28 setembro 2012

Lichtenstein e sua arte massificada

No dia 29 de setembro de 1997 (há 15 anos), morria o pintor americano Roy Lichtenstein. Ele seguiu a herança duchampiana e instalou curto-circuito na pintura virtuosística. E soube ironizar a alta cultura. Embaralhando as pinturas entre alta e baixa cultura, ele fez uma série de telas que traduz mestres modernos como Cézanne, Matisse, Léger e Van Gogh. Tudo por meio da linguagem das histórias em quadrinhos. Um dos pioneiros da art pop, Lichtenstein ajudou a manter o pop vivo através de uma série de experiências e atitudes filosoficamente subversivas na arte moderna e na vida. Foi muito criticado, mas décadas depois elogiado e reconhecido.

A Pop art norte americana bebeu em fontes dadaístas. Ficou tão famosa que ofuscou a origem britânica do movimento. O termo pop se referia à expressão “popular culture”, reunindo as linguagens das mídias, da TV, da publicidade, do cinema e das histórias em quadrinhos. Essa cultura de massa foi inicialmente execrada pelos teóricos da comunicação. A Pop veio fazer o contrário. Lichtenstein se fez notar pela utilização das histórias em quadrinhos e dos clichês que, pinçados da arte comercial, se transformam em objetos de arte: socos, tiros, lágrimas pelo amor perdido, com frases e textos de apoio. Com certa ironia deu a esta fase o nome de "Grande Pintura".
Uma das melhores definições do movimento veio do próprio Roy: "O que marca o pop é - antes de mais nada - o uso que é dado ao que é desprezado".

A pop art é considerada, na cultura ocidental, o marco de passagem do modernismo para o pós-moderno. Como nos anos 60 já usava o tema da ironia, que marcou os 90, Roy é considerado pioneiro, mestre e uma figura proeminente da arte americana. Entre 1957 e 1960, oscilou entre o impressionismo abstrato e as histórias em quadrinhos e cartuns até que se decidiu pelo uso dos elementos típicos da propaganda em seus desenhos e pinturas. A primeira exposição em Nova York (1962) o torna pioneiro da pop art com o emprego de tudo que era usado como material publicitário. Mickey, o Coelho Pernalonga e Pato Donald se transformam em inspiração constante, em telas gigantes.

Brinca com os efeitos da trama ótica e com a composição convencional. Com James Rosenquist e Andy Warhol, transforma-se num crítico feroz da sociedade norte americana, tomada pelo consumismo institucionalizado pela publicidade. Um vento de revolta contra o expressionismo abstrato, que vinha se tornando acadêmico, soprava em Nova York neste momento.

Em 1963 a arte comercial era odiada e Lichtenstein trouxe essa arte – a única forma de arte que ninguém considerava realmente arte – para o foco de atenção e a transformou no único objeto de seu trabalho. Ao mesmo tempo, Andy Warhol e James Rosenquist, sem sequer se conhecerem, estavam fazendo a mesma coisa. Aquilo estava cheirando a uma revolução. Todos os quadros de sua primeira individual de pintura pop, em 1962, foram vendidas antes da inauguração.

Com o sucesso, em 1964, Roy Richtenstein passou a se dedicar exclusivamente à arte. Seus primeiros trabalhos pop, que davam impressão de serem cópias inexpressivas de Mickey Mouse, Donald e de desenhos grosseiros de beldades de maiô com suas bolas de praia, pareciam frios, provocantes e impessoais. Na verdade, suas pinturas sempre foram discretamente marcadas por observações afiadas com humor e inteligência. Suas imagens, provindo originalmente da reprodução em massa, retornam a ela com a maior facilidade, preenchendo a memória com pequenos clones Lichtenstein.

Em 1965 ele parou de usar quadrinhos. Parodiou tudo, da art déco ao cubismo sintético, e até parodiou paródias. Apropriando-se do processo de impressão e reprodução, Roy foi um técnico em psicologia de massas. Conhecia o poder da produção como objeto do desejo. Ele reciclou o lixo cultural elevando-se ao status de arte. O seu papel foi o de reagir contra a supremacia do expressionismo abstrato que dominou a América nos anos 50. E serviu para derrubar o mito do artista, simulacro de criador que desceu ao planeta para ser glorificado pelos mortais. Ele criou um mundo de imagens essenciais, eliminando tudo que julgasse supérfluo. Mas a pop art estava muito ligado a valores do mundo materialista e hedonista. Passou.


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FÉRIAS


A partir de segunda-feira (dia 01) estarei de férias. Volto em novembro quando estarei comentando sobre os negros nos quadrinhos, a percussão na Bahia, Maria Felipa, Negro Fugidio, Rubem Valentim, Besouro da Bahia, entre outros temas. Vou organizar minha biblioteca que está um caos com cerca de dez mil livros, depois me refugiar numa localidade aqui perto, longe de todos com diversos livros, DVDs, CDs para devorar. Me aguarde, volto com sede de amar...letras, palavras, imagens, e toda esse zum zum zum em nossa volta nas voltas que o mundo dá. Até lá
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Um comentário:

Hendy Anna disse...

Uma boa síntese!!!