Costuma-se considerar o dia 19 de
agosto de 1839 como o dia de nascimento da fotografia, data em que a invenção
do daguerreótipo (aparelho revelador, que usava chapa de cobre sensibilizada
com prata e tratada com vapores de iodo) – depois de anunciada pública e
oficialmente em Paris pelo astrônomo François Arago, secretário da Academia de
Ciências francesa – foi revelada em seus detalhes técnicos, tornado possível a
sua realização em qualquer parte do mundo. Mas, a descoberta da fotografia no
Brasil faz 180 anos despercebida por brasileiros. Hercule Florence dizia ter
tido ideia inicial em Campinas em agosto de 1832. Pesquisa comprovou o ocorrido
140 anos depois.
Sua invenção foi uma consequência
direta do desenvolvimento científico. As teorias sobre a luz (de Aristóteles
até os alquimistas), as observações sobre a decomposição fotoquímica das cores,
a câmera “obscura” (descoberta por Leonardo da Vinte) até o daguerreotipo, a
primeira câmara fotográfica, demonstram que a fotografia teve sua pré e
proto-história imersas na ciência. Hoje a fotografia é parte indispensável da
pesquisa científica. Um astrônomo usa-a para registrar a imagem de um corpo
celeste distante milhares de anos-luz da Terra. O biólogo recorre a ela para
documentar um objeto que deve ser ampliado 40 mil vezes para se tornar visível.
A história da fotografia, no
século 19, se confunde com a própria história da ciência. A fotografia vinha
então para aperfeiçoar dois instrumentos desenvolvidos para auxiliar o
cientista: o microscópio e o telescópio. Os livros de anatomia, histologia ou
astronomia substituíam as ilustrações feitas a nanquim pela fotografia.
Louis Jacques Mande Daguerre, um
pintor já célebre e popular, decorador de teatros e inventor do diorama, havia
chegado ao daguerreótipo há algum tempo, em 1837, graças às pesquisas iniciadas
muito antes por Nicéphore Niépce, com quem Daguerre havia insistido em firmar
uma sociedade no ano de 1829. Para Daguerre era bastante conveniente o entusiasmo
de François Arago e sua disposição de conseguir que o governo francês
adquirisse a patente do daguerreotipo, recompensando adequadamente seus
inventores, já que, até esse momento (janeiro de 1839), ele ainda não havia
encontrado uma solução satisfatória para a comercialização do novo invento.
Até 1976, muito pouca gente já
tinha ouvido falar no nome de Hercules Florence, um pesquisador francês que
viveu entre 1830 e 1879, na Vila de São Carlos, hoje Campinas. Um número ainda
menor de pessoas ousaria supor que este homem seria o inventor da fotografia.
Antoine Hercules Romuald Florence, utilizando-se de meios precários, realizou
pela primeira vez na história – em 1833 – a fixação da imagem em papel
sensível.
A intenção de Florence era a de
criar uma forma de reprodução gráfica, tendo em vista a inexistência de uma
tipografia na região. Só que, pesquisando a sensibilidade dos sais de prata aos
raios solares, a potencialidade da amônia como fixador e a câmara obscura, ele
chegou, antes dos reconhecidos e consagrados cientistas europeus, à fotografia,
cuja denominação, photographie. Em
1976, uma pesquisa de Boris Kossoy tornou público invento e inventor. Depois
então Hercules Florence passou definitivamente à história.
A comprovação do pioneirismo de
Florence na Vila de São Carlos, hoje conhecida como Campinas (SP), demorou mais
de 140 anos para ser feita e reconhecida internacionalmente. Em 1976, o
fotógrafo e professor Boris Kossoy divulgou em um simpósio nos EUA a pesquisa
que resultou na primeira edição de seu livro, "Hercule Florence - A
descoberta da fotografia no Brasil", lançada em 1980. O feito em terras
brasileiras passou a ser mencionado em novas publicações sobre a história da
fotografia em todo o mundo ao longo das últimas décadas, mas mesmo assim ainda
permanece desconhecido para a maioria dos brasileiros.
E na era moderna, não há vida sem
fotografia. Sua foto está na carteira de identidade, de motorista, passaporte
ou no crachá da empresa. Nosso relacionamento com a fotografia começa antes
mesmo do nascimento, quando somos fotografados dentro da barriga materna por
meio da ultra-manografia. Assim a vida contemporânea é uma longa sucessão de
sessões de poses.
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