Segundo Lailson de Holanda Cavalcanti (Historia del humor gráfico en el Brasil. Lleida: Editorial Milenio, 2005), o primeiro exemplo no país de um “desenho que representa a realidade de forma humorística e alegórica” data de 1831, na publicação O Carcundão, do estado de Pernambuco. “O jornal sai como um papel A3 dobrado, mimeografado, com um desenho na capa e outro na contracapa. As páginas externas eram impressas em xilogravura e a parte de texto, em tipografia. Na capa, um homem corcunda é apresentado com uma cabeça de asno, simbolizando a ignorância das elites como sendo um Goya, que é o santo padroeiro dos cartunistas ibero-americanos”, comenta Lailson, referindo-se ao pintor e gravador espanhol Francisco Goya (1746-1828). Na contracapa, o homem asno é soterrado por uma coluna, numa alusão à Sociedade Colunas do Trono, que defendia o absolutismo de Dom Pedro I. Na legenda, a expressão latina non plus ultra, que significa “não mais além”, era empregada recorrentemente na navegação. “Não é o primeiro desenho de humor produzido no Brasil, mas é a primeira charge brasileira, datada de 1831. Traz elementos alegóricos e cifrados em um contexto logo em seguida à abdicação de Pedro I, quando o conceito de uma república já existia, mesmo que em um movimento por um rei brasileiro”, argumenta.
"Este tipo de polêmica é inútil ", rebate Heliana Angotti Salgueiro, curadora da exposição "A Comédia Urbana: De Daumier a Porto-Alegre", montada em São Paulo, 2003, na Faap. "Dentro de uma metodologia científica, não se pode defender que essa obra ou aquela foi a "primeira" em nenhuma área do conhecimento. Nunca se deve fechar a questão. As pesquisas avançam". E completa: "[Os desenhos do "Carcundão'] Aproximam-se mais das vinhetas francesas tipográficas. Porto-Alegre vivenciou o universo da caricatura da primeira metade do século 19 na França e tudo indica que adquiriu um nível de informação que outros no Brasil certamente não tinham".
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