativante e musculosa Jayne Mastodonte;
Au da Bahia, o capoeirista; o cangaço futurista do Cabra, e muito mais. De 1993
a 1995 foi chargista e ilustrador do Jornal Bahia Hoje. Participou de diversos
salões de humor nacionais e internacionais, recebendo vários prêmios. De 2000 a
2008 foi ilustrador do Correio da Bahia, depois chargista da revista Metrópole
e do site www.oaranha.com.br. Seus trabalhos fazem parte dos acervos de
diversos museus nacional e internacional. Ele está sempre batalhando e
aprimorando seu traço. O objetivo é conquistar um público leitor de histórias
em quadrinhos carente de personagens tipicamente brasileiros. O Blog do
Gutemberg conversou com o artista sobre o projeto, lançamento, mercado
editorial, suas leituras entre outros assuntos que você confere na entrevista
abaixo.
Como começou sua
paixão pelos quadrinhos e qual é a primeira revista que você lembra-se de ter
lido?
FL - Desde pequeno. Na
verdade, não lembro qual foi exatamente a primeira revista que leram pra mim, mas
lembro que com 5 anos, no colo de meu irmão mais velho, fui com ele comprar
acarajés e preferi uma SUPER X de maio de 1970 da EBAL com aventuras do Namor e do Hulk do que o
Acarajé! kkkkk. Lia muito Disney, Hanna Barbera, Herois da tv ...
Você já desenhava ou
descobriu que poderia desenhar depois que começou a ler quadrinhos?
FL - Já desenhava. E o
engraçado é que já desenhava cartoons. O
Sol tinha olhos e sorriso, as arvores, casas etc...Isso com 3 anos !
Quais são as suas
principais influências desde desenhistas, filmes, músicas, o que o Flávio Luiz
trouxe do mundo para o seu traço?
FL - Will Eisner mais
no storytelling do que no traço 9 aprendi a fazer HQ graças ao seu livro
Quadrinhos e Arte Sequencial, Jack Davis, a turma antiga da Revista Mad, Ibanez
de Mortadelo e Salaminho, Luke Lucky do Morris, Diversões Juvenis, Pererê do
Ziraldo, Gabola do Perotti, Kid Farofa
do T K Ryan (amo tanto que releio
varias vezes ao ano e rio sempre - tenho até
tatuado no calcanhar) , Arca de Noé (do mesmo desenhista do Recruta Zero
assinando como Adisson ), Snoopy, desenhos animados Hanna Barbera, seriados de
humor como agente 86,os Monstros...E a revista Gibi Semanal de 1974 que me
mostrou muitas dessas influencias citadas acima! Filmes: Superman, o primeiro, Os
do Monty Phyton, " A festa do Monstro Maluco” - baseado nos desenhos de
Jack Davis, Jackson Five, o desenho animado
com ele desenhando, Vila Sésamo, Enio
e Beto, seriado do Batman anos 70. Musicas vão de Bach a trilhas sonoras de
filmes e seriados. Homem de 6 milhões de dólares e mulher bionica !
Qual é o seu tipo de
quadrinhos preferido? Europeu, japonês, estadunidense ou consegue tirar de
todos eles algo proveitoso?
FL - Gosto um pouco de
quase todos os tipos. BDs, principalmente, e comic americano (principalmente
Jonh Byrne). Na grande totalidade, coisa antiga. Tirinhas, fiquei no Calvin e
Haroldo e Mutts .. De lá pra cá, não
tenho nem conheço mais nenhum favorito em termos de tiras ... De Mangá, só gostei do Lobo Solitario e Samurai
Executor até hoje! O Maisntream atual americano, teimo em querer gostar de
algo mas pouca coisa nova me encanta. Geralmente
compro, leio e vendo kkkk ...Já dos Europeus, sempre adquiro alguma coisa e a
lista nunca se esgota..rsrs!!Tanto classicos como novidades
Você faz charges,
cartuns, caricaturas e quadrinhos. Dessas artes gráficas o que mais lhe apaixona?
FL - A que estiver
fazendo no momento. Adoraria continuar a Rota 66, e manter uma constância maior
no Au, no Cabra...Charges, acho que fiquei pra atras .. Meu humor de charge é
muito politicamente incorreto para esses tempos emponderados/milenials ...Pra
esse ano vou lançar o Agente Sommos ( um titulo de Humor que é
o que faço melhor segundo quem acompanha meu trabalho). Minhas
caricaturas são mais no corpo a corpo ...Não são tanto para ganhar
prêmios...rsrs
Vamos falar das suas
viagens. Para onde os quadrinhos lhe levaram e o que aprendeu com isso?
FL - Angouleme em 96, 2006,
2012 e 2016 , com direito a convite, stand
no Marche des Droits et Merchandising
em 2016, da primeira editora brazuca no Festival, a minha PAPEL A2, palestra
sobre HQ Brasileira ( levei mais de 30 títulos de autores diferentes -inclusive
a Tudo com Farinha, produções da Quadro a Quadro do Lucas Pimenta, Hector, Cedraz
etc ), entrevista pra tv francesa, pra radio france internacional . ..Nada
relevante por aqui,né? Fazer o quê ...rsrsrs ! Ano passado estive em Beja Portugal , aa convite também com exposicão
de originais Aú, O Cabra, roda de capoeira, palestra, livros esgotados etc ...San Diego em 96, eu não tinha sequer um
comic publicado mas fui tratado como profissional por conta do portifa, Barcelona
(onde morei por um ano e trabalhei com caricaturas, tive exposicão também...). O
maior aprendizado e que, lamentavelmente, não vejo por aqui, como se deve é que
a união faz a força.
Quantos prêmios já
recebeu, algum tem um sabor mais especial?
FL - Acho que uns 40 de 1989 pra cá... Os mais importantes, os
2 Piracicaba em Cartoon e Charge (1994-2000) respectivamente, Os 3 HQMIX pelo meus quadrinhos Jayne
Mastodonte ( 99 -Independente) ,O Cabra
( 2011 -Independente) e o Aú#2 (
2015 -Infanto Juvenil) o Berimbau de
Ouro pelo Aú em 2015 em Reconhecimento e
Valorização da Capoeira e um em Malmo na Suecia, mas que "comeram" 25 por cento do
valor em imposto para depositar
aqui...rsrsrs.
Fale um pouco de cada
personagem que criou: Rota 66, Jab, Au, Jayne, o Cabra...
FL - Rota 66-Minha
tentativa de ingressar no mercado americano de tirinhas...rsrsrs! Pretencioooso...
Publiquei durante 4 anos pro Correio da
Bahia. O Jab, minha outra tirinha, ficou nos 3 meses iniciais apenas ...o livro
de tiras esgotou ...Foram 5 mil exemplares.
Rota e do Jab. Jack e Nat, uma caveira
de bisão e um Kactus vivem àa margem da estrada convivendo e esculhambando com
os diversos tipos que surgem ! Jack é uma caveira "sem cabeça" e Nat
(em homenagem ao Nat King Cole) um Kactus canastrão. Muito sarcasmo e ironia, muito
humor... Será que hoje tem espaço no universo de tirinhas pretenciosamente serias
e cínicas que agradam a moçada atualmente? Tenho minhas dúvidas...
O Jab é um cachorrinho que sonha em ser
campeão de boxe...Tirinha de humor despretencioso.. Jeff Smith questionou se o
mundo de tiras precisaria de mais um cachorrinho engraçado, quando mostrei pra
ele as que tinha na época...Ficou só nos 3 meses iniciais mesmo...Já a Rota
66,ele ficou curioso... Na época só tinha esboços...1996.Só consegui publicar
no Correio 3 anos depois. Para os jornais do sul que mandei, não tive um retorno sequer...Faltava-me
contatos...rsrsrs
Jayne - Uma "emponderada "
antes disso ser moda. rsrsrs!Humor , Aventura e critica à retratação das heroínas
femininas na época (anos 90) -Bélicas, solitarias
...A Jayne não é nada disso! Rsrs Uma mistura de Arnold Schwaznegger e Jayne
Mansfiled !!!kkkk! Humor totalmente influenciado pela Revista Mad...Vivem
pedindo outros números mas, hoje o humor mudou ..Acho que seria um risco resgatá-la...rsrsrs.Talvez,
morando fora do Brasil..rsrsrs!
Aú. Minha BD Baiana...Totalmente Sotero-Franco-Belga...Foi
recomendada pela Sec de Educação do Estado de São Paulo. Os dois números
venderam uns 10 mil exemplares até agora... O primeiro teve 3 tiragens
esgotadas. Em Salvador vendi uns 200 exemplares no total ! Queria poder vender
mais !rsrsrs
O Cabra - Um cangaço futurista, feito
para adultos. Uma proposta nova de abordar a cultura do cangaço. Ao lado do Aú
e do Historias Paulistanas, um dos trabalhos de maior sucesso comercial dos
meus titulos .
Como foi o processo
de criação do Aú? O que levou a criar um capoeirista?
FL - Sempre acreditei
que ser universal é falar de sua aldeia.
Meu xará e Mestre, Flavio Colin, já
defendia a valorização da nossa cultura, nossos tipos. Eu fiz uns dois anos de
capoeira nos anos noventa. Enfim. Acreditando nisso tudo, achei que daria certo
um personagem afro brasileiro que não precisasse ser rico e jogador de futebol
para virar personagem de HQ !rsrsrs Ainda espero lançar novos álbuns do Aú
.Historias não faltam .!
Que material você usa
para desenhar e arte finalizar?
FL - Sou
jurassico!Rsrsrsrs!! Ainda faço todos os desenhos à mão livre, com pincel, brush
pens e rotuladores descartáveis e
nanquim sobre papel. Para pintar, uso um Cintiq de 18 polegadas. O programa é o
Photoshop e/ou ClipStudio Paint.
Qual a sua opinião
sobre os quadrinhos na internet?
Acho que vieram para ficar, são
totalmente válidos pois os tempos que vivemos são de "dar scrool" em tudo ....rsrs, ajuda
muito na divulgação mas não tenho a menor paciência e habilidade para ler, até
o fim, uma pagina que seja.rsrsrs!!Não consegui me acostumar... Ainda prefiro
as versões impressas. Tenho todos meus títulos disponibilizados para
plataformas online, mas, sempre vou preferir o Gibi impresso, o cheiro de papel
e tinta, o gibi debaixo do braço...
O que você anda lendo ultimamente?
FL - Muita coisa
europeia, alguns independentes brasileiros e americanos e relendo muita coisa
antiga. Kirby, Byrne, Kubert, Aparo ...
Não é tudo que toh lendo/relendo, mas
olha só. Recomendo todas! Les Spectaculaires, Ar -Men de Lapagge. Le Bourreau, Qualquer
coisa de Pierre Alary desenhando. O novo Lobo Solitário, Lobster Jonhson e
Rocketeer (encadernados da Dark Horse e IDW). O Ominbus do Torpedo. As antigas
Batman do Jim Aparo ,Le Spirou com diversos autores, Luke Lucky do Matthieu
Bonhomme, Tirinhas do Rodrigo Brumm, qualquer coisa do Gustavo Duarte, dos gêmeos
Magno e Marcelo Costa, Eduardo Ferigato, Rafael Dantas, os títulos que a Quadro
a Quadro tem publicado, Future Quest, essa releitura dos personagens Hanna Barbera
pela DC...
Fale um pouco sobre o Messias, criação sua com o
Gonçalo Junior.
FL - É um trabalho que
lamentavelmente teve pouca divulgação. Gonçalo Foi o primeiro a propor uma
linguagem sem texto para historias, totalmente nacional na narrativa, nos personagens
... .Coisa que depois se popularizou. Levou mais de um ano para eu dar conta
das paginas, pois tive sérios problemas de saúde aliados a morte de meu
pai na época, mas acabou que depois de
quase um ano pronto, na mão da editora,
com a questão do PCC em São Paulo, foi a obra certa para o momento
certo. Não sei se Gonçalo teria interesse em republicar pela Noir. Eu sou muito
centralizador com meu trabalho, mas aceitei desenhar o roteiro de Gonçalo, pela
confiança no caráter como pessoa e profissional e saber do domínio técnico
deste em relação ao roteiro e ética. Goncalo inclusive a quem reputo muito da responsabilidade pela
valorização do Quadrinho Brasileiro depois do obrigatório Guerra dos Gibis que
seja dito!...Agora com a Noir , é outra "voadora" que ele dá nos peitos do mercado !!hehehehe!!
E qual a sensação de
ter seus trabalhos como parte dos acervos do Museu of Cartoon Art – Boca Raton
– Flórida, Gibiteca do Henfil – SP, Word & Pictures Museum – Massachussets.
FL - Fico feliz, tenho
todos os títulos também no Museu de la BD em Angouleme...Acho fundamental para
quem respeita os quadrinhos como eu e é uma forma de eternizar um trabalho
feito com tanto sacrifício...Além de ser um baita reconhecimento por parte de
quem vive a nona arte por tantos anos como os caras de fora ...
Como você analisa o
atual cenário dos quadrinhos independentes? O mercado de quadrinhos no Brasil
vive uma fase, isso está refletindo na produção independente também?
FL - Nunca se publicou
tanto no pais. Hoje está bem mais fácil do que quando comecei, existe bem mais profissionais, escolas, publico consumidor, editoras
interessadas, blogs, pesquisadores, fãs, linhas de HQ para todos os
gostos...Inclusive pros que não tem gosto nenhum..kkkkkkk!!Tá bacana. Olha a
força e o tamanho de uma CCXP. Acho que a existência de um evento como esse, resume
tudo!
Você lançou o Aú 2 em
forma de financiamento coletivo. Foi a primeira vez que você fez dessa forma?
Valeu a pena?
FL - Foi muito
desgastante...Consegui à duras penas, tive que trocar parte do valor adquirido
em serviços publicitários por menos da
metade que costumo cobrar para poder fechar o valor buscado ....Mas conseguí. A
Plataforma Kickante me deu o melhor suporte possível e recomendo ! Acho que
tentando mais uma vez, farei muito diferente... Tentarei explicar melhor como
funciona para a infinidade de pessoas que colaboraram com pouco e que até hoje
jogam na cara, como se não tivessem tido sua recompensa...Saca? Mas é algo que
tem funcionado para a maioria e que veio
pra ficar.
É fácil ser um
profissional de HQ no Brasil? Quais são as maiores dificuldades?
FL - Hoje está mais fácil
do que antes. Pelo menos, as pessoas não me pedem mais para ler a mão quando me
apresento como Cartunista!!kkk! Existe uma curiosidade e um conhecimento maior
do que se trata, o que é um profissional e /ou um trabalho de HQ. Deixamos de
ser apenas "coisa pra criança". Como dificuldade maior, mesmo em
tempos de e-comerce , a Distribuição por
sermos um país tão grande .O convívio
com certas praticas tão típicas da nossa cultura, continuam prejudicando o mercado mas repito: Está
bem melhor atualmente .
Festivais como o Guia
dos Quadrinhos, FIQ, GibiCon, etc, propiciam um número maior nas vendas, não é
mesmo? Como fazer pra que os quadrinhos tenham visibilidade e vendam mais, sem
esses eventos?
FL - Sem esses eventos
,confesso que ainda não acertei...Sei que tendo contatos tudo fica mais fácil
mas acho que o talento ainda conta na manutenção da visibilidade e
reconhecimento do nosso trabalho.
Seu projeto Histórias
Paulistanas aprovado no ProAC (Programa de Ação Cultural, da Secretaria de
Cultura de São Paulo) em 2015. O foco é nas relações humanas, em que diferentes
personagens se cruzam tendo como ponto de partida um edifício, e em um final de
semana que pode mudar o destino deles. Fale desse trabalho.
FL - Eu , falei acima, sou
muito centralizador em matéria de criação, mas minha esposa e editora, Lica de
Souza veio com um roteiro de sua autoria, irrecusável para mostrar uma vertente
que eu não tinha trabalhado ainda. Uma
HQ mais focada no Roteiro do que nos personagens, como eu costumo trabalhar. A
repercussão tem sido a melhor possível e as vendas também. Mesmo sem tanta visibilidade
junto à mídia especializada. Quem lê curte e o boca a boca tem funcionado. Já são
mais de mil exemplares vendidos dos 2 mil feitos graças ao ProAC!
Quais seus projetos
para o futuro?
FL - No momento, o
Agente Sommos, meu novo titulo /personagem de Humor que, à principio, será
disponibilizado Online e quem sabe, um Cabra 2, um livro com o melhor da Rota.
66... Deixa ver se o país melhora...rsrs Qualquer duvida ou mais perguntas,
pode entrar em contato!Abração e obrigado, querido!
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