14 setembro 2012

O rei das selvas completa 100 anos de existência (3)

Tarzan inaugurou um tema nunca antes explorado nos quadrinhos: as histórias de aventuras. Doze mil imagens foram desenhadas e vendidas em todas as partes do mundo. Um sucesso que definia sua época: 1929. Era a época da depressão, em que todo mundo nos EUA vivia em uma espécie de selva, como Tarzan. Além disso, ele se encontrava como o americano: sem armas para lutar contra o perigo, nu na selva, querendo vencer com seus próprios recursos.

Harold Foster, o primeiro a desenhar Tarzan em quadrinhos, começou em janeiro de 1929, diariamente, num jornal americano. Foster possuía temperamento sonhador e deu ao seu Tarzan características românticas. A princípio, seu traço era um pouco hesitante; aos poucos, porém, foi se firmando, e aliando elegância à majestade. Quando, em 1937, Foster passou a desenhar Príncipe Valente, abandonando as histórias de Tarzan, Rex Maxon e Burne Hogarth tomaram seu lugar. O segundo desenhando, apenas, nos suplementos dominicais. Hogarth, com seu traço épico, criou um Tarzan exatamente nos moldes que Burroughs imaginara. Desta forma, Tarzan recebeu um tratamento artístico jamais dado a outro herói de histórias em quadrinhos. Hogarth cujo enorme cultura artística muito o auxiliou na composição das histórias, desenhava os músculos de Tarzan com o cuidado de um especialista na reprodução dos músculos humanos.

Harold Foster, o primeiro autor das tiras diárias, que aparecem pela primeira vez a 7 de Janeiro de 1929, desenha, assim, as 60 primeiras tiras, seguindo-se a este na série (que termina em 1973) os seguintes artistas: Rex Maxon (1929-36), William Juhré (1936-38), novamente Rex Maxon (1938-47), Burne Hogarth (1947), Dan Barry (1948-49), John Letti (1949), Paul Reinman (1949), Nicholas Viskardy (1950), Bob Lubbers (1950-54), John Celardo (1954-67) e Russ Manning (1967-73).

Relativamente às páginas dominicais, surgidas pela primeira vez a 15 de Março de 1931, com a assinatura de Rex Maxon, obrigatórias, ainda hoje em dia, nos jornais americanos de domingo, foram desenhadas sucessivamente por Rex Maxon (1931), Harold Foster (1931-1937), Burne Hogarth (1937-1945), Reuben Moreira (1945-47), Burne Hogarth (1947-50), Bob Lubbers (1950-54), John Celardo (1954-68), Russ Manning (1968-79), Gil Kane (1979-81), Mike Grell (1981-83) e Gray Morrow (de 1983 até ao presente), além de Joe Kubert, John Buscema e muitos outros.

Tal como fará, a partir de fevereiro de 1937, na ilustração das pranchas da série de quadrinhos Príncipe Valente, também nas pranchas de Tarzan, Harold Foster faz a ilustração acompanhada com textos em rodapé que comentam e dirigem a narrativa, rejeitando os balões como forma de integração dos diálogos. A partir de 27 de setembro de 1931, Foster assume a produção da série nos dois formatos, passando a encarregar-se também da página dominical a cores. A série passa, então, a ter um sentido criativo único, com o predomínio da dimensão pictórica sobre a componente narrativa.

Não obstante a marca de qualidade e de talento deixada, ao longo dos anos, pelos vários artistas que se ocuparam de Tarzan, nomeadamente Harold Foster, deve-se destacar, por ser de inteira justiça, acima de todos, Burne Hogarth, por muitos considerado o mais famoso e o melhor desenhista de Tarzan, tendo, inclusivamente, ficado conhecido, com todo o mérito, por "Miguel Ângelo dos Quadrinhos". Hogarth tornou-se ainda célebre pelas suas numerosas obras sobre a anatomia dinâmica do corpo humano, técnica e arte que ele estudou profundamente e que aplicou também no desenho de Tarzan.

Burne Hogarth sucede precisamente a Harold Foster (que passa a dedicar-se, em exclusivo, a partir de fevereiro de 1937, à sua famosa criação, o herói medieval Príncipe Valente) na ilustração das páginas dominicais de Tarzan. Assim, a partir de 9 de maio de 1937 e durante 13 anos (apenas interrompidos durante um período de pouco mais de 1 ano), Hogarth trabalha de uma forma entusiástica e apaixonada, conferindo a Tarzan um esplendor "barroco" nunca mais atingido depois dele, expondo o herói em poses anatômicas de grande plasticidade e dinamismo.

Russ Manning foi outro importante artista dos quadrinhos que se ocupou da série Tarzan e foi, inclusivamente, de todos os autores, aquele que se manteve mais fiel ao espírito da obra de Edgar Rice Burroughs, tendo começado a desenhar Tarzan a partir do fim da década de 60, quer nas pranchas diárias, quer nas páginas dominicais.

No Brasil, a primeira história de Tarzan apareceu em 1934, no Suplemento Juvenil (edição nº31 de 10/10/1934). O personagem teve revista própria a partir de julho de 1951, publicado pela Ebal, e trazia uma foto de Lex Barker na capa. A revista seria a mais duradoura da história da Ebal, tendo sido editada, de várias formas (em cores, em preto e branco, formatinho, tamanho padrão, mensal, bimestral etc) até 1989. Em 1968, a editora lançou Tarzan-Bi; um ano depois, Tarzan Especial e Almanaque de Tarzan. Em 1971, a origem de Tarzan e suas aventuras são narradas em álbum de figurinhas. O herói das selvas inspirou diversos desenhistas a “criar” (ou melhor, plagiar) personagens como Kionga, Jambo, Tor, Tunga, Akim, Targo, Hur, Tarun e tantos outros.
A EBAL lançou também diversas edições especiais:
  • 1973 - Tarzan, O Filho das Selvas, o livro quadrinizado por Burne Hogarth em 1972
  • 1974 - Coleção Tarzan em dois volumes (A Origem de Tarzan e A Volta de Tarzan), ilustrados por Joe Kubert
  • 1975 - Tarzan, de Harold Foster, a primeira história com o herói
  • 1975 - Coleção Tarzan/Russ Manning, em cinco volumes, com as páginas dominicais de 1968 a 1972
  • 1976 - Edição Gloriosa em dois volumes (O Mundo que o Tempo Esqueceu e O Poço do Tempo), ilustrados por Russ Manning
  • 1978 - O Livro da Selva, adaptação do romance O Tesouro de Tarzan em três volumes, com ilustrações de John Buscema e roteiro de Roy Thomas
  • 1980 - O Massacre dos Inocentes, com ilustrações do artista espanhol Jaime Brocal Remohi
  • 1890 - O Lago da Vida, com ilustrações de José Ortiz

No início da década de 90, a editora norte-americana Malibu lançou uma minissérie com cinco números escrita por Mark Wheately, arte de Neil Volks e Marc Hempel. A série não recontou a lenda clássica de Tarzan, mas retoma a história como se Tarzan vivesse nos dias de hoje, 80 anos após sua criação.
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