04 março 2013

As eternas canções da sétima arte (2)

Há 86 anos o cinema deixava de ser mudo para começar a falar. Em 1927, O Cantor de Jazz chegava às telas com a novidade. Graças aos irmãos Warner, os filmes já não tinham mais que ser mudos. Assim, o Cantor de Jazz passa a ser o primeiro filme da história a utilizar o invento do som no cinema, No ano seguinte, a técnica melhorou: enquanto o primeiro filme era composto, basicamente de canções, Lights of New York era composto inteiramente por diálogos.

A partir dos anos 30 a música de fundo do cinema se transformou numa linguagem. Esta foi a década dos grandes filmes – épicos, românticos, dramáticos, produções que exigiam densidade sonora para acentuar ação e emoção. Por outro lado, a Europa estava em guerra e os compositores eruditos fugiram de lá para a América. Foram eles que, atendendo às exigências dos grandes filmes, criaram a trilha sonora. O austríaco Max Steiner foi um dos inventores. Inspirado nas óperas ele criou uma música para cada personagem. É dele a trilha de maior duração da história do cinema: ... E o Vento Levou com três horas e 40 minutos para quatro horas de filme. Apenas Scarlett O´Hara teve três temas compostos para ela. Ninguém entendeu porque o filme perdeu o Oscar para “No Tempo das Dilegências”.

Também é de Max Steiner a trilha de outro clássico, Casablanca, embora a canção-tema que todo mundo conhece, “As Time Góes By”, seja originalmente uma canção da Broadway. Steiner foi premiado com o Oscar pelas trilhas de “Estranha Passageira” (1942) e “Desde que Partiste” (44). Outro compositor pioneiro foi Dimitri Tiomkin. Foi ele quem derrotou “...E o Vento Levou”, com a trilha de “No Tempo das Diligências” (1939). No filme Matar ou Morrer (1952), ele criou a primeira canção-tema composta especialmente para um filme de fundo. Dimitri compôs uma canção cuja letra conta a história do mocinho desse filme. A fita recebeu o Oscar de melhor canção e trilha sonora. Ele recebeu outros Oscar: “Um Fio de Esperança” (1954), “O Velho e o Mar” (1958), além de fazer a trilha de “Duelo ao Sol”, entre outras.

O húngaro Miklos Rozsa inventou a música solene dos filmes épicos. Concertista e compositor clássico, é dele as trilhas de Quo Vadis, Ben Hur, El Cid, além de Oscar de melhor música em Quando Fala o Coração (1945) e Fatalidade (1947). Vale lembrar que o Oscar de música (partitura) foi entregue, pela primeira vez, em 1934, para Louis Silvers no filme Uma Noite de Amor. A melhor canção foi para Continental, de Com Conrad, letra de Herb Magidson. Primeira a ganhar um Oscar, em Alegre Divorciada, o primeiro musical em que a dupla Ginger Rogers/Fred Astaire fazia o papel principal. Gene Kelly fez sua obra-prima há 55 anos: Cantando na Chuva, até hoje um dos maiores musicais já produzidos por Hollywood. Gene é um dos raros artistas que conseguem provar que uma cena pode valer um filme. Uma ode sorridente à alegria exuberante é a cena dele dançando sobre poças d´água, sapateando no chão molhado, oferecendo o rosto sorridente a um banho de chuva fotografado em close. O filme é uma sátira do extravagante mundo cinematográfico dos anos 20, com suas histórias pré-estréias e a frenética chegada do som.

Do suspense à aventura

Não podemos esquecer que, em 1934, o Oscar de melhor música original foi para Herbert Stothart, em O Mágico de Oz, e a melhor canção, também neste filme, foi para “Over The Rainbow”, de Harold Arlen e E.Y.Harburg, cantada por Judy Garland. A fita é uma das preferidas do público em todos os tempos. Os musicais foram buscar, na Broadway, os seus melhores “songwrites”, como Cole Porter, Irving Berlin, George Gershwin, Richard Rodgers, Jerome Kern, Harold Arlen, entre outros. Depois surgiram as parcerias de Harry Warren e Al Dubin, Mack Gordon e Harry Revel, Jimmy McHugh e Dorothy Fields e Ralph Rainger e Leo Robion já escrevendo diretamente para o cinema. Todos eles produziram canções, mas não tinham nenhum envolvimento com o resto da parte musical dos filmes. Os compositores europeus encontraram na América alguns músicos eruditos e juntos eles fizeram a história da trilha sonora.

O americano Bernard Hermann era o preferido de Hitchcock e muito contribuiu para aquele clima de tensão e suspense de filmes como Um Corpo que Cai e Psicose. É dele, também, as trilhas de Os Pássaros e Cidadão Kane. Da mesma forma que Hitchcock, o cineasta italiano Federico Fellini trabalhou quase sempre com o mesmo compositor, Nino Rota. Italiano, autor de trilhas inesquecíveis como A Doce Vida!, Os Boas Vidas, Ensaio de Orquestra, Amarcord e O Poderoso Chefão 2ª Parte.

O compositor favorito de Steven Spielberg é John Williams. Ele compôs trilhas para E.T., o Extraterrestre! (Oscar de 1982), Guerra nas Estrelas (Oscar de 77), Império do Sol, Indiana Jones, Superman, o Filme, Tubarão (Oscar de 1975), Contatos Imediatos do 3º Grau, Um Violinista no Telhado e vários outros.

Elmer Bernstein usou o jazz, pela primeira vez, em A Embriaguez do Sucesso e O Homem do Braço de Ouro nos anos 50, e abriu importante precedente, sendo logo seguido por Henri Mancini, em A Marca da Maldade, e Johnny Mandel, em Quero Viver. Mancini ganhou o Oscar de melhor música e melhor canção em 1961 no filme Bonequinha de Luxo. É bem provável que o “score” de Isaac Hayes para Shaft (Oscar de melhor canção, em 1971) tenha aberto o caminho à eletrificação geral vigente hoje em dia. Pois a música de cinema hoje cede às exigências do mercado fonográfico. A fórmula veja-o-filme-ouça-o-disco já demonstrou sua força. Isso só aconteceu com o aparecimento do LP. Até então, o que sobrevivia da música feita para o cinema era uma ou outra canção que determinado cantor ou orquestra ajudava a popularizar.

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Um comentário:

Regbit disse...

maravilhosa postagem do cinema mudo percurso que levou cinema dos dias de hoje