21 novembro 2016

Floriano Teixeira, senhor de um desenho de traço refinado (1)



Pertencente a uma geração de mestres da pintura brasileira, Floriano Teixeira foi senhor de um traço inconfundível, seguro, gracioso e que é suporte visível de todas as suas artes múltiplas – a gravura, a escultura e sobretudo a pintura. Um desenhista raro, detalhista ao extremo. Leveza e suavidade: grandes trunfos de sua arte.

Pintor, gravador, desenhista, escultor. Floriano de Araújo Teixeira nasceu no dia 08 de março de 1923 no município de Cajapió, na baixada maranhense. Mais tarde a sua numerosa família transfere-se para São Luís, onde passa a frequentar o grupo Escolar Sotéro dos Reis, depois O Liceu Maranhense. Em 1935 recebe as primeiras aulas de desenho do professor Rubens Damasceno. Daquele ano datam as suas primeiras aquarelas.

Executa desenhos para histórias em quadrinhos e caricaturas. Em 1940, junta-se a um grupo de pintores liderados por J. Figueiredo, que o anima a tentar a pintura de cavalete. Estuda e documenta tipos populares e cenas das docas de São Luís. Através de livros e revistas de arte, trava conhecimento com El Greco que o impressiona vivamente, especialmente pela deformação alongada das figuras.

Em 1949 toma contato com as técnicas da monotipia e da xilogravura. Em 1950 muda-se para o Ceará onde toma parte ativa no grupo local de artistas modernos. Com os artistas locais funda o grupo dos independentes. Trabalha numa repartição de defesa animal. Interessa-se pela anatomia animal. Apaixonado pela composição e pela cor, busca no abstracionismo o caminha para expressar sua mensagem, faz estamparia, silk cream.


Em 1962 a Universidade Federal do Ceará organiza o seu Museu de Arte e Floriano é convidado pelo reitor Antônio Martins Filho para dirigi-lo provisoriamente. Um ano após retorna com intensidade à pintura. Seus filhos estão presentes como tema principal dessa fase. Logo a seguir, Floriano é apresentado ao público de Salvador, expondo pinturas e desenhos no MAMB. Torna-se amigo de Jorge Amado e a convite deste muda-se para Salvador, onde reside desde 1965, no bairro do Rio Vermelho com sua mulher Alice e seus sete filhos. Paralelamente ao desenho e à pintura, Floriano Teixeira desenvolve atividades na área da ilustração de humor. Entre outros, ilustram as capas dos 12 volumes da coleção das Obras Completas de
Graciliano Ramos e são de sua autoria os desenhos para Dona Flor, A Morte e Morte de Quincas Berro D ´Água, Milagre dos Pássaros e O Menino Grapiúna, de Jorge Amado.

Pintor excepcional, com um colorido que nos enche os olhos e uma magia de temas extraordinários: são crianças, cavalos, caboclas sensuais, pássaros e flores. Enfim uma explosão de cores que nos atinge todos os sentidos.

“Floriano é um pintor de figura”, escreveu Myriam Fraga em 1984 para um catálogo da exposição do artista. “Andarilho contumaz, na vida e na obra, passeou por várias escolas, percorreu caminhos que foram do cubismo aos quadrinhos. Ilustrações, caricatura, muralismo, tudo
passou pelo cadinho de seu talento sempre aberto a novos experimentos”

“Esse índio do Maranhão, esse baiano do Rio Vermelho, é um ser extremamente civilizado, veio da floresta, mas por dá a impressão de ter chegado da Renascença”, escreveu Jorge Amado no livro Bahia de Todos os Santos. “A realidade de Floriano é a mesma que se encontra em Cem Anos de Solidão de Garcia Márquez, onde o narrador se esforça para contar tudo, admitindo, porém que, como não pode caber tudo dentro das páginas e capa do livro, também a moldura de um quadro não é suficiente para conter o mundo do pintor”, escreveu o crítico John P. Dwyer.

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