26 março 2013

Narcisismo baiano impede desenvolvimento cultural (1)



A Bahia tem um universo cultural extremamente complexo e variado. Assim, a Bahia é, por definição antropológica, exótica, sensual. A Bahia tem uma dimensão fetichista sobre o mundo, de sedução. Salvador foi a primeira capital da Colônia e deu à cidade, por extensão, a toda a capitania, características peculiares: fluxo de comerciantes e viajantes das mais diversas origens, escravos de diversas nações tribais. Essa constante interferência dos diversos grupos étnicos-culturais como portugueses, espanhóis, holandeses, bantos, jejes, haussés, etc, contribuíram para a formação de diversas manifestações híbridas. Salvador é uma cidade de contraste. Arcaico e moderno, nobreza de valores e pessoas desprovidas de qualquer relação, é cheia de contraste. Salvador é moderna e mestiça. Pensar arte pública é uma forma de democratizar a gestão pública.


A Bahia poderia ter todos os radares voltados para o mundo. Mas o narcisismo baiano impede que se veja as duas faces da moeda.  Não temos um foco de prioridades. Falta investimento. Priorizar mais os trabalhos de qualidade. Empresários e especialistas em recrutamento afirmam que ainda faltam ao baiano que lida com atendimento ao cliente características como cordialidade, conhecimento sobre o produto, profissionalismo e agilidade. (A Tarde. Caderno Empregos & Negócios, 03/01/2010, p.3).Prova disso são os estabelecimentos que buscam mão de obra no Sul e no Sudeste para compor seu quadro de funcionários em plena Bahia. Basta reparar no sotaque dos melhores atendentes para perceber que poucos são nativos, informa a reportagemAtendimento: o que é que o baiano não tem?.Na opinião do especialista em atendimento e gestão de recursos humanos, Otávio Santana, a profissionalização dos atendentes baianos ainda está defasada em relação a outros estados. `Por ter cobrado qualificação dos funcionários mais cedo que na Bahia, o Sudeste tem um nível mais alto de atendimento`, explica. A exigência da qualificação, portanto, deve partir dos empresários.

As políticas culturais (em todos os níveis, seja federal, estadual e municipal) decorrem ainda da visão que considera a cultura coadjuvante e não protagonista da gestão pública. Os recursos continuam insuficientes para atender às demandas e provocar impactos transformadores. È preciso definir a função básica da política cultural do estado. O Brasil e a Bahia precisam formar leitores, plateias de teatro, frequentadores de museus, etc.

Afinal, não Bossa Nova sem João Gilberto. Não Cinema Novo sem Glauber Rocha. Não Tropicalismo sem Caetano, Gal e Gil. Não pensamento contemporâneo brasileiro sem Milton Santos. Não marcas capazes de produzir o mais vigoroso turismo cultural do país sem Olodum, Ilê Aiê e Timbalada.

Temos o teatro da Bahia como a terceira produção teatral brasileira. A música está sempre em evidência, apesar da filtragem em um gênero musical. E com toda sua efervescência cultural, não dispõe de uma editora comercial de ponta, que produza, distribua e venda livros para o Estado e o país. A última foi a Progresso nos anos 50 e fechou em 1960. O cinema baiano é criativo, mas lento, (talento, como bradou um cineasta locam com muito bom humor) não tem apoio assim como a literatura. História em quadrinhos é outra vertente desprezada. A Bahia também precisa de um calendário de eventos diversificados, que não se restrinja ao verão, ao Carnaval. Precisamos investir mais em serviços. O serviço aqui é muito ruim e restrito.

Falta, na capital baiana, casas planejadas para grandes espetáculos. Grandes atrações não passam pela cidade justamente por falta de espaço adequado para atender à população. Nos meses de junho, julho e agosto nada acontece por não termos uma grande casa fechada. Temos apenas o Parque de Exposição, o Wet´n Wild e o Bahia Marina, lugares abertos. Os produtores falam que Salvador é uma das praças que uma ótima resposta de bilheteria, mas o custo operacional é o mais alto por falta de estrutura. uma carência de casas de shows.

A desigualdade é cada vez mais latente em Salvador. A cidade vai excluindo, gradativamente, uma camada da população dos direitos de circular, de ter uma habitação digna, de ter áreas públicas e de poder decidir os destinos da cidade. Habitação não é casa. Habitar na cidade, no espaço, é um conjunto de fatores: mobilidade, espaços públicos, transporte, moradia.

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