As tribos
das noites dançantes garantem a música certa para as pistas das
casas noturnas. Onde eles vão, levam uma turma junto. São as turmas
dos disc-jockeys que garantem no movimento dos espaços no Rio
Vermelho, Pituba e outros bairros de salvador. O ambiente acaba
ficando parecido com clube prive, onde todo mundo se conhece e
raramente aparece alguém diferente. Às vezes, o local não combina
com o público, mas importante é a garantia de encontrar a música
certa para dançar.
Os
eletrônicos não têm ideologia própria, só gostam do mesmo som e
do mesmo visual. O som é o eletrônico, o visual e cinto tacheado e
botas pretas. Adeptos de danceterias cuja programação não dispensa
o estilo musical belga new beat. Eles não se definem como um
movimento.
Os
rockabillies se comportam como se fossem personagens dos filmes de
James Dean. Clones bem comportados do ator de Juventude Transviada,
eles adoram o som do Stray Cats, Jerry Lee Lewis e Eddy Cochrane.
Vestidos de rockers dos anos 50, os rockabillies não suportam o rock
dos anos 90, pesado demais ou dançante estilo house. Usam topetes e
gomalinas.
Curtidores
da noite em geral, os darks, com seus trajes negros e pesados e seus
gostos pelos ambientes apertados, vivem mesmo entre o pôr e o nascer
do sol. Durante o dia, costumam ser ótimos estudantes. Seus autores
preferidos são Rimbaud, Artaud e Sartre. Também do mesmo movimento,
os góticos (pós-darks) vestem-se inteiramente de preto para
demonstrar “luto pelo mundo” e usar maquilagem excessiva. O
programa preferido dos góticos é procurar danceterias que possam
acolhe-los com suas bandas prediletas: The Sistyer of Mercy, House of
Love, Echo and the Bunnymen, Cabine C, Smarck entre outros.
Em outro
estilo, a geração aeróbica veste basicamente collants coloridos
bem justos, e é bem descontraída. O grosso da tribo vem da classe
média e um símbolo de status pode ser um tênis reebooks novo em
folha. Fazem o culto ao corpo e têm pavor a celulites ou
barriguinhas indesejáveis. Mais comportamental do que musical, os
adeptos da aeróbica só dançam ao som da mesma batida-acelerada
cuja função é animar os passos e a coreografia usada nas academias
da cidade.
Movimento
rasta
Verde,
vermelho e amarelo representam a bandeira da Jamaica, são as cores
básicas do visual reggae. Elas simbolizam, dentro da religião
rastafari, o retorno às raízes africanas. Os dradlocks, longos
cachos de cabelo, símbolo bíblico da força masculina, hoje
convivem com um novo look, um corte tipo militar, que desenha trilhas
nas têmporas e até mesmo o contorno do mapa da África na parte de
trás da cabeça, sempre completado por bonés confeccionados em
tecidos e toucas de crochê imensas, usados noite e dia.
Os
amantes do reggae comparecem a rigor, de tranças rasta, no
Pelourinho. Ninguém consegue ficar parado. O incenso ajuda a manter
o astral pós-zen, as mechas rastafaris surgem sob boinas e sacodem
no som contagiante da Jamaica. Do Terreiro de Jesus até o Largo do
Pelourinho a Terça do Reggae começou inicialmente como uma
homenagem ao rei Bob Marley, um guerreiro na luta de resistência dos
negros de todo o mundo contra a opressão e a discriminação.
Jimmy
Cliff, Peter Tosh, Denis Brown, Black Uhuru, Gregory Isaac, Edson
Gomes e Lazzo são alguns nomes do reggae que podem ser ouvidos no
Bar do Cravo Rastafari, Pelourinho, ou no Bar do Reggae, no Maciel,
os templos onde se cultua a música jamaicana. As tribos rastas
invadem a noite baiana com, seu visual marcante, a beleza das roupas
e das danças e forte alegria. Os efeitos penetrantes do baixo
elétrico e bateria garantem de cara a integração rasta da nova
curtição da noite baiana. Um efeito quase hipnótico. A penetração
cada vez mais no nosso cenário musical pode ser comprovada pelos
programas especiais nas emissoras de rádios e de novos artistas que
divulgam esse gênero musical.
Tribos urbanas 3
(Reportagem publicada originalmente no jornal A Tarde, 16/06/1991.
Texto de Gutemberg Cruz)
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