Faz 30 anos que Raul Seixas (28 de junho
de 1945 – 21 de agosto de 1989) saiu de cena. Desde a morte do artista baiano,
um dos pioneiros na busca de identidade nacional para o rock produzido no
Brasil, a aura mitológica que envolve Raul ficou ainda mais forte. Mesmo depois
de sua morte, seu legado se mantém vivo. O público ainda grita: toca Raul!
Muitos eventos e homenagens já estão acontecendo pelo país com shows de covers,
musical contando sua vida, biografias inéditas e disco. O legado musical do
artista mantém viva a memória daquele que, sem dúvida, foi um dos maiores
fenômenos musicais do nosso país
Nos 30 anos sem Raul será publicada a
biografia “Raul Seixas por trás das canções” (Best Seller) do jornalista Carlos
Minuano. O livro é uma das surpresas em torno da data. Para novembro, está
previsto o lançamento de “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida”
(Todavia), escrito pelo jornalista Jotabê Medeiros, com revelações sobre
períodos obscuros da carreira do cantor. Ainda sem data, está prevista também
uma cinebiografia a ser dirigida por Paulo Morelli para a O2 Filmes. E haverá a
edição em LP duplo do raro “Eu não sou hippie”, gravação de um show de 1974 na
cidade mineira de Patrocínio. A iniciativa é da loja Record Collector junto com
o 180 Selo Fonográfico.
Cantor, compositor e multi-instrumentista,
ele conquistou uma legião de fãs e marcou gerações com sua irreverência e
inteligência ao fazer música. Nasceu em 28 de junho de 1945. Aos 12 anos,
sempre precoce, montou o primeiro grupo de rock de Salvador com aparelhos
elétricos. Ainda na adolescência, fundou o fã club de Elvis Presley. O garoto
de mente inquieta pensava em ser escritor, mas a criação literária ficou apenas
em um livro, escrito aos sete anos de idade, com histórias em quadrinhos.
No começo dos anos 1970, ainda mordido por
não ter conseguido estourar no Rio com os Panteras, sua banda de Salvador, Raul
recebeu um convite para ser produtor na CBS, gravadora de Roberto Carlos. Lá,
com o parceiro Mauro Motta, ele cuidava dos discos de um time de artistas que
fariam muito sucesso com canções simples, pós-jovem guarda: Odair José, Diana,
Márcio Greick, José Roberto, Paulo Gandhi, Monny e Balthazar. Nesta temporada
do outro lado do balcão, Raul andava de terninho preto, cabelo penteado e
óculos de grau.
Foi nesse período na gravadora que Raul
realizou, sem que Evandro soubesse, o conceitual “Sessão das dez”, com o grupo
Sociedade da Grã-Ordem Kavernista — irmandade formada por ele, Sérgio Sampaio,
Edy Star e Miriam Batucada. O LP maldito foi recolhido logo após o lançamento,
em julho de 1971. “Sessão das dez” foi a pirraça do produtor Raul, que em 1972
se lançou como artista solo nos festivais com “Let me sing, let me sing”.
Fez sua primeira grande aparição pública
no Festival Internacional da Canção, em 1972, com o rock/baião “Let Me Sing My
Rock And Roll”, depois de ter lançado como produtor na Bahia diversos artistas.
Quatro anos antes (1968) já tinha gravado Rauzito e seus Panteras. Em 1971
grava com Mirim Batucada, Sérgio Sampaio e Edy Star, o enigmático “Sociedade da
Gran Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”. O reconhecimento do público
chega com “Ouro de Tolo”, do primeiro LP solo, “Krig-Ha Bandolo!” (1793). Neste
ano começou a espalhar a idéia de fundar uma Sociedade Alternativa, anárquica e
espiritualista. O governo Geisel enxergou por trás desse projeto uma
conspiração e expulsou-o do País. Nos EUA, tornou-se íntimo de John Lennon e
Yoko Ono. No ano seguinte, o LP “Gita” estourou. Foi seu passaporte de retorno
ao Brasil. É o início da melhor fase do cantor.
O final dos anos 70 e boa parte dos 80
serão marcados por alguns hits esporádicos, denunciando uma carreira afetada
por problemas de saúde. O cantor volta aos palcos em 88 para uma turnê ao lado
de Marcelo Nova, com quem gravou “A panela do diabo”. No dia 21 de agosto de
1988, morre em conseqüência de uma parada cardíaca.
Quando morreu, de pancreatite, Raul era um
artista solitário, com a saúde e as finanças em frangalhos, relegado ao
ostracismo, que o ex-Camisa de Vênus Marcelo Nova tentava reerguer em shows do
LP conjunto “A panela do diabo”. Aos 44 anos, seus discos estavam, em boa
parte, fora de catálogo, e a bibliografia sobre ele era escassa.
Da morte para cá, Raul tornou-se uma
lenda. Inspirou dezenas de livros, até edição psicografada (como “Um roqueiro
no além”, de Nelson Moraes). São obras que vão “dos lixos mais absurdos, viagem
de cogumelo” a “trabalhos acadêmicos maçantes, mas muito sérios”, como diz
Sylvio Passos, presidente do Raul Rock Clube (do qual o primeiro associado foi
Raul). Amigo do cantor, Passos é guardião de sua memória e organizou o livro
“Raul Seixas por ele mesmo” (1990).
Considerado o pai do rock brasileiro, Raul
Seixas lançou 21 discos em 22 anos de carreira. Com sua música de letras
anárquicas e sarcásticas ele desenhou a face avessa de um país sem caráter.
Para isso usou como armas o non sense, a revolta, a loucura lúcida de um
“maluco beleza” que ora pregava a revolução total ora filosofava sobre sua
“sociedade alternativa”. Ele personifica como poucos a imagem do artista
irreverente, rebelde e conquistou ao longo de sua carreira uma legião de
admiradores que cresce a cada dia, tornando-o um mito. Se quando vivo Raul
conheceu o sucesso, ganhando vários discos de ouro, tendo suas músicas
freqüentado as paradas, lotado os locais onde se apresentou, depois de morto
virou mania. Ele virou referência para o que se convencionou chamar de rock
brasileiro.
As leituras de filosofia, esoterismo, história
e misticismo entre muitas outras influencias assimiladas por Raul Seixas
permite que a obra do artista trafegue em horizontes variados. Do baião ao
rock, suas canções constituem um amálgama peculiar que o mantem como mito,
bastante ousado até hoje, 30 anos após a morte.
Enquanto o mundo fervilhava no ritmo
frenético de Elvis Presley, um menino da Bahia deu à luz ao Rock no Brasil. Um
jovem sem limites que conquistou o coração e a mente de milhares de fãs, Raul
Seixas foi um homem que virou mito. O documentário “O Início, O Fim e O Meio”
desvenda por imagens raras de arquivo, encontro com familiares, conversas com
artistas, produtores e amigos, a trajetória da lenda do rock brasileiro. Raul
Seixas morreu jovem porque viveu intensamente e queria viver da sua obra e
morreu por ela.
5 comentários:
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