12 agosto 2019

Música e HQ na Bienal de Quadrinhos de Curitiba 2020


Elas trabalham os nossos sentidos. Enquanto o conteúdo da história em quadrinhos é absorvido por nossos olhos, o conteúdo de uma trilha sonora é absorvido por nossos ouvidos gerando diferentes sensações. A união de ambas as mídias é poderosa. O processo de elaboração da música e dos quadrinhos é semelhante. Na música tudo começa pela letra, que nada mais representa que o argumento nos quadrinhos. A música propriamente dita, é feita em uma partitura que pode ser associada com os desenhos. Passadas essas fases vem a escolha do ritmo e a distribuição dos quadros através das páginas, que são muito parecidas, afinal são esses dois itens que determinam a velocidade que será dada a ambas. Além disso, tanto uma quanto a outra são usadas para exprimir ideias, sentimentos e visões sobre determinados assuntos. É uma fonte que leva a mensagem dos autores para o público. A música utiliza o estimulo auditivo, os quadrinhos o estimulo visual.


A música será o fio condutor da Bienal de Quadrinhos de Curitiba. Os debates, exposições, oficinas, festas, sessões de cinema, e da tradicional feira de gibis será realizada no período de 06 a 09 de agosto de 2020. Evento totalmente gratuito acontece em na área interna e externa do Museu Municipal de Arte, no Portão Cultural, em Curitiba.

Formação, divulgação, reconhecimento, acolhimento e troca. Estas são algumas das marcas da Bienal de Quadrinhos de Curitiba. Em seus eventos, e em sua programação, a perspectiva histórica da cidade com os quadrinhos e com o público interessado é desdobrada em atividades, palestras, lançamentos e principalmente encontros transformadores.

A produção do chargista Alceu Chichorro (1896-1977) é considerada o marco zero do quadrinho curitibano. A Editora Grafipar, por sua vez, colocou Curitiba no mapa, competindo de igual para igual com editoras de Rio e São Paulo nos anos 1970 e 1980. A criação da Gibiteca de Curitiba, em 1982, foi a pedra fundamental para o aumento do envolvimento e do interesse pela chamada oitava arte. A Bienal de Quadrinhos, em suas edições diversas, foi o marco mais recente e consolidou uma realidade já existente, porém latente, ao projetar ideias, artistas e quadrinhos para além das fronteiras do estado e do país.


A relação de troca existente entre música e quadrinhos e muito grande. O número de personagens que saiu das páginas para os discos é grande. Alguns foram cantadas por vozes anônimas, outros tiveram seus nomes em gargantas famosas como a do vocalista do Queen, Fred Mercury, que interpretou Flash Gordon. Flash Gordon, nono álbum de estúdio da banda Queen, feito para a trilha sonora do filme homônimo lançado em 1980. Foi a primeira vez que a banda entrou em estúdio para produzir toda a trilha sonora de um filme para o cinema.

A clássica música de abertura da série Batman foi composta pelo trompetista, arranjador e compositor Neal Hefti e fez sucesso durante a década de 1960. A emblemática música, um surf-rock que transmite com perfeição o espírito da série com um Batman alegre, chegou a estar entre as quarenta mais vendidas.  Batman, o Cavaleiro das Trevas teve inúmeras visões para suas aventuras, desde Nelson Riddle que compôs sua trilha original até Danny Elfman e Prince. “Batman” – a série, gravado em 1966, teve a música composta e orquestrada por Nelson Riddle. Seu riff de guitarras, meio surf music, meio rockabilly, influenciou uma série de outras trilhas. A composição serviu de inspiração para diversos artistas e ganhou inúmeras versões, incluindo as feitas por bandas como The Who e The Kinks.


Kelly Sue DeConnick, responsável pela nova série de quadrinhos do Aquaman, e a experiente autora, que ganhou notoriedade com Bitch Planet e Capitã Marvel, explicou sua visão nada tradicional sobre o icônico herói da DC: "Eu penso em termos sonoros, então penso nas camadas das minhas obras como uma música", disse Kelly para a revista Entertainment Weekly. “Preety Deadly (HQ lançada em 2001 pela Image Comics) é Ennio Morricone (compositor italiano dos clássicos cinematográficos Três Homens em Conflito e Era uma Vez no Oeste), e Capitã Marvel é Tom Petty. Já Aquaman é Led Zeppelin. É grande, místico, é o vento batendo no rosto, um baixo pesado e vocais agudos”.

No Brasil e fora dele, música e quadrinhos sempre fizeram bons duetos, como artes complementares ou inspiradoras uma da outra. Desenhos invadem capas e encartes de discos e cds sem pedir licença e superstars da música se inspiram nos quadrinhos ou viram personagens de revistas. Um troca-troca que sempre esteve nos gibis. Na 6ª edição do maior evento de quadrinhos do sul do país, os projetos e atividades terão a música como referência, seja para as próprias criações musicais, de álbuns e canções, ou como inspiração para capas de discos. A música vibra e faz vibrar e este é outro atributo que a Bienal de Quadrinhos pretende aproveitar em sua edição de 2020. Em tempos em que o mundo se mostra mais sombrio, ríspido e silencioso, cantar, dançar e promover encontros e coros, como sempre fizemos, nos parece ser um caminho mais leve e oportuno. A música como celebração, enfim.


Quem está na curadoria da edição 2020 é o pintor, quadrinista e ilustrador Fabio Zimbres, e Mitie Taketani, proprietária da loja Itiban Comic Shop, reduto incentivador da nona arte em Curitiba há 30 anos. Fabio sempre teve um pé lá e outro cá: em 2006, publicou a graphic novel “Música Para Antropomorfos”, inspirada na banda de rock Mechanics. Convidados nacionais e internacionais que tenham envolvimento com música e HQs serão anunciados nos próximos meses. A Bienal de Quadrinhos 2020 terá patrocínio da Copel, e seguindo sua constante proposta de formação, diálogo e criação, pretende receber mais de 30 mil pessoas durante sua próxima edição.

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