O
movimento de poesia concreta – que completou 50 anos em 2006 –
alterou profundamente o contexto da poesia brasileira. Procedeu a
revisões do nosso passado literário. Pôs ideias e autores em
circulação. Colocou problemas e propôs opções. O ponto crucial
da poesia concreta era a sua relação direta com uma vanguarda
estética, ou seja, com o experimento de novas formas, nunca
empreendido no Brasil. O Concretismo seria, assim, o primeiro
movimento brasileiro que – ao contrario de outros e do próprio
Modernismo – não se ajustava ou não se atualizava em relação a
movimentos alienígenas, mas dava um passo a frente, autonomamente, a
procura de renovação.
No plano
nacional, o movimento tomou o diálogo com 22, interrompido por uma
contra-reforma convencionalizante e floral. Ofereceu, pela primeira
vez, uma totalização critica da experiência poética estante,
armando-se de uma visada e de um propósito coletivos. Pensou o
nacional não em termos exóticos, mas em dimensão critica. No plano
internacional, exportou idéias e formas. Com o Concretismo – e
ninguém pode negar tal fato – passamos de país importador a país
exportador de experiências estética, e não foi à-toa que um
pensador da linguagem de Max Bense se deteve no primeiro movimento da
nova poesia brasileira. E sob este aspecto historicista, o
Concretismo deve ser considerado realmente uma vanguarda poética.
Em
dezembro de 1956 foi inaugurada nos salões do Museu de Arte Moderna
de São Paulo, a I Exposição Nacional de Arte Concreta. Tomavam
parte pintores, desenhistas, escultores, gravadores e os poetas Décio
Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ferreira Gullar e
Wlademir Dias Pino. Eles apresentavam ao público suas primeiras
produções no terreno novo. Dois meses depois a exposição era
transferida para o Rio de Janeiro. A cisão do movimento entre
paulistas e cariocas (residentes) se deu em junho do mesmo ano, por
não concordarem Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar e o critico
Oliveira Bastos com uma certa ortodoxia teórica, mantida por
aqueles, quando defenderam em artigos a estrutura matemática do
poema concreto, eliminando deste modo a sua tradicional referencia
subjetiva. Para os poetas cariocas, o poema não vive apenas no
espaço gráfico, ultrapassa-o, tem um tempo onde a palavra significa
uma experiência e não apenas uma relação fria entre objeto e
vocábulo.
Desta
cisão e desenvolvendo estes pontos de vista, sairia o movimento
neoconcreto, encabeçado pelos poetas do Rio que também teve
exposição. A mostra Neoconcreta foi realizada entre os fogos dos
debates e recebeu a adesão dos escultores Amílcar de Castro e Franz
Weissmann, da pintora e gravadora Lygia Clark e Lygia Pape com poemas
de Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar e Theon Spanudis. Estava
encerrado um ciclo inicial de polemica que tinha por base a luta pela
afirmação e vulgarização dos movimentos.
Em 1954 o
livro de poesia de Ferreira Gullar, A Luta Corporal surgia como o
primeiro documento (alguns trabalhos) de uma experiência pessoal e
isolada de sentido concretizante onde mais acentuadamente do que em
qualquer outro poeta, ele procura dissolver a frase, quebrar o
discurso, as próprias palavras com o propósito de criar
objetivamente novas relações entre os elementos sintáticos, ou
mesmo de romper com a própria sintaxe. E o espaço gráfico começa
a ter também uma função orgânica no poema.
Não
interessa se, algum tempo depois, Ferreira Gullar tenha repudiado
essas experiências ou tentado dar-lhes uma conotação diferente,
mas o fato é que na época do Suplemento Dominical do Jornal do
Brasil (que desde 1956 publicava artigos e teorias sobre os processos
da corrente de vanguarda), Gullar fazia questão em ser apontado como
o primeiro poeta novo a romper com o verso e a fazer experiência
espacial. Isto para não dar aos paulistas a primazia histórica do
fato. Salienta-se ainda que Ferreira Gullar desconhecia totalmente,
na época da publicação de seu livro, as experiências mais
avançadas dos autores estrangeiros como também desconhecia a
experiência do grupo de poetas de São Paulo que há muito estudava
as possibilidades renovadoras da linguagem poética já por volta de
1950.
Na Bahia
a produção foi isolada. Nos anos 50 foi liderado por Clarival
Valadares. Em 1959 Glauber Rocha escreveu um artigo falando de seu
interesse pelo Concretismo. Mais tarde surgem os trabalhos de Erthos
Albino de Souza, além da influência geral de Gilberto Gil e Caetano
Veloso que retomaram muitas das proposições da poesia concreta e da
literatura concretista da obra de Oswald de Andrade. No seu disco
Araçá Azul, Caetano musicou versos do poeta Sousândrade e dedicou
uma faixa a Augusto de Campos. Nos anos 70 depois de uma exposição
comemorativa dos 20 anos de Poetamentos, surge a revista Código com
ensaios de vários poetas.
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2 comentários:
muito legal! gostei!!!!!!!!!!!!!!!
Muito bom.... me ajudou muito com meus trabalhos escolares
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