Denise Tavares, a fada dos livros, obra
da Coleção Gente da Bahia lançada recentemente por Aurora
Vasconcelos e Fabiano
Oliveira Viana pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia é puro deleite.
“Talvez, para os jovens de hoje, a criação de uma biblioteca infantil por uma
professora, na década de 1950, e sua luta para conservá-la, não seja assunto
que valha um livro. Porém, se estudarmos o papel da mulher nos anos de 1950 e
1960, sem dúvida passaremos a entender e admirar Denise Tavares e a sua fibra,
não se submetendo aos papeis tradicionais subalternos femininos e defendendo
sua ideia de educação com os homens de igual para igual, o que fez com que
ganhasse muitos admiradores, grandes amigos e desafetos de menor estatura”,
escreveu Aurora.
“A casinha branca de janelas azuis foi
um local icônico dos anos da infância. Ali despertei a paixão pelos livros e o
misterioso amor pela palavra”, escreveu o escritor e editor Délio Pinheiro no prefácio
do livro. “A professora Denise – como todos a chamavam com respeito e admiração
– criou e dirigiu por 24 anos a única biblioteca pública para crianças na
Bahia. Ofereceu às crianças da classe média e pobre mais do que ler. Estimulou
a criatividade e a imaginação”.
Numa época onde não existiam bibliotecas
públicas, visitar pela primeira vez a Monteiro Lobato no Jardim de Nazaré foi,
para mim, como um sonho. Um paraíso cheio de livros e personagens. Nunca vou
esquecer. Depois de muitas frequências e leituras de livros e revistas, conheci
Denise e juntos defendemos as histórias em quadrinhos. Na época eram poucas
pessoas que defendiam os gibis, tidos como sub literatura. Fundei um clube para
leitura e análise dos quadrinhos no bairro do Pero Vaz tendo o professor
Adroaldo Ribeiro Costa como patrono e, em seguida, o apoio de Denise. Todos os
anos ministrei palestras e cursos sobre a importância dos quadrinhos para o
habito de leitura nessa biblioteca. E isso consolidou, e muito, esse trabalho
de incentivo a leitura.
Voltando à obra, a Biblioteca Infantil
Monteiro Lobato foi a primeira instituição púbica do Nordeste dedicada às crianças
e a segunda do Brasil. Fundada em 18 de abril de 1950, foi resultado da luta
incansável da professora Denise Tavares, que a dirigiu durante 24 anos, enfrentando
o descaso das autoridades e a hostilidade dele de rivais e desafetos,
insatisfeitos com o que consideravam um desperdício: uma biblioteca inteira
voltada para crianças.
A BIML não era apenas um lugar de
leituras. Era um centro de atividades didáticas onde a criança conhecia outros
mundos cheios de imaginação, aprendendo a se expressar através da escrita e de
outras artes.
Denise foi uma mulher à frente de seu
tempo, sofrendo com a incompreensão e a intolerância de alguns, sem, contudo,
abrir mão dos seus ideais e de ter o controle de sua própria vida.
Dividido em seis capítulos, a obra
começa coma fada dos livros onde revela as lembranças da família, dos amigos e
da luta em abrir uma biblioteca. O sonho se torna realidade no da do
aniversário de nascimento do escritor Monteio Lobato: 18 de abril de 1950. O
segundo capítulo, Lobato e a vocação anunciada aborda o encontro de Denise com
Monteiro Lobato em 1930 através do livro Fabulas. O encontro com o ídolo
aconteceu em 1947 quando o escritor veio a Salvador para assistir à opereta. A
menina do narizinho arrebitado. Um chalé mágico é o terceiro capítulo sobre um
mutirão para realizar o sonho e o estímulo aos jovens escritores como o artista
plástico Ângelo Roberto, Joselito
Sampaio, Virgilio Maciel Costa entre outros,
além da admiração, respeito e a influência de Denise sobre os jovens leitores
como o engenheiro e escritor Adinoel Motta Maia, Delio Pinheiro, Anete Brito
Ivo, etc.
O talento para a política e para o
marketing está no quarto capítulo sobre sua participação na elaboração da Lei
Orgânica do Estado e do Estatuto do Magistério, criação de bibliotecas de
bairro, cursos e recomendações relativas aos direitos da criança à educação e
em defesa dos profissionais do magistério. No quinto capítulo, as ideias de
Denise junto a Anísio Teixeira e no final, Legado e último Combate onde mostra
a importância da biblioteca e de sua luta contra o câncer. Uma preciosidade
esta obra sobre Denise para aqueles que apreciam o saudável hábito de leitura.
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