“A imagem te mostra a situação, a
palavra deve descrevê-la. E essa é a grande magia da palavra.
Nenhuma palavra
é, em si, poética. O que a torna poética é a palavra que está ao lado”, afirmou
o escritor português José Saramango na abertura da Feira do Livro de Sevilha,
Espanha em maio deste ano. Num século XXI em que as novas tecnologias parecem
colocar de escanteio a palavra impressa, mesmo nesse mundo invadido pela imagem
(televisão, vídeo, internet), a palavra ainda comanda. Nos contatos diários,
profissionais ou pessoais, a palavra é soberana. Isso porque a palavra é a
matéria-prima do pensamento. Conhecer a língua, saber falar corretamente para
ser compreendido, questionar e raciocinar são pontos importantes. Afinal,
dominar a palavra permite melhor controle do mundo ao seu redor.
“No princípio era o Verbo”. A
palavra constrói e destrói. Portanto, ser dono de seus pensamentos é poder
dirigir a própria vida e defender-se das manipulações econômicas, políticas e
sociais que sofremos no dia a dia. A jornalista, artista plástica e roteirista
Elvira Vigna discorda em achar que nossa época é do apogeu da imagem. “Acho que
nossa época matou a imagem. Fez isso ao elegê-la como a linguagem preferencial
da comunicação social. Nesta função, a imagem precisou se tornar cada vez mais
eficiente. Ter menos possibilidade de erro. Precisou ficar mais rasa, mais
rápida. Ser entendida da mesma forma por mais gente. Não propõe um diálogo.
Segue normas. De perfeição. É autoritária. E burra. O que nos salvará a todos é
a arte contemporânea. Opaca, complexa, dúbia. Efêmera. Imperfeita. E
inteligentíssima. Sempre com um texto escondido. Às vezes com um texto às
claras”.
A leitura, além de dar asas à
imaginação, é ponte que conduz ao conhecimento. O hábito de ler é
fundamental
para as pessoas desenvolverem a capacidade de pensar, refletir e argumentar.
Quem não lê, não desenvolve ideias e, consequentemente, não consegue se
comunicar com os outros. Ler, portanto, é um ato de libertação. É emancipação.
O escritor Mark Twain chegou a dizer que “o homem que não lê bons livros não
tem nenhuma. “Ler é a arte de mastigar com os olhos e ver com os ouvidos”,
lembra Carlos Nejar. E esta arte carece de incentivo desde o berço.
A falta de intimidade com a
leitura entre os alfabetizados é um problema que aflige o mundo há tempos. Em
1936, Mario de Andrade, então criador do Primeiro Departamento de Cultura de
São Paulo, já dizia: "A disseminação no povo do hábito de ler criará
fatalmente uma população urbana mais esclarecida, mais capaz de vontade
própria, menos indiferente à vida nacional."
Segundo teoria de Monteiro
Lobato, um país se faz de homens e de livros. O que nos dias atuais pode se
considerar uma oportunidade que foge da realidade do Brasil. Muitos relacionam a
falta de incentivo por parte dos pais e das instituições escolares, e até mesmo
o fato de que nem todos que apreciam o hábito da leitura têm condições
financeiras de comprar uma boa obra literária. Além das condições financeiras
em adquirir livros - por parte de quem já gosta de ler - outro ponto que
influencia o desinteresse ou incentivo pela leitura, e consequentemente as
vendas nas livrarias, é a falta de campanhas de incentivo à leitura por parte
do governo e seus educadores e dos pais que também não mantêm o hábito de ler.
O professor de português Pasquale
Cipro Neto afirma que o exercício que não pode faltar no aprimoramento do
idioma é o ato de ler. E reconhece a dificuldade que envolve a leitura,
principalmente na vida atual. "Ler é uma atividade penosa, exige
concentração, silêncio, raciocínio, solidão. Ler não se faz com a galera, com a
turma. Hoje as pessoas vivem em bando e tudo tem que ser feito em bando. Ler não é algo
que se faz em bando. É o oposto disto. Em tempos de vida moderna, do celular,
cadê a concentração? Cadê a solidão? Nestes tempos, ler é difícil",
conclui. O
professor acredita que há muita hipocrisia. Não se enfrentam as
coisas como elas são. "As pessoas querem o tempo todo confusão, se afastam
de si, têm medo delas mesmas. Neste contexto não há espaço para a
leitura."
“Ler é uma ação individual,
solitária e alienante do seu em torno. É seu maior problema e sua maior
qualidade. É o contrário do que se dá na tela anterior, a da televisão, que
permite o ´ver junto´. Ninguém lê junto. Ninguém senta junto no computador.
Ninguém pensa junto. Compartilha-se. É diferente. E muito, muito melhor. O
mundo melhorou. A tecnologia atual é melhor do que a anterior. Por exemplo, a
questão da imposição cultural. Não há muita defesa contra sitcoms. Mas enquanto
se falar `eu deletei`, quem tem de se defender é o inglês”. O assunto merece
mais discussão. Vamos voltar a escrever sobre a força da palavra brevemente,
aguarde.
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