Dark Knight III: The Master Race lançada neste ano de 2016 nos EUA tem
comentário do site de
quadrinhos Omelete (https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/artigo/dark-knight-iii-the-master-race-da-frigideira/): “a terceira
minissérie do Batman aposentado de Miller é aquela que resolve de um jeito mais
dramático o abismo que separa os "mortais" dos super-heróis. Isso já
começou a ficar mais latente em O Cavaleiro das Trevas 2, em 2001, uma vez que
a Liga da Justiça ganhou espaço na trama, mas, ao voltar também aos pequenos
dramas das pessoas de Gotham em DK3, Miller agora é capaz de fazer melhor essa
contraposição”.
“E o resultado, até agora, é uma HQ que
já não tem tanto o que comentar sobre os deuses. Miller faz sua desconstrução
dos super-heróis da DC Comics desde os anos 1980, e DK3 os trata como um fato
consumado: "No que nós acreditamos não importa", diz a pequena Robin
à Comissária Yindel, quando diz que a vontade dos heróis, dos deuses, sempre
prevalecerá, e ´com sorte essa vontade se equivalerá à nossa´. O que Miller tem
a atualizar, sim, é o seu olhar sobre o outro lado da moeda: nós, os
espectadores do show e fiéis desses deuses.
“Existe um fosso aí, que nunca foi
maior: o senso de propósito dos super-heróis de um lado, capazes de entender o
peso da história, do passado, e do outro lado a população hipnotizada pelo
consumo e pelo descarte imediato de informações, presos para sempre ao presente
das mensagens instantâneas. O intermediário desse diálogo - o governo, as
instituições como a Polícia de Gotham - se perdem nesse fosso. Poucas cenas são
tão bem sacadas em DK3 quanto o momento em que o bando kandoriano, botando fogo
no mundo, precisa derrubar satélites e interromper as telecomunicações para que
as pessoas tirem os olhos de seus celulares e percebam os seus algozes pairando
no céu.
“É a ironia de Miller tomando a forma
não da tradicional porrada mas de uma alfinetada melancólica, assim como a
maneira sinuosa com que ele lida com fundamentalismos sem panfletar sua
islamofobia. Se tratamos de deuses, afinal, é natural que se fale de
religiosidade. E com os deuses obviamente vem o castigo do céu. Então Miller,
seu corroteirista Brian Azzarello e o desenhista Andy Kubert podem trabalhar o
ponto mais forte da minissérie até agora: a desproporcionalidade da ação dos
deuses sobre o nós.
“É acima de tudo uma lição de design de
cenários, de cenas, de criação de atmosfera e de como
retratar superpoderes
numa escala que possa nos parecer real e ao mesmo tempo impensável. Quando
chega na quarta edição, Kubert já emula com mais precisão o estilo teatral de
desenho de Miller, como se a harmonia entre os dois começasse a se afinar. A
grandiosidade se estabelece não pela grandiloquência, splash pages ou frases de
efeito, como era em DK2, e sim pelas pequenas soluções de arte, como os traços
do fogo tomando a cidade ou os anéis de kandorianos cercando seu inimigo.
“Ainda na quarta edição, é um show de
perspectivas o quadro em que Superman cai à porta da Fortaleza da Solidão, e
toda a cena do julgamento consegue traduzir bem a melancolia das escolhas
tomadas pelo Homem de Aço. Cabe a Batman um papel muito similar ao nosso, o de
espectador, e surpreende que o Homem-Morcego se mostre um personagem em paz
consigo mesmo nesta terceira minissérie. Do lado de Superman, aos poucos Dark
Knight III se define como a história em que Miller faz as pazes com esse herói
tão ridicularizado nas duas minisséries anteriores - e o mais espantoso é que
bastam algumas páginas de um Superman desenhado de forma altiva mas também
humana, para que isso se concretize”.
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