No início era o verbo. E o verbo ainda
hoje cria o universo humano. Assim, a palavra tem poder.
Pode condenar, salvar,
iluminar; pode fazer adoecer, curar e dar esperança; fazer alguém feliz ou
triste. Quem fala sem pensar, age sem pensar. Saber calar é sabedoria, além de
ser obtida com muita disciplina. O pensador ocidental Wittgenstein (1889/1951),
numa visão empirista e científica, escreveu sobre a palavra: “Os limites de meu
mundo são os limites de minha linguagem”. Assim, somente o que é nominável, ou
seja, o que pode ser traduzido em palavras ou pensado, existe. Usamos palavras
o tempo todo e raramente pensamos no que dizemos e como falamos. É preciso
prestar mais atenção na escolha das palavras.
A linguagem dirige nossos pensamentos
para direções específicas e, de alguma forma, ela nos ajuda a criar a nossa
realidade, potencializando ou limitando as nossas possibilidades. A habilidade
de usar a linguagem com precisão é essencial para uma boa comunicação. Quem
tiver algo a dizer, que diga agora. Ou se cale para sempre. Assim começa um
grande amor aos pés do altar. Escolhida para casar, a palavra foi, de pronto,
inviolada, inaugurando uma nova união. De agora em diante, tudo dependerá da
força da palavra.
A palavra mal colocada, mal dita,
irresponsável, prolixa, incompreendida, ruído na comunicação. Pode até ser
inaudível, silenciosa como a linguagem dos sinais. Só não pode ser leviana,
traiçoeira, que engana. Na medida certa de fazer o bem sem olhar a quem a
palavra pode acolher, amparar, ajudar a crescer. Da ética e da moral, a palavra
tem que ser, sempre, natural. Ter argumento, consistente. Não pode ser
instrumento que sai da boca dos incautos, egoístas, vaidoso, demagogos e
mentirosos. Dos que prometem e não cumprem, dos eternos omissos e submissos.
Que trocam, por interesses, seus compromissos.
Somos feitos de palavras. Palavra é
poesia, música, harmonia. Palavra é uma invenção humana a fim de se perpetuar,
já que os seres humanos passarão e as palavras passarinho (lembrando o poeta
Mário Quintana: "Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles
passarão...eu passarinho!”). A palavra nasce, cresce, se desenvolve, cria asas
e voa. Está em todos os sonhos e sentimentos, em toda nossa vida. O que
seríamos sem a palavra? Um oceano de silêncio, de gestos intraduzíveis, um nada
perdido numa escuridão em busca de sons que pudessem nos traduzir, de letras
que pudessem nos desenhar.
A palavra nos distingue dos animais,
dando-nos o meio ideal de expressão, forma que nos faz criar, descobrir, viver
num mundo de sons criado para exaltar nossa diferença. O eco da palavra nos
acompanha vida afora. Cada som, sílaba, letra é uma vibração que ao falar
estamos voltando no ar. As ondas repercutem nos campos sutis das pessoas que as
ouvem, e repercutem em todo o universo, pois tudo está interligado. Todo
pensamento é palavra, pois aprendemos a pensar assim. E tudo pensamento é
energia, da mesma matéria prima que nosso corpo, animais, planta, e tudo o que
existe incluindo os minerais, vento, luz, etc.
Cada palavra expressada tem efeito em
nossas vidas e esta influência poderá ser a nosso favor ou contra nós, conforme
a ideia nela expressa. “Escrever – disse o escritor argentino Julio Cortazar –
é uma luta contínua com a palavra. Um combate que tem algo de aliança secreta”.
A palavra, como escrevi no início, tem poder. O pensamento correto leva a
palavra e à ação corretas. Tudo o que somos hoje é resultado do que pensamos.
Segundo um antigo provérbio tibetano, “as palavras não têm, nem pontas, nem
corte, mas podem ferir o coração de um homem”.
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