A ideia de diversidade está ligada aos
conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de
abordagem, heterogeneidade e variedade. “Vivemos todos sob o mesmo céu, mas nem
todos têm o mesmo horizonte”, disse Konrad Adenauer. O brasileiro tem muita
dificuldade em aceitar a diversidade. Não tem consciência de que nosso país é
um viveiro de diferenças, desde as espécies da fauna e da flora e
diversificadas regiões geográficas até nossa enorme variedade humana, cultural,
religiosa e linguística. E por que isso? Para muitos, essa nossa mistura evoca
a ideia de inferioridade. Esse pensamento retrógrado veio de cinco séculos
passados, de uma ideologia eurocêntrica que dizia que o elemento branco
conquistador é superior. Essa ideia está na base da nossa formação desde o
século 16.
Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil
escreveram cartas informando que a miscigenação entre brancos, índios e negros
acarretaria um gradual branqueamento, correspondente a uma evolução para esses
contingentes humanos tidos como inferiores, menos inteligentes. Esses
pensamentos atravessaram séculos e geraram preconceito, exclusão, vergonha e
estão presentes no imaginário coletivo.
No século 16 o povo ibérico queria
expandir seus territórios e sua visão de mundo se baseava na racionalidade e no
dogma cristão. Os povos milenares que ocupavam as Américas se relacionavam com
o meio ambiente e tinha uma maneira totalmente distinta dos europeus. O
encontro entre esses dois grupos humanos (ibéricos e americanos) gerou povos
híbridos a partir da subordinação violenta do ameríndio ao europeu. Os valores
e interesses da civilização branca foram impostos às custas de negação de
valores humanos dos povos indígenas.
O antropólogo Darcy Ribeiro disse que o
pai do povo brasileiro é branco, mas a mãe que o gerou é índia. O filho desse
casal fundador é um mestiço bastardo e desorientado. Os colonizadores faziam
questão de rebaixar a figura materna, gerando o sentimento de que nossa gente
tem uma origem desprovida de valor. Esse foi todo o problema histórico que
gerou o sentimento incômodo com a diferença.
E como disse o analista Roberto Gambini,
“o amor se nutre da diversidade do outro em relação a mim. Amor não é fusão, é
aceitação daquilo que não sou eu. Se todos fossem iguais, não seria necessária
grandeza alguma, apenas uma boa acomodação. O Brasil é um país que clama por um
amor generoso pelo diferente e por uma compreensão da riqueza que nasce da
alquimia das diferenças. Mas nada disso está muito claro em nossa mentalidade
coletiva. Falta foco, faltam linhas que aprofundem e direcionem essa reflexão.
Ainda não descobrimos que aprender a respeitar e conviver com diferentes
maneiras de ser nos faz crescer como seres humanos”.
Educação é a única coisa que pode promover
a ascensão social da próxima geração das camadas menos favorecidas e gerar
mudança social. É preciso tolerância, respeito e compreensão do valor da
diversidade, aliados a um gradativo nivelamento das diferenças sociais.
Uma pesquisa desvendou a complexidade do
perfil do povo brasileiro. Preconceituoso, conservador ou mesmo um pouco
acomodado, o Brasil é um país que, em muitos aspectos, é completamente
diferente do que se imagina. Foi a essas e a outras conclusões que chegou o
sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alberto
Almeida, quando concluiu o livro “A Cabeça do Brasileiro” (Editora Record).
Algumas conclusões chegam a ser óbvias, como o fato de que grupos sociais com
menos escolaridade apresentam mais resistência ao pluralismo de ideias. Outras
chegam a ser preocupantes, como a pouca mobilização dos brasileiros para lutar
por causas coletivas, como melhores ambientes de trabalho e salários mais
justos.
Apesar disso, o autor explica que a
tendência mundial é a do individualismo. Além disso, o preconceito ainda está
muito presente no dia-a-dia da população, afetando diretamente os processos de
recrutamento e seleção e dificultando o aproveitamento do famoso conceito de
‘diversidade’ organizacional. Assim, mulheres e negros continuam a receber
salários menores, enquanto homossexuais são alvo de piadas dos colegas de
trabalho. Segundo o professor, “as pessoas de escolaridade baixa são mais
tradicionalistas, enquanto aquelas de escolaridade mais elevada aceitam mais o
pluralismo, as diferenças, o novo. O brasileiro ainda reivindica pouco, reclama
pouco. É um povo que evita o conflito. Ao reivindicar por melhores salários ou
promoções, melhores condições de trabalho, a busca costuma ser mais individual
do que coletiva, mas isso não é algo exclusivo do Brasil. É um fenômeno
mundial”. (Texto de 2008)
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