José Carlos Café Alves (Café) nasceu em
Santa Inês – BA, no dia 02 de fevereiro de 1960. Viveu ali, parte da sua
infância. Em Santo Antônio de Jesus– BA iniciou os estudos, concluindo em 1981
o segundo grau como técnico em contabilidade. As primeiras habilidades manuais
foram aprendidas na marcenaria do seu pai, José Alexandre Alves. Nas horas
vagas, gostava de construir seus próprios brinquedos. Já adulto, deixou de lado
o ofício de marceneiro e passou a se dedicar a outras atividades como office
boy, auxiliar de escritório e balconista. Paralelamente aos estudos e trabalho,
serviu o Tiro de Guerra local e, também passou a se dedicar a tocar violão. Em
1986 parte em aventura para Salvador a fim de estudar Artes. Em 1994 forma-se
em Artes Plásticas na UFBA- Universidade Federal da Bahia.
Sua experiência com o cartum deve-se
principalmente a dois conceituados cartunistas que Café conheceu na década de
80: Caó e Nildão. “Os considero como meus mestres na arte de desenhar cartum. O
primeiro me ensinou a usar a pimenta; o segundo, o azeite”, finaliza o autor. Café teve cartuns
selecionados em salões e festivais de humor nacionais e internacionais
como: V PortoCartoon – Portugal 2003; 1º
Festival Internacional de Humor Dst & Aids do Ministério da Saúde,
Brasília-DF 2008. Seu primeiro livro de cartuns intitulado Hora do Café foi
lançado em 2016. Vamos conhecer um pouco mais desse artista gráfico baiano:
Como
começou sua paixão pelas artes gráficas?
CAFÉ - Acho que essa
paixão se inicia por volta de 1983, em Santo Antonio de Jesus -BA, quando tive acesso a livros dos
cartunistas Caó e Nildão. Foi por aí que descobri Saul Steinberg. O semanário O
Pasquim, Henfil, Jaguar, Ziraldo, Nani, Borjalo, etc. Descobri outros famosos
do traço como, Quino e Mordillo. Em S.Antonio eu sempre encomendava aos amigos
que vinham para Salvador um exemplar do Pasquim. O momento que mais me
aproximou das artes gráficas foi durante o curso de Artes Plásticas na UFBA,
concluído em 1994. Lembro que eu garimpava nas bibliotecas da capital baiana
tudo que estivesse ligado ao humor gráfico. Era muito prazeroso.
O
que você mais gosta de fazer:cartum, charge, caricatura ou historias em
quadrinhos?
CAFÉ - Cartum.
O
que lhe inspirava na hora de produzir esses trabalhos?
CAFÉ - Qualquer fato
curioso. A finalidade é sempre o riso e a reflexão. O cartum é uma arma
poderosa capaz de mostrar o lado ridículo, contraditório que o ser humano não
admite, não gosta.
Quais
são as suas principais influências?
CAFÉ - Charle
Chaplin, embora seja de outra linguagem. No início da minha carreira tive
bastante influência de Caó.
Você
já participou de diversas exposições. Fale um pouco delas?
CAFÉ - Centro de
Cultura de Cachoeira - Ba, 1987; Centro Cultural de S. A de Jesus- Ba, 1987;
Galeria do Aluno na EBA, UFBA, 1992; Bar Sax - Bairro da Graça, 1992; Extudo Restaurante, Rio Vermelho, Salvador
-Ba, 2006; Participações em vários
festivais de Humor tipo: XXX Salão internacional de humor de Piracicaba; V e
XII Portocartoon - PT ,2003 e 2010, respectivamente ; Ricardo Rendón, Colombia,
2003; I Festival Internacional de Humor DST & AIDS, Min. Saúde, BR, 2004;
FHUBA no TCA, 2012; Considero essas exposições e festivais como um importante
exercício para o meu crescimento como cartunista.
Os temas são sempre desafiadores, envolve muita pesquisa. Aprendi muita coisa
praticando e vendo a prática de outros cartunistas. Tenho vários catálogos
desses festivais.
Quando
foi publicado seu primeiro trabalho?
CAFÉ
-
Primeiro cartum, em 1986 num jornal de época que surgiu em S. A. de Jesus
chamado Reconvale, onde um náufrago anuncia a venda de ilha com plantio de
coqueiro e bananeira.
Já
criou algum personagem para tiras em quadrinhos?
CAFÉ - Muito
pouco. Tenho um chamado “O escultor”. Já
no caso de HQ, tenho outros personagens como é o caso do “Jegue bom de carga”,
publicado na revista Esfera do Humor, 1992; “Nestor filma cocô”, uma HQ que
tenta conscientizar os donos de cães a apanhar o cocô dos seus animais postos
em lugares públicos (essa HQ é inédita) Tenho outra, “Shopping praia”,
inspirada em camelôs de uma praia aqui no litoral norte baiano (foi selecionada
no V FIHQ-PE) A falta de incentivo, e espaço adequado para publicação, acabam
contribuindo para que essas produções sejam esporádicas. Prefiro fazer HQ, a
tira em quadrinhos.
Como
é o processo de criação?
CAFÉ - A partir de
uma ideia, faço esboços buscando uma forma capaz de mostrar por um determinado
ponto de vista uma cena cômica imaginada. Aí entra duplo sentido, jogo de palavras,
metáfora, etc.
O
que você anda lendo ultimamente?
CAFÉ
-
Tenho lido mais é sobre o golpe que aí está. Além de leituras diárias na
internet (prefiro a blogosfera), já li A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro
Jr.; O Quarto Poder, de Paulo Henrique Amorim; literatura, O irmão alemão, de Chico
Buarque, Traçando Porto Alegre, de Luis Fernando Veríssimo, ilustrado por
Joaquim da Fonseca. Ed. Artes e ofícios, 2009; Lage 40 anos de humor. Org.
Nildão; leio também literatura de cordel, quadrinhos nacionais tipo “Em terras
americanas”, com Paulo Setúbal, Tom Figueiredo e Vitor Sousa. Ed. Cedraz, 2015;
Billy Jackson, com Cau Gomez e Victor Mascarenhas, 2013. Enfim, não sou um
leitor voraz, mas me interesso por diversos estilos de leitura. Gosto de estar
alinhado com as produções gráficas dos colegas baianos. Sempre que posso vou
aos lançamentos.
Como
você analisa o atual cenário das artes gráficas no Brasil?
CAFÉ
-
As artes gráficas em papel impresso perderam muito espaço para o formato
digital. Contudo, ainda se continua produzindo livros e revistas impressos. Os
jornais impressos estão em extinção. E devido ao pequeno poder aquisitivo da
maioria da nossa população, livro ainda é um objeto muito caro em nosso país.
No meu caso, faço livro revista, por conta própria, quando posso, por
necessidade de me expressar, por paixão pelo desenho. Ainda não consigo
sobreviver apenas do desenho, do humor. Um dos
ramos que mais tem dado lucro no Brasil é o farmacêutico. Basta olharmos
a quantidade de novas farmácias que são abertas todo dia. Sinal de que a
população está muito doente. A nossa arte de humor, poderia ser um grande
aliado na prevenção de doenças. O humor faz bem para o corpo e o espírito.
O
mercado vive uma fase, isso está refletindo na produção independente também?
CAFÉ
-
Com certeza. Acho que toquei nisso na pergunta anterior. É muito caro fazer
livro independente, mesmo com o advento do computador (ele agiliza muito durante as diversas fases
da confecção do mesmo). O papel, embora se invista tanto em sua reciclagem, em
edições digitais, encarece muito o produto final impresso. Buscar patrocínio é
uma tarefa árdua, desanimadora para quem se lança a fazer tudo sozinho, lidar
com a burocracia complexa de editais, ufa! A gente acaba perdendo o tesão, e,
consequentemente, o foco da obra .
É
fácil ser um profissional no Brasil? Quais são as maiores dificuldades?
CAFÉ - Não. O maior
desafio é conseguir pagar as contas no final do mês. Para isso, preciso dar aula em escola
pública, (ensino na rede de Lauro de Freitas), faço free lancer quando aparece,
e paralelamente vou praticando o humor gráfico com foco em cartum.
Você produziu um livro de cartuns em 2016
via independente. Fale sobre essa obra?
CAFÉ – Hora do Café. Trata-se de uma
seleção de cartuns da minha trajetória como cartunista. Parte dos cartuns nele
contidos foram selecionados em festivais de humor no Brasil e no exterior, e/ou
publicados em outros meios de comunicação, como é o caso da revista Esfera do
Humor, criada por mim em 1992. A outra parte é de cartuns inéditos. Hora do
Café aborda a vida em toda a sua dimensão poética. São cartuns impregnados de
humor sutil que tratam das múltiplas vertentes da natureza humana. Formato 11 cm x 15 cm, capa dura, 64 páginas
impressas em 4 cores. Tiragem 500 exemplares, lançamento ocorrido no
restaurante Póstudo, Rio Vermelho, Salvador - BA, outubro de 2016. Fiquei muito feliz com esse projeto
independente.
Que
material você usar para desenhar e arte finalizar?
CAFÉ
-
Papel comum, lápis, borracha, caneta com tinta preta, preferência nanquim.
Escaneio o desenho, e no computador uso Photoshop para colorir, e Corel draw,
edição. Em breve passarei a usar o Illustrator, muito usado por designers.
Uso também uma caneta digitalizadora da
Wacom pois o mouse é muito limitado e cansa a mão.
Quem
são hoje, para você, os bons chargistas e cartunistas?
CAFÉ - Posso citar,
Laerte, Angeli, Aroeira, Nildão, Caó, Cau Gomez, Lute, Setúbal e J. Bosco.
Você
já viveu algum tipo de repressão no seu trabalho no jornal?
CAFÉ - Nunca
trabalhei em jornal.
No
Brasil já é possível viver só de humor?
CAFÉ - Pouca gente
consegue.
Quais
são seus próximos projetos?
CAFÉ - Publicar dois
novos livros de cartuns. Um no formato de Hora do Café, e outro, em formato
diferente sobre coisas ligadas ao futebol.
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