Há 140 anos surgia Carmen, uma ópera em
quatro atos do compositor francês Georges Bizet, com libreto de Henri Meilhac e
Ludovic Halévy, baseado na novela homônima de Prosper Mérimée. Estreou em 1875,
no Opéra-Comique de Paris. O caráter transgressor da protagonista provocou
severas críticas na estreia da ópera. Vamos saber porque.
As mulheres literárias encantaram
gerações. Desde a sanguinária Lady Macbeth, a insatisfeita Emma Bovary, a
alegre zíngara Esmeralda, a apaixonada Anna Karenina ou a ambígua Capitu. Todas
elas não conseguiram superar o magnetismo enigmático e erótico de Carmen, a
bela, sedutora e infiel cigana, do escritor francês Prosper Mérimée.
Das páginas do romance ela saltou para a
ópera, o balé flamenco, as artes plásticas, a poesia e mais de meia centena de
adaptações cinematográficas.
A beleza selvagem da cigana andaluza inspirou
atrizes, divas eruditas e bailarinas lendárias como Pola Negri, Dolores del
Rio, Rita Hayworth, Sarita Montiel, Viviane Romance, Dorothy Dandridge, Maria
Callas, Teresa Berganza, Victoria de los Ángeles, Alicia Alonso e Maia
Plisetskaya.
Símbolo da mulher indomável e possuidora
de espírito rebelde e valente, que cultua a liberdade pessoal em uma sociedade
em que o dinheiro e posição social parecem ser as únicas coisas importantes,
Carmen representa o mito da mulher fatal por excelência.
E foi imortalizada no cinema pela atriz
Rita Hayworth, do húngaro Charles Vidor.
A cigana Carmen seduz um soldado e faz
com que ele, após ter sido expulso do exército, se torne um fugitivo. Amor
passional e assassinato logo entram em jogo.
Teve também a Carmen terrorista criada
pelo francês Jean Luc Godard. Carmen X (Maruschka Detmers) é membro de um grupo
terrorista.
Ela pede a chave da casa de praia de seu tio Jean, um diretor de
cinema esquecido, com a desculpa de estar indo fazer um filme com seus amigos
quando, na verdade, eles pretendem organizar um assalto a banco.
Entretanto,
Carmen se apaixona pelo segurança do banco ainda durante a fase de planejamento
da ação.
Enquanto Carmen tenta fugir com o segurança, seu tio planeja realizar
um filme de retorno e um quarteto de cordas se concentra para executar peças de
Beethoven. Inspirado na ópera de Bizet, Carmen.
A mais espanhola de todas as Carmens é a
do filme de Carlos Saura. A ação se passa num tablado flamenco no qual o
bailarino e coreógrafo Antonio Gades é arrebatado pela bailarina
Carmen,
interpretada por Laura Del Sol. A história desenvolve-se durante os
ensaios do espetáculo, tendo como pano de fundo a Espanha dos anos 80, cheia de
emoções e conflitos sociais.
A jovem dançarina Carmen disputa o papel principal
- a personagem Carmen. Durante os ensaios, o coreógrafo se apaixona por ela e
começa a agir de forma obcecada, como seu personagem.
Os acontecimentos da
peça, com amor, ciúme, ódio e tragédia, vão transformando-se em realidade nas
vidas dos artistas.
Há também uma bonita versão dirigida por
Francesco Rosi, com Plácido Domingo e Julia Migenes-Johnson nos papéis
principais.
O
filme tem um colorido impressionista e cenas espetaculares de touradas. A
mezzo-soprano Migenes-Johnson é uma ótima atriz, ela dá um sabor latino ao
papel, esbanja sedução e vai além dos limites de uma encenação operística,
aproveitando os recursos cinematográficos.
A negra do diretor Mark Dornford May
transporta para a periferia da Africa do Sul. A versão do diretor Dornford-May
combina músicas da ópera original com arranjos de música tradicional Africana.
U-Carmen foi traduzida para Xhosa por Andiswa Kedama e Pauline Malefane, que no
filme representam Amanda e Carmen respectivamente. Ganhou o Urso de Ouro no
Festival de Berlim 2005.
Popular
Carmen é bem popular, causou polêmica já
na sua estreia na noite de 3 de março de 1875, onde a plateia presente à
Opéra-Comique de Paris saiu chocada ao se deparar com uma cigana intempestuosa,
capaz até de derrubar a disciplina militar. As criticas diziam que a obra era
imoral e superficial.
O grande lema dessa mulher de
temperamento difícil de controlar, mas portadora de muitos dos sonhos e
fantasias do universo masculino. Carmen trabalha numa fabrica de cigarros e os
homens ficam enlouquecidos. Ela faz amor, mas não se enamora, ela enlouquece,
mas não se apaixona, brinca com os sentimentos dos homens, deixando eles desvairados.
Ela é uma mulher liberada que faz suas
regras, bem ao gosto e ao jeito de sobreviver cigano. Essa amante ora feliz,
ora obsessiva é ao mesmo tempo, triste e voraz. E essa intensidade de viver,
parece atualizar a imagem de Carmen perante o público que ainda se divide
diante da sua firmeza por liberdade. Carmen pode ser a mulher devassa, tirana e
envolvente que perturbou e destruiu a vida de um soldado decente e promissor.
Ou, também estar no outro extremo desta imagem, como ícone da liberdade
feminina que não abriu mão (ao menos...), do desejo de ser dona do seu próprio
destino! Tornou-se então, maldita na vida dos homens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário