Para Além do Obsceno, primeiro capítulo,
o autor investiga como as representações cinematográficas do sexo embaralham pornografia
e erotismo. A ordenação do obsceno tem sua investigação no segundo capítulo,
Arquivo do Sexo Silencioso, mostrando do processo cinema pornográfico,
transgressões eróticas, associadas à visibilidade da nudez e da sedução sexual.
A partir da década de 1930 começou o
Código Hays. Este é o assunto do terceiro capítulo, Erotização e Censura. De
q1934 a 1966, cenas de sexo, insinuações eróticas, demonstrações demasiadas de
afetos, beijos, nudez foram reprimidas pelo Código de Produção, que impôs aos produtores,
diretores, atores, que quisesse ter seus filmes exibidos, alguns de formas
repressoras para se ter um selo de aprovação.
Para o pesquisador, o sexo como política
do desejo foi representado de modo libertário por alguns cineastas, muitos
contraculturais, de Paul Morrissey a Pasolini, de Kenneth Anger a John Waters,
de Bertolucci a Godard, de Gregg Araki a Pedro Almodóvar, de Barbara Hammer a
Catherine Breilat. Não há como
dissociar a discussão sobre sexo e sexualidades
de qualquer perspectiva de mudança social. Como dizia Herbert Marcuse, o debate
sobre emancipação, direitos humanos, liberdade de expressão, tem sentido quando
há o empoderamento de liberação sexual num nível subjetivo e coletivo. Evidente
que há muita tensão contrária. A história do cinema também é a história da
censura do sexo. Desde o Código Hays, que vetou a representação do sexo e das
sexualidades nos EUA de 1934 a 1966, até os movimentos contemporâneos
conservadores que buscam a evangelização do desejo em prol da normativa não-libertária.
Na França, acabou de ser censurado O Anticristo, de Lars Von Trier, além do
premiado Azul é a Cor mais Quente, de Abdellatif Kechiche. O Brasil, ainda que
pornô, vive de modo geral um pânico do orgasmo e dos prazeres explícitos,
reiterando tabus, machismo e homofobia, infelizmente. Mas creio na potência do
empoderamento que estamos construindo contra tais normativas. Censurar o sexo é
o primeiro passo para censurar tudo.
Uma das conclusões a que chegou Gerace é
que o sexo também tem uma função política — como na
filmografia do italiano
Pier Paolo Pasolini, em que, de acordo com o sociólogo, o orgasmo entra como
metáfora da revolução social. “Não quero entender o sexo. Eu quero saber como
cada sociedade visualiza o sexo”, diz. “Para isso, é preciso entender os
códigos morais de cada era”.
Especificamente sobre o cinema
brasileiro, o autor diz que as produções independentes vivem uma fase mais
liberal. “Existe uma maior exploração da sexualidade e de questões de gêneros
em filmes como Tatuagem (2013) e Madame Satã (2002). É preciso lembrar, no
entanto, que não é a carga sexual que vai classificar uma obra como
transgressora, se não todos os filmes da Brasileirinhas (produtora de filmes
eróticos) seriam revolucionários”, brinca.
As representações do desejo aclamadas dentro
de um cinema que experimentou o sexo e suas possibilidades de estilos, gêneros,
comportamento e imaginação estão no quarto capítulo, Êxtase no Cinema
Experimental. No quinto capítulo, O Império do Erotismo, demarca como essa
experimentação possibilitou o intercâmbio dos gêneros cinematográficos,
expandindo a sexualidade e colocando o prazer sexual como epicentro político.
Cinema Explícito Contemporâneo, tema do
sexto capitulo, o autor verifica como, na década de 1980 e meados de 1990, o
advento da Aids embaralhou vários discursos conservadores diante do sexo. O
sétimo capítulo, Pornografias Contemporâneas, trata do universo das
pornografias alternativas.
Em
livro, Rodrigo Gerace analisa as fronteiras entre o erótico, obsceno e o
pornográfico nas telas
10 filmes entre os essenciais à pesquisa
de Rodrigo Gerace
2 - "Um canto de Amor" (1950),
de Jean Genet
3 - "Flaming Creatures"
(1963), de Jack Smith
4 - "Sou curiosa, Amarelo"
(1967), de Vilgot Sjöman
5 - "Blue Movie/Fuck" (1968),
de Andy Warhol
6 - "Pink Flamingos" (1972),
de John Waters
7 - "Garganta Profunda"
(1972), de Gerard Damiano
8 - "Império dos Sentidos"
(1976), de Nagisa Oshima
9 - "Paris Is Burning" (1990),
de Jennie Livingston
10 - "Blue Movie - O Filme
Proibido" (1995), de Alex de Renzy
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