22 agosto 2019

Cyberpunk e cangaço misturados no gibi Cangaço Overdrive


Primeiro ele bebeu da fonte no álbum “Seca distorcida”, da banda de hardcore cearense Jumentaparida e de outra banda de hardcore, os paulistanos Aditive, além de duas figuras nordestinas que são fortes influências no seu trabalho: Chico Science e Patativa do Assaré. A narração é em forma de cordel onde as batalhas cibernéticas estão em conexão com um sertão distópico. Assim é Cangaço Overdrive, a revista em quadrinhos do roteirista Zé Wellington e do desenhista Walter Geovani lançada pela Editora Draco. Este projeto é apoiado pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará – Lei Estadual de Incentivo à Cultura Nº 13.811, de 16 de agosto de 2016.




O cearense Zé Wellington já é conhecido. Em 2014 ele produziu Quem Matou João Ninguém?, Em 2015 foi o vencedor do troféu HQ Mix na categoria Novo Talento Roteirista, por seu trabalho na graphic novel Steampunk Ladies – Vingança a Vapor.  Em 2018 ele voltou a publicar um novo álbum, pela mesma Editora Draco. Dessa vez a narrativa se passa em um futuro próximo e tem todas as marcações da estética cyberpunk, “baixas condições de vida, alta tecnologia”.




Na trama futurista, em uma região abandonada pelo governo e dominada por conglomerados empresariais, existe a resistência liderada por Rosa, a tataraneta de um cangaceiro que lutou ao lado de Cotiara e que já tinha a mente bastante libertaria para a época em que vivia. Essa comunidade auto gerida, tenta manter a luta contra a polícia abusiva e os interesses escusos desse grupo empresarial, afinal, neste futuro a escassez de água é grande e essa comunidade conseguiu sobreviver, graças a um poço, que mantem a infraestrutura do local, e amplia a cobiça dos grandes. Rosa lidera um grupo que luta para se manter firme num Brasil divido em dois, o Sul, com suas cidades tecnológicas e o Nordeste, cheio de morte e pobreza.



Tentando sobreviver neste ambiente inóspito, um grupo de fora-da-lei intercepta uma carga fortemente protegida pela corrupta polícia daquela época. Ao abrir o contêiner conquistado depois de muita troca de tiro, os jovens se deparam com Cotiara, um legítimo cangaceiro, uma daquelas figuras mitológicas que levaram o terror a regiões nordestinas durante a primeira metade do século passado. Cotiara surge revivido e com diversos implantes físicos e mentais da mais alta tecnologia disponível.




Essa mistura de cyberpunk, cangaço e cordel é bem fluida e a arte de Walter Geovani e Luiz Carlos B. Freitas apresenta bem seus personagens. As cores de Dika Araújo trazem tons neon no futuro e áridas e secas quando se passa no sertão antigo. Muito boa produção que vale conferir. Quando esteve em Salvador participando de uma mesa redonda na Flipelô 2019 Zé Wellington revelou que sua próxima produção é a quadrinização de Luzia Homem, uma retirante que enfrenta a grande seca da região com sua extrema força física. Romance do escritor Domingos Olímpio publicada em 1903.

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