23 junho 2022

Curiosidade dos quadrinhos (45) Jackie Ormes: primeira mulher negra a publicar quadrinhos nos EUA

 

A quadrinista Jackie Ormes (1911 - 1985) publicou sua primeira tira de quadrinhos em 1937 no Pittsburgh Courier: Torchy Brown in “Dixie Harlem”, que conta a história de uma jovem negra do Mississipe que busca por novas oportunidades nas metrópoles do norte.  Com humor, as peripécias da jovem eram uma forma de refletir sobre as dificuldades enfrentadas por quem sai do Sul em busca de novas oportunidades no Norte. Chegou-se a um total de doze tiras, publicadas em 1937 e 1938, no Pittsburgh Courier. Torchy representa a primeira personagem negra independente. Ormes investiu em um gênero que vinha fazendo sucesso e que atraía o leitor do sexo feminino, a girl strip, tiras de garotas ou ainda história de garota. Torchy Brown in “Dixie Harlem” estreou em um jornal para negros e foi distribuída para mais outros quatorze jornais, também para negros, espalhados por todo o país. Ormes mudou-se para Chicago em 1942 e passou a contribuir para a coluna social de outro jornal afro-americano, o Chicago Defender, considerado um dos principais jornais norte-americanos destinado aos negros. Em 1945, lançou outra personagem, que apareceu em algumas tiras, de quadro único (painel), publicada durante quatro meses: Candy, uma empregada doméstica sexy e atrevida que está sempre fazendo observações astutas sobre seus patrões e sobre a sociedade de um modo geral. 

 


O traço da personagem lembra sua própria autora, que passa a interagir com sua produção, não apenas colocando nela suas ideias e suas críticas, mas se personificando, apresentando uma nova mulher negra norte-americana, que não se intimida frente à sociedade, que não tem medo de expor seu pensamento e sua sensualidade. A partir de Candy, traços físicos e da personalidade de Ormes estarão cada vez mais presentes em suas personagens. Ainda em 1945, lançou uma tirinha, também de quadro único (painel), chamada Patty-Jo ‘n’ Ginger. Ginger era uma mulher jovem, elegante e de corpo escultural, sempre às voltas com as travessuras de sua irmã caçula Patty-Jo. A cada semana, Patty-Jo emitia algum tipo de comentário referente a uma situação polêmica. Esses comentários podiam ser inócuos, mas, frequentemente, refletiam preocupações e interesses da própria Ormes, bem como os acontecimentos do dia.60 A personagem Patty-Jo acabou se tornando, também, um sucesso de vendas nas lojas infantis. Transformada em boneca, foi produzida entre os anos de 1947 e 1949. A boneca era dedicada às meninas afro-americanas, uma forma que Ormes encontrou de levar às meninas negras um brinquedo com o qual pudessem se identificar. Segundo Nancy Goldstein, a boneca representou uma importante referência para essas crianças e suas famílias, um marco na história do negro nos Estados Unidos Em 1950, Jackie Ormes lança a série “Touchy Brown Heartbeats”, em cores, publicada no Chicago Defender, até 1954.  Ormes, na verdade, reinventou Torchy transformando-a numa heroína bem diferente da menina ingênua que se migra do sul para viver em Nova York. Ela remodela a personagem, dando a ela outro significado, outra meta. Uma das qualidades das personagens dos quadrinhos é justamente a possibilidade de se fazerem releituras; as personagens das histórias em quadrinhos materializam representações que são constantemente retomadas, reatualizadas e normatizadas, abrindo a possibilidade de se recriarem e fundamentarem modelos e saberes. 

 

Nenhum comentário: