Primeiro ele bebeu da fonte no álbum “Seca
distorcida”, da banda de hardcore cearense Jumentaparida e de outra banda de
hardcore, os paulistanos Aditive, além de duas figuras nordestinas que são
fortes influências no seu trabalho: Chico Science e Patativa do Assaré. A
narração é em forma de cordel onde as batalhas cibernéticas estão em conexão
com um sertão distópico. Assim é Cangaço Overdrive, a revista em quadrinhos do
roteirista Zé Wellington e do desenhista Walter Geovani lançada pela Editora Draco.
Este projeto é apoiado pela Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará
– Lei Estadual de Incentivo à Cultura Nº 13.811, de 16 de agosto de 2016.
O cearense Zé Wellington já é conhecido.
Em 2014 ele produziu Quem Matou João Ninguém?, Em 2015 foi o vencedor do troféu
HQ Mix na categoria Novo Talento Roteirista, por seu trabalho na graphic novel
Steampunk Ladies – Vingança a Vapor. Em
2018 ele voltou a publicar um novo álbum, pela mesma Editora Draco. Dessa vez a
narrativa se passa em um futuro próximo e tem todas as marcações da estética
cyberpunk, “baixas condições de vida, alta tecnologia”.
Na trama futurista, em uma região
abandonada pelo governo e dominada por conglomerados empresariais, existe a
resistência liderada por Rosa, a tataraneta de um cangaceiro que lutou ao lado
de Cotiara e que já tinha a mente bastante libertaria para a época em que
vivia. Essa comunidade auto gerida, tenta manter a luta contra a polícia
abusiva e os interesses escusos desse grupo empresarial, afinal, neste futuro a
escassez de água é grande e essa comunidade conseguiu sobreviver, graças a um
poço, que mantem a infraestrutura do local, e amplia a cobiça dos grandes. Rosa
lidera um grupo que luta para se manter firme num Brasil divido em dois, o Sul,
com suas cidades tecnológicas e o Nordeste, cheio de morte e pobreza.
Tentando sobreviver neste ambiente
inóspito, um grupo de fora-da-lei intercepta uma carga fortemente protegida
pela corrupta polícia daquela época. Ao abrir o contêiner conquistado depois de
muita troca de tiro, os jovens se deparam com Cotiara, um legítimo cangaceiro,
uma daquelas figuras mitológicas que levaram o terror a regiões nordestinas
durante a primeira metade do século passado. Cotiara surge revivido e com
diversos implantes físicos e mentais da mais alta tecnologia disponível.
Essa mistura de cyberpunk, cangaço e
cordel é bem fluida e a arte de Walter Geovani e Luiz Carlos B. Freitas
apresenta bem seus personagens. As cores de Dika Araújo trazem tons neon no
futuro e áridas e secas quando se passa no sertão antigo. Muito boa produção
que vale conferir. Quando esteve em Salvador participando de uma mesa redonda
na Flipelô 2019 Zé Wellington revelou que sua próxima produção é a
quadrinização de Luzia Homem, uma retirante que enfrenta a grande seca da
região com sua extrema força física. Romance do escritor Domingos Olímpio
publicada em 1903.
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