No dia 12
de fevereiro comemora-se 100 anos de nascimento do músico,
filósofo, artista plástico, poeta, professor, homem de teatro, e
sobretudo inventor de instrumentos musicais, Anton Walter Smetak,
suíço que adotou o Brasil em 1937, fixando-se na Bahia a partir de
1957
O músico
e professor da Unicamp, Marco Antonio Scarassati lançou em 2009 o
livro Walter Smetak o
alquimista dos sons
(Perspectiva). Dividido em duas partes, o livro aborda a princípio a
época de formação do artista e suas fases de transição: desde a
Europa ao Brasil, do fazer musical para sobrevivência em seus
primeiros anos no país, ao trabalho puramente artístico. Na segunda
parte, procura estabelecer uma tipologia para as obras do artista,
classificando-as em instrumentos de inspiração primitiva,
cinéticos e coletivos.
Sua
herança, a “antimúsica”, como Smetak gostava de dizer, fruto de
uma pesquisa desenvolvida através das esculturas sonoras que criou,
continua desafiando e instigando as novas gerações. A banda mineira
Uakti é cria assumida do experimentalismo contundente de Smetak. O
artista ansiava “colocar toda a música numa única nota”. “Ele
era o novo”, resume Tuzé de Abreu, flautista da Orquestra
Sinfônica da Bahia, que conviveu quase uma década com o homem que
se dedicou a investigar o silêncio, o som e suas relações
essenciais com os homens.
Smetak
influenciou músicos como o percussionista Bira Reis, o cantor e
compositor Gereba, Aderbal Duarte, Sérgio Souto e muitos outros. Em
2009 foi exibido o documentário O Alquimista do Som, dirigido por
Walter Lima, além de um ciclo de palestras. Apesar de toda essa
badalação em torno do artista, necessário, a herança musical
deixada por ele vive em constantes transferências desde a sua morte,
sem que se encontre um lugar adequado para o seu acondicionamento. O
acervo conta com 85 obras e já passou pela Escola de Música e
Biblioteca Reitor Macedo, da UFBa; e pelo casarão 29 da Rua Gregório
de Matos. Hoje deve estar no subsolo do Museu de Arte da Bahia,
jogado em caixas. O acervo de Smetak estava em vias de ser tombado
pelo ex-ministro Gilberto Gil, mas está ameaçado de desaparecer.
TRAJETÓRIA
Músico,,
nasceu em 1913. Violoncelista, criador de música e de
instrumentos-esculturais, a partir da combinação cabaça &
cordas. Smetak foi também teórico, e expressou suas ideias
cósmico-musicais em textos e entrevistas, num português
aproximativo, entre poético e místico. No plano musical, caminhou
com resolução para o microtonalismo. Ele acreditava que através da
“consciência dos microtons” e da superação do emocional se
chegará “à clareza da percepção da diversidade sonora”.
Teve a
oportunidade de gravar com Pablo Casais, de acompanhar Carmen Miranda
e produzir um grande acervo de textos e partituras musicais na sua
improvisada oficina-laboratório no porão da Escola de Música da
UFBa. Seu primeiro disco só veio a ser gravado em 1974. Produzido
por Roberto Santana e Caetano Veloso, foi montado por Cae e Gil. Em
1980 grava o segundo disco, com os microtons Interregno.
Além de
150 instrumentos criados e fabricados por ele, com as formas mais
inusitadas, Smetak escreveu 36 livros (muitos ainda inéditos), onde
estão quatro peças de teatro e vários volumes de poesia,
literatura, filosofia e teoria musical. Escreveu também muitas
partituras. Insatisfeito com a tradição musical, ele foi buscar
novos universos sonoros entre um tom e outro. A escala comum tem sete
notas, do dó ao si. Ele trabalha apenas entre uma e outra, entre o
dó e o ré. Nesse intervalo descobriu os microtons, os
imperceptíveis sons entre os tons. A música dele ficava nesse
espaço. O som do século XXI teve seu inventor na Bahia. As ideias
do suíço-baiano fazia uma síntese da dialética erudito/pop,
música/artes plásticas, oriente/ocidente. Para Smetak, quando o
homem aprendera ouvir os microtons alcançará uma ampliação e
aprofundamento de sua espiritualidade.
Ele
faleceu em 30 de maio de 1984. Caetano Veloso cantou os versos
“Smetak, Smetak e muzak e razão”, no seu Épico. Jorge Amado
definiu como “misto de músico e escultor, de filósofo e profeta,
uma das figuras mais extraordinárias da arte brasileira”. “Smetak
deixou um patrimônio importante para o conjunto do País. Foi um dos
maiores responsáveis pela revitalização da vida cultural da Bahia,
com seu trabalho de vanguarda, sua aguçada inteligência e
extraordinária capacidade criativa. Ele era um mestre de filosofia,
de antroposofia, de eubiose, enfim, todas essas coisas. Musicalmente,
eu diria que ele inovou a música brasileira com sua ousada plástica
musical”, comentou Gilberto Gilda. Em vida, foi chamado de
alquimista dos sons. (Muitas dessas
informações estão no
livro Gente da Bahia,
volume 1 que lancei
em 1997)
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