06 fevereiro 2013

Centenário de nascimento de Walter Smetak, o alquimista do som

No dia 12 de fevereiro comemora-se 100 anos de nascimento do músico, filósofo, artista plástico, poeta, professor, homem de teatro, e sobretudo inventor de instrumentos musicais, Anton Walter Smetak, suíço que adotou o Brasil em 1937, fixando-se na Bahia a partir de 1957

O músico e professor da Unicamp, Marco Antonio Scarassati lançou em 2009 o livro Walter Smetak o alquimista dos sons (Perspectiva). Dividido em duas partes, o livro aborda a princípio a época de formação do artista e suas fases de transição: desde a Europa ao Brasil, do fazer musical para sobrevivência em seus primeiros anos no país, ao trabalho puramente artístico. Na segunda parte, procura estabelecer uma tipologia para as obras do artista, classificando-as em instrumentos de inspiração primitiva, cinéticos e coletivos.

Sua herança, a “antimúsica”, como Smetak gostava de dizer, fruto de uma pesquisa desenvolvida através das esculturas sonoras que criou, continua desafiando e instigando as novas gerações. A banda mineira Uakti é cria assumida do experimentalismo contundente de Smetak. O artista ansiava “colocar toda a música numa única nota”. “Ele era o novo”, resume Tuzé de Abreu, flautista da Orquestra Sinfônica da Bahia, que conviveu quase uma década com o homem que se dedicou a investigar o silêncio, o som e suas relações essenciais com os homens.

Smetak influenciou músicos como o percussionista Bira Reis, o cantor e compositor Gereba, Aderbal Duarte, Sérgio Souto e muitos outros. Em 2009 foi exibido o documentário O Alquimista do Som, dirigido por Walter Lima, além de um ciclo de palestras. Apesar de toda essa badalação em torno do artista, necessário, a herança musical deixada por ele vive em constantes transferências desde a sua morte, sem que se encontre um lugar adequado para o seu acondicionamento. O acervo conta com 85 obras e já passou pela Escola de Música e Biblioteca Reitor Macedo, da UFBa; e pelo casarão 29 da Rua Gregório de Matos. Hoje deve estar no subsolo do Museu de Arte da Bahia, jogado em caixas. O acervo de Smetak estava em vias de ser tombado pelo ex-ministro Gilberto Gil, mas está ameaçado de desaparecer.

TRAJETÓRIA

Músico,, nasceu em 1913. Violoncelista, criador de música e de instrumentos-esculturais, a partir da combinação cabaça & cordas. Smetak foi também teórico, e expressou suas ideias cósmico-musicais em textos e entrevistas, num português aproximativo, entre poético e místico. No plano musical, caminhou com resolução para o microtonalismo. Ele acreditava que através da “consciência dos microtons” e da superação do emocional se chegará “à clareza da percepção da diversidade sonora”.

Teve a oportunidade de gravar com Pablo Casais, de acompanhar Carmen Miranda e produzir um grande acervo de textos e partituras musicais na sua improvisada oficina-laboratório no porão da Escola de Música da UFBa. Seu primeiro disco só veio a ser gravado em 1974. Produzido por Roberto Santana e Caetano Veloso, foi montado por Cae e Gil. Em 1980 grava o segundo disco, com os microtons Interregno.

Além de 150 instrumentos criados e fabricados por ele, com as formas mais inusitadas, Smetak escreveu 36 livros (muitos ainda inéditos), onde estão quatro peças de teatro e vários volumes de poesia, literatura, filosofia e teoria musical. Escreveu também muitas partituras. Insatisfeito com a tradição musical, ele foi buscar novos universos sonoros entre um tom e outro. A escala comum tem sete notas, do dó ao si. Ele trabalha apenas entre uma e outra, entre o dó e o ré. Nesse intervalo descobriu os microtons, os imperceptíveis sons entre os tons. A música dele ficava nesse espaço. O som do século XXI teve seu inventor na Bahia. As ideias do suíço-baiano fazia uma síntese da dialética erudito/pop, música/artes plásticas, oriente/ocidente. Para Smetak, quando o homem aprendera ouvir os microtons alcançará uma ampliação e aprofundamento de sua espiritualidade.

Ele faleceu em 30 de maio de 1984. Caetano Veloso cantou os versos “Smetak, Smetak e muzak e razão”, no seu Épico. Jorge Amado definiu como “misto de músico e escultor, de filósofo e profeta, uma das figuras mais extraordinárias da arte brasileira”. “Smetak deixou um patrimônio importante para o conjunto do País. Foi um dos maiores responsáveis pela revitalização da vida cultural da Bahia, com seu trabalho de vanguarda, sua aguçada inteligência e extraordinária capacidade criativa. Ele era um mestre de filosofia, de antroposofia, de eubiose, enfim, todas essas coisas. Musicalmente, eu diria que ele inovou a música brasileira com sua ousada plástica musical”, comentou Gilberto Gilda. Em vida, foi chamado de alquimista dos sons. (Muitas dessas informações estão no livro Gente da Bahia, volume 1 que lancei em 1997)
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