Em maio de 2000, Susan Sontag
(1933/2004), uma das mais respeitadas intelectuais americanas, por
ocasião do
recebimento do prêmio Jerusalém, proferiu o seguinte discurso: “Nós,
escritores, ficamos preocupados por causa de palavras. Palavras significam.
Palavras apontam. São flechas. Flechas cravadas na pele dura da realidade. E
quanto mais portentosa, mais geral for a palavra, mais também se parecerá com
um quarto ou um túnel. Elas podem expandir-se, ou bater em retirada. Podem
impregnar-se de mais cheiro. Muitas vezes nos farão lembrar outros quartos,
onde gostaríamos de morar, ou onde olhamos que já estamos vivendo. Elas podem
ser espaços onde não pode, os habitar, pois perdemos a arte ou a sabedoria para
tal. E por fim aqueles volumes de intenção mental que não sabemos mais como
residir serão abandonados, lacrados com tábuas, trancados”.
“O que queremos dizer, por exemplo, com
a palavra ´paz´! Uma ausência de conflito! Um esquecimento! Perdão! Ou um
grande cansaço, uma exaustão, um esvaziamento do rancor!. Parece-me que o que a
maioria das pessoas entende por ´paz´ é a vitória. A vitória do seu lado. É
isso o que ´paz´ significa para ´eles´, por enquanto, para os outros, paz quer
dizer derrota”, disse no discurso ao receber o prêmio literário.
Já o filósofo e sociólogo francês Jean
Baudrillard em sua obra “Senhas” (Difel, 2001) disse que “as palavras são
portadoras, geradoras de ideias, mais não só porque transmitem essas ideias e
aquelas coisas, mas porque elas próprias se metaforizam, se metabolizam umas
nas outras, segundo uma espécie de evolução em espiral. É assim que elas são
bateleiras de ideias. As palavras têm para mim extrema importância. Que elas
têm vida própria e que são, portanto, mortais, é algo evidente para todo aquele
que não se prende a um pensamento definitivo, de intenção edificadora. É o meu
caso. Há na temporalidade das palavras um jogo quase poético de morte e
renascimento: as metaforizações sucessivas fazem com que uma ideia se torne
sempre algo mais e diverso do que antes era – uma ´forma de pensamento´. Pois a
linguagem pensa, nos pensa e pensa por nós – quando menos tanto quanto nós
pensamos através dela. Também aqui há uma troca, que pode ser simbólica, entre
palavras e ideias. Acredita-se que progredimos impulsionados pelas ideias – pelo
menos é esta a fantasia de todo teórico, de todo filósofo. Mas são igualmente
as próprias palavras que geram ou regeneram as ideias, que fazem o trabalho de
´embreagens´. Nos momentos em que assim atuam, as ideias se entrelaçam, se
misturam ao nível da palavra, que serve, então, de operadora – mas uma
operadora não-técnica – em uma catálise em que a própria linguagem está em
jogo. Isso faz dela um investimento pelo menos tão importante quanto as ideias”.
O poeta e prosador brasileiro Carlos
Drummond de Andrade (1902/1987) escreveu em 1942 (José.
“O lutador”. In Poesia
completa): “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a
manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo
louco. Se o fosse, teria poder de encanta-las. Mas lúcido e frio, apareço e
tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar,
tontas acaricia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de
novo ao centro da praça”.
Já o poeta e pensador francês, Paul
Valéry (1871/1945) disse: “É necessário mais espírito para prescindir de uma
palavra do que para empregá-la”. O ensaísta e poeta austríaco Karl Kraus
(1874/1936) afirmou: “Quanto mais de perto se encara uma palavra, com mais
distância ela nos encara de volta”. É do filósofo e teórico inglês Jeremy
Bentham (1749:1832) a citação: “E se o significado de todas as palavras,
especialmente de todas as palavras pertencentes ao campo da ética, (...) algum
dia vier a ser fixado! Que fonte de perplexidade, de erro, de discórdia, e até
mesmo de derramamento de sangue não seria estancada!”.
O filósofo austríaco radicado na
Inglaterra, Ludwig Wittgenstein (1889/1951) escreveu em 1940
(Culture and
value): “Uma teologia que insiste no uso de determinadas palavras e frases, ao
passo que proibi outras, em nada torna as coisas mais claras (...) Ela
gesticulada com palavras, como se poderia dizer, porque deseja dizer algo e não
sabe como expressa-lo. A praticada às palavras o seu significado”.
Já o filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844/1900) disse: “São as palavras mais tranqüilas que trazem a tempestade”. E
foi radical: “Deveríamos nos livrar, de uma vez por todas, da sedução das
palavras!”, escreveu em 1886 em “Além do bem e do mal”. Mas em 2003 Adriana
Falcão lançou seu Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento informando: “É a alma
da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o
significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas,
fazer sentido. (...) “A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra
sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta.
A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz
depois”.
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