09 junho 2022

Curiosidade dos quadrinhos (30) Força do roteiro

 

Maus, de Art Spiegelman foi lançado em 1980 na Raw como uma pequena revista anexa, em 1986, as seis primeiras edições foram reunidas pela editora Pantheon no formato livro, com grande repercussão, e, em 1991, sairia seu segundo e último volume, resultando, em 1992, no Prêmio Especial Pulitzer. Esse fato, entre outros, elegeu o roteirista como o astro principal de toda uma nova linha de HQs. Isso explicaria os créditos de capa garrafais dos escritores, às vezes maiores até que o próprio título da HQ, como no caso de Neil Gaiman, Alan Moore e Grant Morrison. Essa postura reavivou os autores dos quadrinhos com a febre das graphic novels. Este culto ao escritor de quadrinhos está em grande parte ligado à chamada “invasão inglesa” ou “invasão britânica” aos quadrinhos americanos.

 


Ao longo dos anos 1980 e início dos 90, escritores britânicos com passagem pela revista inglesa 2000AD seriam recrutados pela DC Comics para imprimir uma visão consideravelmente diferente da que os americanos vinham exibindo. Teve a reconsideração do horror, o foco mais adulto e politizado, e a herança fantástica que remonta tanto à 2000AD quanto à própria Métal Hurlant. A sofisticação textual que esses autores trouxeram ajudou a catapultar ainda mais a onda literária que tomava corpo inclusive no mainstream. Por resultado, muitos dos artistas norte-americanos que trouxeram a questão autoral à tona no início dos anos 90 eram desenhistas, como Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld, entre outros da chamada “era Image”, quando a Image Comics se tornou uma rara e verdadeira ameaça à hegemonia dividida pela DC e Marvel Comics.

 

A título de curiosidade, enquanto nos EUA – e na grande maioria das vezes, no Brasil – é creditado primeiro o roteirista e depois o desenhista, nos quadrinhos franco-belgas a ordem muitas vezes é contrária. Algo que, de alguma forma, acena a prioridade artística e autoral de cada trabalho. Este cruzamento entre artisticidade e defesa autoral por linhas difusas já era sentido em revistas como a espanhola El Víbora (1979), a italiana Frigidaire (1980), a inglesa Escape (1983), a argentina Fierro (1984), a suíço-alemã Strapazin (1984), a brasileira Animal (1988), a japonesa AX (1998), entre tantas outras.

 

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