A língua é formada de
palavras e palavras é energia que pode se materializar.
Por isso é fundamental
ter cuidado e utilizar a palavra para produzir bem estar. Santo Agostinho em
suas “Confissões” ficou integrado com a origem das palavras.
Para o filósofo,
as palavras são obras de Deus e já existem dentro de nós, fazem parte de nossa
alma.
Shakespeare foi certeiro ao tergiversar
sobre o assunto: “O que há em um nome?/Pois aquilo que chamamos rosa/Por
qualquer outro nome/Exalaria o mesmo doce perfume”.
Górgias, sofista grego, no
“Elogio de Helena”, escreve: “Com a palavra se fundaram as cidades, se fazem
portos, se comanda exércitos e se governa o Estado”. Aristóteles, na
“Política”, sublinha que é cidadão “aquele a quem é concedido o direito de
deliberar”. Ele considera que há uma estreita relação entre a linguagem e a
dimensão social e política do homem.
Diógenes Laércio, no século III, dizia:
“A linguagem é a voz que manifesta aquilo que a coisa era ou é”. Nietsche,
instituindo o perspectivismo, afirma que a linguagem não manifesta o que as
coisas são, mas o nosso ponto de vista, a nossa perspectiva relativamente às coisas
ou factos. Heidegger defende que o mundo revela-se pelas palavras: o que não
tem nome não é conhecido. Por isso, assegura que “a linguagem é a casa do ser”.
Cada palavra que utilizamos no dia-a-dia
tem a sua história, e reflete as evoluções culturais sofridas
pela sociedade em
que vivemos atualmente. “A palavra, como se sabe, é um ser vivo”, disse o
escritor Victor Hugo. Assim, os idiomas são organismos vivos, que refletem as
mudanças do mundo ao seu redor. Necessitam, pois, incorporar diariamente novos
jargões, neologismos e estrangeirismos ao seu repertório, para que possam
sobreviver. Caso contrário, murcham e morrem, feito o latim e milhares de
outras línguas e dialetos soterrados nestes séculos de civilizações.
Para Roland Barthes, “a palavra, enquanto
instrumento, é símbolo de poder”, e essa vontade de poder encontra-se na
argumentação na própria sedução pela palavra. Já Wittgenstein considera que é
no uso que damos às palavras que encontramos o seu significado. E para
compreender o uso é preciso entender o “jogo de linguagem” que integra o que é
dito. E Habermas fala de uma ética da comunicação e define a razão comunicativa
como uma razão solidária: os melhores consensos devem promover uma
solidariedade na ação.
Todas as palavras são rigorosamente
lindas. Nós é que as corrompemos”, disse Nelson Rodrigues. Ao longo dos tempos
sentimos, crescemos, aprendemos, ensinamos, partilhamos, descobrimos e fomos
nas palavras e com as palavras. Hoje vivemos numa sociedade rendida aos
manipuladores da palavra. A palavra foi dada a uns por se supor que poderiam,
falar em nome de todos. E o resultado é a morte da palavra transportando
consigo a morte de muitas coisas essenciais como o pensamento, a inteligência,
a verdade.
Sérgio Augusto em um texto da revista
“Bravo!” (nº56) cita algumas palavras que gostaria que fossem adotadas pela
língua portuguesa. Por exemplo: Razbliuto, palavra russa que significa o
sentimento carinhoso que nutrimos por uma pessoa que a cada dia amamos. Ou
Mamihlapinatapei, vocábulo que pertence a um idioma indígena da Terra do Fogo e
quer dizer, simplesmente, o “ato de olhar nos olhos do outro, na esperança de
que o outro inicie o que ambos desejam mas nenhum tem coragem de começar”. E é
bom não esquecer uma pequena e maravilhosa palavra portuguesa chamada saudade.
Afinal, o que quer e o que pode esta
língua? A língua quer ser objeto de comunicação, condição fundamental para que
as sociedades existam e a cultura possa ser transmitida de uma para outra
geração. A língua pode se transformar em arte e, nessa dimensão, trazer o
sentimento, a reflexão sobre as questões existenciais, a crítica da realidade,
a denúncia da injustiça e a busca da compreensão da vida e do mundo.
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