Sertão é
uma região geográfica caracterizada pela presença de clima
semi-árido, vegetação de caatinga, irregularidade de chuvas, solos
secos e rios intermitentes ou temporários. O sertão nordestino
compreende as áreas mais secas e distantes do litoral leste do
Brasil, situadas nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Apenas no Ceará e no
Rio Grande do Norte o sertão chega até o litoral. O chamado
Polígono das Secas totaliza 936.933km2. Na linguagem popular,
costuma-se chamar de sertão bravo as áreas mais secas da caatinga,
e altos sertões as faixas de montanhas e colinas.
A relação
entre o sertão e a civilização é sempre encarada como excludente.
É um espaço visto como repositório de uma cultura folclórica,
tradicional, base para o estabelecimento da cultura nacional. Para
Euclides da Cunha e Monteiro lobato, a civilização devia, no
entanto, ser levada ao sertão, resgatando essa cultura e essas
populações que aí vivem
“Os
Sertões” de Euclides da Cunha, publicado em 1906, é tido pelos
críticos como o início da procura pelo verdadeiro país, pelo seu
povo, tendo posto por terra a ilusão de nos proclamarmos uma nação
européia e mostrando a importância de sermos americanos. Com ele,
teríamos iniciado a busca da nossa origem, do nosso passado, da
nossa gente, da nossa terra, dos nossos costumes e tradições.
Teríamos ficado conhecendo, com ele, a influência do ambiente sobre
o nosso caráter e a nossa raça em formação.
O sertão
aparece como o lugar onde a nacionalidade se esconde, livre das
influências estrangeiras. O sertão é muito mais que um recorte
territorial preciso; é uma imagem-força que procura conjugar
elementos geográficos, linguísticos, culturais, modos de vida, bem
como fatos históricos de interiorização como as bandeiras, as
entradas, a mineração, a garimpagem, o cangaço, o latifúndio, o
messianismo, as pequenas cidades, as secas, os êxodos etc. O sertão
surge como a colagem dessas imagens, sempre vistas como exóticas,
distantes da civilização litorânea. É uma idéia que remete ao
interior, à alma, à essência do país, onde estariam escondidas
suas raízes.
Para
Monteiro Lobato (Urupês é um bom exemplo), o verdadeiro Brasil, o
que queria mostrar, era o Brasil do interior, não era o Brasil
artificial, macaqueado do estrangeiro. Era o Brasil do campo, não o
das grandes cidades. “O Brasil não era um São Paulo, enxerto do
garfo italiano,. Nem o Rio artificial português. O Brasil está no
interior, onde o sertanejo vestido de couro vasqueja nas coxilhas
onde se domam potros. Está nas caatingas estorricadas pela seca...”
Enquanto
muitos escritores continuavam preso à imagem tradicional de que o
homem sábio se encontre na cidade ou no litoral, é só com
Guimarães Rosa que o sertão vai irromper como discurso sábio na
ficção brasileira. Rosa explora o sertão de maneira poética,
comparando a paisagem seca e quase desértica aos sentimentos e às
relações humanas. “O sertão é o sonho, o sertão é dentro da
gente”, disse ele. Guimarães Rosa faz um verdadeiro tratado em sua
obra Grande Serão: Veredas, mostrando a diversidade do sertão que
vai de Minas Gerais a Bahia, passando pelo Centro-Oeste do país.
João Cabral de Melo Neto, como Guimarães Rosa, pode ser visto como
quem iniciou o processo de “desregionalização da região”, ou
seja, fazendo emergir o caráter de construção discursiva, de
invenção pela linguagem, do regional; fazendo emergir a percepção
da região como formada por diversas camadas de imagens e enuciados,
como fruto de visões e leituras diferenciadas, denunciando a
textualidade que a construiu anteriormente.
OCUPAÇÃO
- A colonização foi, antes de tudo, a aventura da conquista e
ocupação do sertão. Para os colonizadores portugueses, as terras
americanas significavam um imenso vazio a ser preenchido com seus
interesses, concepções e valores. Eles conquistaram o sertão:
formando cidades e vilas, plantando canaviais, extraindo metais
preciosos ou criando gado. Impunham a autoridade do rei, difundiam a
fé cristã e transformavam índios e negros africanos em escravos.
Buscavam construir o Novo Mundo à semelhança do Velho Mundo, de
onde vieram.
Durante
todo o século 16 o domínio português restringiu-se a uma estreita
faixa litorânea e pouco se interessou pela conquista do interior,
pelo sertão seco. Afinal, não tinha notícias de nenhuma riquezas
da região que tivesse valor para o comércio colonial. Foi somente
em meados do século 17, especialmente durante o período da ocupação
holandesa, que teve início de forma mais enfática a ocupação do
sertão nordestino por meio da pecuária.
As
sucessivas secas enfraqueceram o processo de ocupação do sertão.
Os anos de bons invernos acabaram permitindo um renascimento
agropastoril, o renascimento das cidades, o aumento do comércio e
certa prosperidade econômica. Diversas vezes, nos períodos mais
intensos de uma seca, comunidades indígenas foram obrigadas a se
vender para os conquistadores em troca simplesmente de comida.
Os
projetos de irrigação, a reforma agrária, os projetos de
colonização, o apoio aos pequenos e médios produtores rurais, a
diversificação de culturas e a lavoura seca não passaram de
tentações malogradas de superação do atraso e da miséria do
sertão seco. Sem esperança de mudar a história das suas cidades,
os nordestinos buscaram em outras paragens a solução para a
sobrevivência das suas famílias. Foi nos sertões que permaneceu
inalterado o poder pessoal dos coronéis, petrificado durante o
populismo e pela migração de milhões de nordestinos para o Sul.
No regime
republicano a elite política nordestina aceitou uma posição
subserviente diante do poder central. A redemocratização de 1945,
mantendo no poder grupos políticos surgidos em 1930, não alterou a
posição do Nordeste em relação ao governo central. Nessa
republica populista o coronelismo viveu a sua época dourada,
associando domínio politico com a utilização de vastos recursos
públicos para fins privados. Foi o florescimento da indústria da
seca. E até o momento nada se resolveu que a questão essencial para
enfrentar e conviver com a seca. O latifúndio improdutivo e o
monopólio da água pelos poderosos da região impediram qualquer
transformação sócio-econômica.
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