Sua poesia é de essências, precisa e
substantiva. Clara e doce. Bonita e sensual como as mulheres que
canta, com um
misto de malícia e delicadeza. E em linguagem e dicção tão populares quanto os
personagens que recriou. Seu estilo inimitável de compor e cantar influenciou
várias gerações de músicos brasileiros. Importantes homenagens dentro e fora do
Brasil marcaram os anos 80 para Caymmi. Em 1984, no seu septuagésimo aniversário,
ele foi condecorado em Paris pelo ministro da cultura francês, Jack Lang, com a
Comenda das Artes e Letras da França, atribuída a importantes personalidades
culturais. No ano seguinte, inaugurou-se em Salvador a Avenida Dorival Caymmi.
“Mangueira vê no céu dos orixás/o
horizonte rosa/no verde do mar/a alvorada veste a fantasia/pra exaltar Caymmi e
a velha Bahia/ô ô ô/quanto esplendor/nas igrejas soam hinos de louvor/e pelos
terreiros de magia/o ecoar anuncia o novo dia/nessa terra fascinante/a capoeira
foi morar/o mundo se encanta(bis)/com as cantigas que fazem sonhar (bis)/lua
cheia/leva a jangada pro mar/oh! sereia como é belo o seu cantar/das estrelas/a
mais linda tá no Gantois/Mangueira berço do samba/ Caymmi a inspiração/que mora
no meu coração/Bahia terra sagrada/de Iemanja e Iansan/Mangueira super
campeã/tem xinxim e acarajé/tamborim e samba no pé (bis)” (Caymmi mostra ao
mundo o que a Bahia e a Mangueira tem, letra de Lvo, Paulinho e Lula). Em 1986,
no Rio, o artista virou enredo da Estação Primeira de Mangueira, com o qual a
escola de samba venceu o
desfile do carnaval daquele ano. Caymmi foi o primeiro
baiano a ganhar o Prêmio Jorge Amado. O compositor foi escolhido por
unanimidade para receber o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte,
edição 2006, dedicado à música popular brasileira.
Tem muitos compositores que lhe
homenagearam. Na canção “Nação”, João Bosco, Aldir Blasnc e Paulo Emílio cantam
“Dorival Caymmi falou para Oxum/com Silas tou em boa companhia/o céu abraça a
terra/deságua o Rio na Bahia”. Em “Buda nagô”, Gilberto Gil revela: “Dorival é
um buda nagô/filho da casa real da inspiração/como príncipe principiou/a nova
idade da canção”. Toquinho e Vinícius de Moraes em “Tarde de Itapoã” entoavam:
“Depois, na praça Caymmi,/sentir preguiça no corpo/e,numa esteira de
vime,/beber uma água de coco”.
“Acho o Caymmi ilimitado, como o oceano
que ele canta”, definiu Tom Jobim. Já o escritor e amigo Jorge Amado o pintou
como “o cantor das graças da Bahia”. Ele foi um dos primeiros compositores a
gravar suas próprias canções, numa época em que o habitual era o autor entregar
a música para um cantor. Antonio Carlos Jobim lhe admira as modulações de
meio-tom. Baden Powell foi buscar nele a base dos sambas-afros. Edu Lobo se
ouve nas músicas do baiano. O segredo da linguagem musical de Caymmi, segundo o
crítico Luís Antônio Giron (Suplemento Mais, abril 1994) está na simplicidade e
na funcionalidade. “Foi autodidata. Começou a tocar violão alterando os acordes
perfeitos (dos quais se compõe o sistema tonal), introduzindo dissonâncias,
arpejando as cordas com descontinuidade. Possuía na juventude a intuição do
artesão, aquele eu redescobre e encena nos dedos a história do som.
“Afastou-se desde o início com a
quadratura do samba e da canção porque adotou o único método que tinha à
disposição: o modalismo (sistema baseado em escalas diversas) típico da música
baiana. Soube dar leveza às cantigas do candomblé e absorveu o espírito da
música da cidade”. Em 1992 Chico Buarque compôs e gravou “Paratodos” onde em um
trecho canta: “Nessas tortuosas trilhas/a viola me redime/creia, ilustre
cavalheiro/contra fel, moléstia, crime/use Dorival Caymmi/vá de Jackson do
Pandeiro”.
Já a homenagem de Sérgio Santos e Paulo
César Pinheiro está em “Oba de Xangô”. Diz a letra: “Caymmi é um criador
abençoado/navegador das águas da canção/é o compositor do mar predestinado/seu
violão tem cordas de sargaço/e foi cortado de um pedaço de uma velha
embarcação//Caymmi é um deus do mar reencarnado/por isso que seu canto é uma
oração/e para quem descobre o som ele é sagrado/o vento é que lhe sopra
melodia/estrela dalva, poesia/e a voz é de arrebentação//Caymmi tem espuma no
cabelo/e o seu olhar é o sete estrelo/que a três filhos já criou/guardião das
tuas lendas, pescador/pintor do que compõe um cantador//Caymmi é o rei do mar,
é o soberano/cavaleiro do oceano, Iemanjá que coroou//De todas as marés sabe o
segredo/é o canoeiro de São Pedro/o Oba mais velho de Xangô”.
“É tarde/A manhã já vem/Todos dormem/A
noite também/Só eu velo/Por você, meu bem/Dorme anjo/O boi pega Neném/Lá no
céu/Deixam de cantar/Os anjinhos/Foram se deitar/Mamãezinha Precisa
descansar/Dorme, anjo/Papai vae lhe ninar/"Boi, boi, boi,/Boi da cara
preta/Pega essa menina/Que tem medo de careta" Acalanto (Dorival Caymmi)
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