Elas trabalham os nossos sentidos. Enquanto
o conteúdo da história em quadrinhos é absorvido por nossos olhos, o conteúdo
de uma trilha sonora é absorvido por nossos ouvidos gerando diferentes
sensações. A união de ambas as mídias é poderosa. O processo de elaboração da
música e dos quadrinhos é semelhante. Na música tudo começa pela letra, que
nada mais representa que o argumento nos quadrinhos. A música propriamente dita,
é feita em uma partitura que pode ser associada com os desenhos. Passadas essas
fases vem a escolha do ritmo e a distribuição dos quadros através das páginas,
que são muito parecidas, afinal são esses dois itens que determinam a
velocidade que será dada a ambas. Além disso, tanto uma quanto a outra são
usadas para exprimir ideias, sentimentos e visões sobre determinados assuntos.
É uma fonte que leva a mensagem dos autores para o público. A música utiliza o
estimulo auditivo, os quadrinhos o estimulo visual.
A música será o fio condutor da Bienal
de Quadrinhos de Curitiba. Os debates, exposições, oficinas, festas,
sessões de cinema, e da tradicional feira de gibis será realizada no período de
06 a 09 de agosto de 2020. Evento totalmente gratuito acontece em na área
interna e externa do Museu Municipal de Arte, no Portão Cultural, em Curitiba.
Formação, divulgação, reconhecimento,
acolhimento e troca. Estas são algumas das marcas da Bienal de Quadrinhos de
Curitiba. Em seus eventos, e em sua programação, a perspectiva histórica da
cidade com os quadrinhos e com o público interessado é desdobrada em
atividades, palestras, lançamentos e principalmente encontros transformadores.
A produção do chargista Alceu Chichorro
(1896-1977) é considerada o marco zero do quadrinho curitibano. A Editora
Grafipar, por sua vez, colocou Curitiba no mapa, competindo de igual para igual
com editoras de Rio e São Paulo nos anos 1970 e 1980. A criação da Gibiteca de
Curitiba, em 1982, foi a pedra fundamental para o aumento do envolvimento e do
interesse pela chamada oitava arte. A Bienal de Quadrinhos, em suas edições
diversas, foi o marco mais recente e consolidou uma realidade já existente,
porém latente, ao projetar ideias, artistas e quadrinhos para além das
fronteiras do estado e do país.
A relação de troca existente entre música
e quadrinhos e muito grande. O número de personagens que saiu das páginas para
os discos é grande. Alguns foram cantadas por vozes anônimas, outros tiveram
seus nomes em gargantas famosas como a do vocalista do Queen, Fred Mercury, que
interpretou Flash Gordon. Flash Gordon, nono álbum de estúdio da banda Queen,
feito para a trilha sonora do filme homônimo lançado em 1980. Foi a primeira
vez que a banda entrou em estúdio para produzir toda a trilha sonora de um
filme para o cinema.
A clássica música de abertura da série
Batman foi composta pelo trompetista, arranjador e compositor Neal Hefti e fez
sucesso durante a década de 1960. A emblemática música, um surf-rock que
transmite com perfeição o espírito da série com um Batman alegre, chegou a
estar entre as quarenta mais vendidas. Batman,
o Cavaleiro das Trevas teve inúmeras visões para suas aventuras, desde Nelson
Riddle que compôs sua trilha original até Danny Elfman e Prince. “Batman” – a
série, gravado em 1966, teve a música composta e orquestrada por Nelson Riddle.
Seu riff de guitarras, meio surf music, meio rockabilly, influenciou uma série
de outras trilhas. A composição serviu de inspiração para diversos artistas e
ganhou inúmeras versões, incluindo as feitas por bandas como The Who e The
Kinks.
Kelly Sue DeConnick, responsável pela nova
série de quadrinhos do Aquaman, e a experiente autora, que ganhou notoriedade
com Bitch Planet e Capitã Marvel, explicou sua visão nada tradicional sobre o icônico
herói da DC: "Eu penso em termos sonoros, então penso nas camadas das
minhas obras como uma música", disse Kelly para a revista Entertainment
Weekly. “Preety Deadly (HQ lançada em 2001 pela Image Comics) é Ennio Morricone
(compositor italiano dos clássicos cinematográficos Três Homens em Conflito e
Era uma Vez no Oeste), e Capitã Marvel é Tom Petty. Já Aquaman é Led Zeppelin.
É grande, místico, é o vento batendo no rosto, um baixo pesado e vocais
agudos”.
No Brasil e fora dele, música e quadrinhos
sempre fizeram bons duetos, como artes complementares ou inspiradoras uma da
outra. Desenhos invadem capas e encartes de discos e cds sem pedir licença e
superstars da música se inspiram nos quadrinhos ou viram personagens de
revistas. Um troca-troca que sempre esteve nos gibis. Na 6ª edição do maior
evento de quadrinhos do sul do país, os projetos e atividades terão a música
como referência, seja para as próprias criações musicais, de álbuns e canções,
ou como inspiração para capas de discos. A música vibra e faz vibrar e este é
outro atributo que a Bienal de Quadrinhos pretende aproveitar em sua edição de
2020. Em tempos em que o mundo se mostra mais sombrio, ríspido e silencioso,
cantar, dançar e promover encontros e coros, como sempre fizemos, nos parece
ser um caminho mais leve e oportuno. A música como celebração, enfim.
Quem está na curadoria da edição 2020 é o
pintor, quadrinista e ilustrador Fabio Zimbres, e Mitie Taketani, proprietária
da loja Itiban Comic Shop, reduto incentivador da nona arte em Curitiba há 30
anos. Fabio sempre teve um pé lá e outro cá: em 2006, publicou a graphic novel
“Música Para Antropomorfos”, inspirada na banda de rock Mechanics. Convidados
nacionais e internacionais que tenham envolvimento com música e HQs serão
anunciados nos próximos meses. A Bienal de Quadrinhos 2020 terá patrocínio da
Copel, e seguindo sua constante proposta de formação, diálogo e criação,
pretende receber mais de 30 mil pessoas durante sua próxima edição.
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