Eles
defendem a anarquia. O movimento punk surgiu por volta de 1976.
Jovens inconformados se rebelaram contra a apatia que dominavam o
rock desde o surgimento do gênero progressivo e começaram a formar
suas próprias bandas. Pode ser apontado como a primeira tribo urbana
a se insurgir contra a aldeia global, recorrendo a dois ou três
acordes viscerais, um vocal geralmente gritado, cabelos espetados ou
moicanos, e muita raiva. “Anarchy in the UK”, o primeiro sucesso
do grupo que se sintetiza essa estética, os Sex Pistols, detona a
anarquia nas terras da rainha da Inglaterra e espalha a revolta
estética dos punks pelo mundo.
O punk é
uma música simples, de poucos acordes e um vocal geralmente gritado.
Os temas das músicas giram em torno de problemas sociais. Bandas
como Ramones, Clash, Sex Pistols e Damned arregimentaram um grande
número de fãs. No Brasil, só dois anos depois surgiram os
primeiros bandos punks, na periferia de São Paulo e do Rio de
Janeiro, entre jovens desempregados e sem perspectivas, “oprimidos
pela selvageria urbana”, como os define o criador de Bob Cuspe, o
mais famoso punk brasileiro, o cartunista paulista Angeli. Bandas
como Os Inocentes, Ratos do Porão, Coquetel Molotow entre outros
representam o movimento.
Na Bahia,
os integrantes do movimento punk se reuniam todos os domingos pela
tarde na Praça da Sé. E nos dias de semana faziam seu point na
Praça da Piedade onde se juntaram para conversar e vender bottons.
Jorge Luís Araújo, o Paquito, na época 15 anos, disse que se
envolveu na turma através da música. Depois, com os shows dos
Garotos Podres e outros punks. A família interfere, “mas não tem
agressão física, só discórdia, crítica”. Ao contrário do que
muita gente imagina, a maioria estuda de manhã e trabalha à noite
e, como muitos deles moram em bairros distantes, escolheu a Piedade
como local de reuniões que começam a partir das 19 horas.
Idealistas, desejam um mundo igualitário, sem comandantes. Por isso,
aproveitam o movimento da praça para espalhar panfletos nos quais
fala a doutrina punk. Existe a gangue Verme do Sistema que são os
garotos menos rotulados, não utilizam a indumentária (roupas pretas
e cabelos a la moicanos) comum aos outros. Nas outras gangues os
componentes são conhecidos pelos apelidos de Morcego, Olho Seco,
Pobreza e Minério.
Cabeças
Raspadas
Os
skinheads ou carecas, também originários da Inglaterra, surgiram
para fazer frente ao movimento hippie, desaparecido no começo dos
anos 70. Dissidentes do movimento punk têm uma ideologia neonazista
e pregam a violência. São rivais dos fãs do heavy metal. A
reativação dos cabeças raspadas acontecia na esteira do movimento
punk. Pregavam o nacionalismo puro, era,m acusados de neonazistas e
se contrapunham aos próprios punks, chamados por eles de “vendidos
ao sistema” e não-politizados. Os skinheads são do tipo que
batem no peito e se orgulham de ser operários. Eles geralmente
trabalham em indústrias ou construções. São machistas ao extremo
e não gostam de quem usa o visual militar sem pertencer cão
movimento. Estima-se que a na década de 90 em São Paulo – seu
principal núcleo – existiam por volta de 500 skinheads.Cabeças
raspadas – por máquina dois --, tatuagens, coturnos pretos, calças
justas, suspensórios e camisas de algodão formavam o visual da
tribo. A música tem um ritmo semelhante ao rock metaleiro. Antes,
eles tinham uma bandeira na cidade: Bandeira de Combate. São fãs de
hardcore, música executada com muita velocidade e peso. Eles não
bebem, não fumam e abominam tóxicos. A terapia de contra-ataque aos
grupos opositores ao seu radicalismo é a violência. Quase todos
praticam musculação. “Não dá para dizer que a gente é
pacifista quando se vive em uma sociedade violenta”, diz um dos
carecas mais tradicionais da cidade.
Quem mais
sofreu nas mãos dos carecas foram os grupos heavy metal e os darks,
considerados por eles contestadores de botique. São poucas as
garotas que se integraram à tradição de violência dos carecas.
Todos são bastante jovens. A maioria mora no subúrbio e na Cidade
Baixa. Eles se reuniam às sextas-feiras no QG improvisado num bar do
Politeama de Cima. O bairro da Massaranduba tem um grande número
desses adeptos, que muitas vezes ficam no Campo Grande aos domingos,
em frente ao Teatro Castro Alves. Usam apelidos como Cafox, Dengue,
Infortúnio entre outros para serem identificados em grupos. Eles
vivem espalhados pela cidade, pregando as idéias de Hitler como
herói e justificando as atrocidades atribuídas a ele como
manipulação da imprensa sionista. Seu lema: “Tudo pela nossa
Pátria, o Brasil. Abaixo os judeus, comunistas e homossexuais.
Hitler era um grande homem”. Adotam uma filosofia nazista que
preferem ocultar sob o nome de nacionalista.
Tribos urbanas 2
(Reportagem publicada originalmente no jornal A Tarde, 16/06/1991. Texto: Gutemberg Cruz)
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