12 abril 2011

A Censura nos Quadrinhos: a paranoia que anda solta na cultura (2)

(Esse artigo, de autoria de Gutemberg Cruz, foi publicado no Jornal de Salvador no dia 03 de Fevereiro de 1978, p.10)


O Pererê deixou de circular em 1964 por questões econômicas, já que os materiais das outras revistas d´O Cruzeiro chegava ao Brasil por preços menores. Embora, no caso de Pererê – diz Moacy Cirne em A Linguagem dos Quadrinhos -, não haja uma correspondência politica direta (o seu fim, como revista, encontra-se por acaso ligada à instituição de um novo governo no país, segundo o próprio Ziraldo), pensamos esta correspondência dentro do mecanismo ideológico do coeficiente político concedido pela estrutura socioeconômica da época em pauta, historicamente engendrada pela contradições esboçadas a partir de 1930.


O Fradim baixim no seu início no Pasquim – diz Henfil no Fradim 12 – era a reação, a explosão. Normalmente provocado pelo cumprido ele ia e quebrava o pau. Ele era o fim da historinha. Veio a censura prévia no Pasquim e o desenvolvimento dos fradins foi paralisado”. Depois, em 1972 publicado em tiras diárias no Jornal do Brasil com o personagem Zeferino, novas pressões foram exercidas na mais bem realizada série de quadrinhos brasileiros.


Um grupo de desenhistas brasileiros – como nos conta Otacílio Baros na revista Spectro -, entre eles Jayme Cortez, Julio Shimamoto, Flávio Colin se reuniu, em 1961, disposto a defender o quadrinho nacional, acabando de uma vez com o imperialismo norte americano. Em manifesto, acusaram as editoras que só publicavam histórias estrangeiras, transmitindo assim uma realidade alienígena. As pequenas editoras (La Selva, Outubro) publicavam uma quantidade bastante razoável de material brasileiro, mas 90% ou mais do material faz quatro grandes editoras da época – a Ebal, Rio Gráfica, Abril e O Cruzeiro – eram enlatados.


Muitos interesses econômicos estavam em jogo, e por isso as editoras boicotaram o movimento criando o Código de Ética para que o “bem” sempre vença o “mal”. Esse Código garantia que as histórias, apesar de estrangeiras, não eram nocivas à formação dos jovens leitores.

A AUTO CENSURA


Há dois tipos de censura nos quadrinhos: a oficial e a da própria empresa. Muitos editores atuam como verdadeiros censores, obrigando a certos desenhistas a tratar os assuntos superficialmente, quando não muito, cerceia ou veta a obra. O afastamento, nas atuais revistas, de qualquer obra de autor nacional que se propunha a investigar algum aspecto relevante do mundo e da sociedade em que vive é alarmante. E o que ocorre é a pobreza do pensamento. O quadrinho não pode refletir fielmente a realidade política, econômica e cultural porque enfrenta uma censura férrea ou a igualmente prejudicial auto censura.


Os três pontos básicos que levarão a obra a proibição ou ao “corte” são: a segurança nacional, os princípios éticos e os direitos e garantia individuais, que não poderão ser feridos ou contrariados, e contra os quais não se poderá atentar. Para liberar, cortar ou interditar totalmente uma obra, o censor parte deses princípios básicos e dá seu parecer.

Com a censura, houve a institucionalização do medo. E essa institucionalização do medo atingiu a todas as pessoas. Ao mesmo tempo se instituiu que tudo estava bem e isso refletiu em toda a cultura nacional. A imprensa alternativa, o quadrinho underground aparecem como apenas mais uma das expressões de insatisfação generalizada. Esse tipo de publicação não se contenta em ser o espelho opaco, de meia verdade. Não está em busca deste tipo de verdade carimbada. Por praticar um contínuo questionamento social, o governo vigente tem se mostrado intolerante com tal publicação. E, com a constante pressão, surgiu um problema: cada criador está sendo o seu próprio censor. Surge daí a autocensura, o medo de criar, o mecanismo interno da auto-repressão. A impotência diante das insuportáveis situações de impasse.


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Um comentário:

mogiana quadrinhos disse...

"meu professor de estudos sociais(antigo)me falou de uma frase que nunca mais esqueci:
"Eu posso até não concordar com o que vc diz, posso até não concordar com o que vc pensa, mas vou lutar até a morte pra que continue dizendo ou pensando por que isso é liberdade"