Em quatro séculos, a música ultrapassou as demais artes e hoje curte incontestável pole position. Está presente em nosso dia a dia, do computador ao carro, do supermercado às salas de concerto, baladas, estádios em megashows pop. É a mais invasiva das artes. Algo a comemorar se suspendermos o juízo crítico. Ou a deplorar, se olharmos para seus conteúdos. Nessa areia movediça Tim Blanning recusa-se a pôr os pés.
A obra estrutura-se em cinco capítulos ou eixos básicos. Cada um retoma o percurso de um ponto de vista diferente. “Prestígio” fala do lugar dos músicos na sociedade, desde sua condição de servos, como Haydn no século 18, a superstars pop de hoje como Mick Jagger. “Propósito” examina historicamente a função da música na vida das pessoas. “Lugares e Espaços” retraçam a ampliação dos locais onde se faz música, do nascimento da ópera e a fixação da sala de concertos na passagem dos séculos 18/19 até os megashows atuais. “Tecnologia” esquadrinha os avanços técnicos nos instrumentos e a revolução da música gravada, dos cilindros de Thomas Edison ao iPod e ao download. E em “Libertação”, apoiado no conceito de "esfera pública" do filósofo alemão frankfurtiano Jurgen Habermas, alcança seu melhor momento ao narrar a criação e fortalecimento do espaço público que impulsionou o nacionalismo na Europa do século 19.
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O livro mostra ainda a relação carnal que existe entre música e o conceito de nação bem antes de 1789. A rivalidade entre Inglaterra, França, Itália e Alemanha pode ser flagrada -neste caso a partir do ponto de vista alemão- na declaração do poeta Christian Schubart (1739-1791) feita em 1775, segundo a qual “os alemães inventam a música, os italianos a vulgarizam, os franceses a plagiam e os ingleses pagam por ela’’.
Segundo o autor, no início do século XVIII, a música de igreja era dominada pelo órgão e a música secular, pelo cravo. O poder e o alcance do órgão o transformaram em instrumento ideal para os espaços cavernosos das catedrais e igrejas europeias. O avanço da ópera e o abandono da polifonia no fim do século XVII intensificaram a necessidade de um instrumento mais expressivo, combinando o poder do cravo com o alcance dinâmico do clavicórdio.
A popularidade dos concertos para piano composto por Bach para as apresentações em Londres na década de 1760 marcou um importante passo à frente. À medida que a revolução romântica ganhou ritmo, a sorte do piano melhorou, atingiu o clímax com Liszt, por certo seu expoente mais carismático e talvez o maior deles. Nas décadas em torno de 1700, diversos instrumentos foram criados: oboé, fagote, clarinete, trompa e violoncelo, por exemplo, enquanto outros caíam em desuso: flauta doce, alaúde, pandora.
Em 1800 o violino era uma força dominante na cultura musical. O saxofone também surgiu com um futuro brilhante até chegar na guitarra elétrica (1951).
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