24 maio 2022

CURIOSIDADES BAIANAS (29) Puxada do Mastro

 


A Festa da Puxada do Mastro de São Sebastião em Olivença (Ilhéus) é muito antiga, acontece desde o período colonial. Naquele período havia festas para N. S. da Escada, S. André, S. Miguel e Santa’Ana, cujas despesas eram das custas dos índios. Não se fazia festa para São Sebastião. O rito que originou a festa é, na verdade, a sacralização dos gestos que envolviam o trabalho cotidiano de boa parte dos índios de Olivença na segunda metade do século XVIII e início do XIX: o trabalho de cortar, amarrar e puxar as toras de madeira que se extraiam daquelas matas para serem usadas na construção naval. A saída dos jesuítas liberou a mão-de-obra indígena para ser explorada pelos fabricantes de madeira. Até mesmo diretores e vigários destinados a organizar a vida dos índios de Olivença se envolveram nesta lucrativa atividade.

 

Nos locais onde a exploração da madeira era organizada pelo próprio estado, como nas feitorias de Cairu, as toras eram arrastadas da mata para os portos de embarque pela força dos bois e este processo era chamado de “arrasto dos paus”. Onde a exploração era particular, como em Olivença, normalmente o transporte se fazia por braços indígenas e era denominado de “puxada”. Por que, então, “puxada do mastro” e não puxada do pau? Porque as madeiras que se extraíam das matas ao redor de Olivença, a exemplo do jequitibá, do jacarandá e do potumuju, eram empregadas na confecção de peças para a mastreação de embarcações. A propósito, um dos primeiros testemunhos conhecido sobre a Festa data de 1818 e foi emitido pelos cientistas holandeses Spix e Von Martius. Mais acostumados com a sobriedade dos ritos religiosos calvinistas, os estrangeiros se impressionaram com o batuque e o frenesi que envolviam a festa de Olivença, vista por eles como uma fronteira fluida entre o sagrado e o profano. A Puxada do Mastro de São Sebastião tem grande importância histórica e encanta quem visita principalmente o balneário de Olivença no período do evento. A tradição da puxada do mastro atrai milhares de curiosos, a exemplo de turistas e nativos, estimulando trabalhos acadêmicos e livros sobre o evento que acontece há três séculos.

 

Um comentário:

Raquel disse...
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